MORTE SÚBITA NO ESPORTE : É POSSÍVEL PREVENIR

Introdução

Nos últimos 2 anos o mundo tem assistido, podemos dizer estarrecido, a seguidos casos de morte súbita (MS) durante a prática de esporte. Depois dos casos de um atleta de futebol camaronês na Copa das Confederações de 2003 e de outro atleta de futebol no campeonato português, um novo caso que provocou comoção nacional aconteceu em outubro de 2004 no futebol brasileiro, transmitido ao vivo em cadeia nacional de televisão. Como não poderia deixar de ser, reabriu-se a discussão em torno do assunto e neste artigo procuraremos abordar, de maneira sucinta, possíveis modos de prevenção da MS.

Apesar de extremamente traumatizante, especialmente para os familiares das vítimas, dados estatísticos consistentes, felizmente, demonstram que a incidência de MS é pequena se compararmos o número de eventos fatais com o número de praticantes de esportes ou horas de atividade físico-desportiva. A literatura médica aponta como principais causas de MS relacionada com esporte em indivíduos abaixo de 30-35 a cardiomiopatia hipertrófica, a displasia arritmogênica de ventrículo direito e a origem anômala de coronárias, enquanto que em indivíduos acima de 30-35 anos a doença arterial coronariana ocupa o primeiro lugar dentre outras causas descritas. Devemos lembrar, também, outras causas importantes como o uso de doping (anabolizantes esteróides e anfetaminas), uso de cocaína, sínd. do QT longo (crianças) e condições como a concussão cardíaca (commotio cordis) que se caracteriza por um trauma sobre o precórdio que é capaz de provocar arritmias fatais e a síndrome de Marfan (estenose aórtica, ruptura aórtica, etc..)

Taylor define como M.S. relacionada com o exercício ou esporte aquela que ocorre 1 hora após o término de uma atividade física. Uma outra definição proposta seria aquela que a considera uma condição dramática, atraumática e inesperada em indivíduos aparentemente saudáveis ocorrida 6 a 24 horas após o início dos sintomas ou até 2 horas após a prática da atividade esportiva. A crítica que se faz a essa definição é que existe uma condição denominada concussão cardíaca (commotio cordis) que se caracteriza por um trauma abrupto sobre o tórax e é capaz de produzir uma arritmia cardíaca e morte súbita.

Medidas de prevenção

1 – Quanto à avaliação médica pré-participação - Toda boa avaliação pré-participação deve se iniciar por uma boa anamnese (com particular atenção para a história familiar de doença cardiovascular e MS) e um bom exame clínico com ênfase para o aparelho cardiovascular. Segundo Maron, um dos maiores estudiosos da MS, este exame deveria incluir além da história familiar e pessoal, um “screening” específico para Síndrome de Marfan. Driscoll e col. recomendam uma avaliação cardiológica minuciosa nos pacientes enquadrados nas seguintes condições :História de síncope induzida pelo esforço, síncopes não vaso-depressoras, história familiar de miocardiopatia hipertrófica e história familiar de morte súbita. Na Diretriz sobre Prevenção de MS da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte é recomendado que na avaliação pré-competição devam ser consideradas as características da população avaliada, os objetivos da avaliação e a disponibilidade de infra-estrutura e de pessoal qualificado. É importante salientar que o eletrocardiograma basal, exame de custo extremamente baixo, pode estar alterado em 95% dos casos de cardiomiopatia hipertrófica, principal causa da MS em jovens. Apesar de não haver consenso sobre qual a faixa etária em que deva se realizar o teste ergométrico, somos da opinião de que em atletas de alta performance esse exame seja mandatório (teste ergométrico máximo). O ecocardiograma deve ser reservado, apenas, para os casos em que exista alguma soprologia a esclarecer ou sintomas sugestivos de cardiopatia.

2 – Quanto à preparação do atleta - Devem ser adotadas medidas preventivas básicas tais como hidratação regular do atleta, nutrição adequada, evitar treinamentos nos horários mais quentes do dia, acompanhamento e observação dos atletas em campo por pessoal qualificado, tanto nos treinamentos como nas competições.

3 – Quanto ao local das competições/treinamento - Elaborar um plano de atendimento de emergência nos locais onde se pratica atividade física com pessoal treinado em parada cardiorrespiratória (BLS para não médicos e ACLS para médicos). Disponibilizar material mínimo necessário para atendimento a uma intercorrência médica conforme determinado na resolução 184/2002 que fala sobre Departamento médico nos clubes, incluindo todo o material necessário para atendimento a uma parada cardiorrespiratória e um desfibrilador automático portátil.

4 – Quanto à educação do atleta, comissão técnica e funcionários destacados para os locais de competições - O ideal seria que todos os indivíduos envolvidos numa competição (atletas, técnicos, prepadores físicos, mesários responsáveis por anotações (representantes de federações) e o próprio árbitro e seus auxiliares tivessem treinamento de BLS para que possam atuar prontamente em casos de PCR, antes da chegada do profissional médico ao local da ocorrência visto que o tempo é precioso. Toda providência no sentido de estar preparado para uma intercorrência é de extrema importância e, como escreveu Goldberger “quando você se prepara para uma emergência, a emergência deixa de existir”.

Marcos Aurélio Brazão de Oliveira Coordenador da Câmara Técnica de Medicina Desportiva do Cremerj Membro da Câmara Técnica de Cardiologia do Cremerj Especialista em Medicina do Esporte Mestre em Cardiologia pela UFF

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