Lula em Luanda

Angola, 03 de novembro de 2003

É imensa minha satisfação em inaugurar este encontro de trabalho. Queremos examinar aqui, com as autoridades angolanas, extenso conjunto de temas de interesse comum para nossos países. Como resultado desse esforço, estou certo de que iremos firmar novos acordos que impulsionarão ainda mais o nosso relacionamento. Gostaria de agradecer a todos os membros dos governos de Angola e do Brasil que participam desta reunião. Obrigado por seu trabalho, por seu entusiasmo e por sua contribuição para levar adiante esta já antiga e sólida amizade entre os dois países irmãos. Quero dedicar um agradecimento especial ao presidente José Eduardo dos Santos, pelo carinho que tem pelo Brasil e pelos brasileiros e pela dedicação à promoção de nossas relações bilaterais. Devo felicitá-lo muito especialmente pelo fato de nos encontrarmos hoje em um país em paz. A nação angolana, após décadas de sofrimento, pôde retomar o caminho da reconciliação nacional e da prosperidade. Com sabedoria e visão de futuro, Angola pode hoje voltar-se também para os problemas de sua região. Merece reconhecimento a ação diplomática angolana para o bom encaminhamento da questão da República Democrática do Congo, bem como no que concerne às crises em Guiné-Bissau e em São Tomé e Príncipe - nossos parceiros na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Senhor presidente, Associados de longa data, Angola e Brasil preparam-se para consolidar e aprofundar sua cooperação. Este país é hoje o principal beneficiário dos programas de cooperação técnica brasileiros. Angola é ainda o destino de parte considerável dos investimentos externos do Brasil, além de contar com sistema de crédito por parte do governo brasileiro, que tem funcionado de maneira eficiente. Por isso, nossas relações se inscrevem em um contexto de afinidades espontâneas e solidariedade recíproca. Essas circunstâncias explicam por que Angola é, desde sua independência, uma prioridade de nossa diplomacia. Antevemos um futuro de paz, democracia e desenvolvimento social e econômico. Uma Angola forte e próspera poderá ser o motor do avanço de toda uma região. O desenvolvimento de Angola se refletirá em benefícios também para o Brasil, e vice-versa. Senhor presidente, Nossos companheiros de governo tratarão hoje da cooperação em áreas como agricultura, educação e formação profissional, entre outros. O objetivo é contribuir para o processo de reconstrução nacional angolano. Na área agrícola, as possibilidades são extremamente promissoras. A EMBRAPA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, instituição de reconhecida excelência, apoiará o projeto de fortalecimento dos Institutos de Investigação Agronômica e Veterinária de Angola. Há projetos em matéria de extensão rural e agricultura familiar, áreas relevantes para o desenvolvimento rural sustentável, e, claro, para o combate à fome e à miséria. Na área de saúde, queremos trabalhar juntos em matéria de imunizações e malária. O Brasil quer também continuar a apoiar Angola no combate à devastadora epidemia da SIDA. Tenho, igualmente, grande expectativa em torno da execução do acordo, assinado há pouco mais de um ano, relativo ao apoio brasileiro à reestruturação do programa de ensino básico e médio em Angola. O Brasil entende a fundamental importância do programa angolano "Escola para Todos", e quer contribuir, conforme as orientações e prioridades do governo angolano, para seu bom encaminhamento. Senhor presidente, Os documentos que subscrevemos ao fim destes encontros marcarão os novos caminhos da nossa cooperação. Um bom exemplo é o Protocolo de Intenções na área de meio ambiente O tema, praticamente novo na agenda bilateral, poderá ter desdobramentos positivos, inclusive na área de licenciamento ambiental. Será assinado também um programa de trabalho sobre cooperação científica e tecnológica. Esse documento reflete a determinação de estendermos a nossos cidadãos os benefícios dos avanços do conhecimento. No setor pretrolífero, contemplamos a participação da Petrobrás e da Agência Nacional do Petróleo em projetos de cooperação técnica, como o levantamento de dados em bacias terrestres de produção. Há ainda um acordo a ser assinado entre o Ministério da Juventude e Desportos de Angola e o Ministério do Esporte do Brasil, projetos de apoio ao Instituto de Formação de Quadros de Administração Local (IFAL) de Angola, bem como a cooperação para a modernização do Estado. A extensa e diversificada agenda bilateral inclui vários outros temas igualmente relevantes. Temos, igualmente, ampla gama de temas regionais e multilaterais de interesso comum. Devemos demonstrar capacidade de compartilhar pontos de vista e articular posições sobre temas como comércio internacional, direitos humanos, cooperação internacional para o desenvolvimento, reforma das Nações Unidas, entre tantos outros. Dentro de poucos meses, Brasil e Angola estarão ocupando simultaneamente assentos no Conselho de Segurança, coincidência que deve ser aproveitada para aumentarmos nossa sintonia em temas relacionados com a paz e segurança internacionais, com vistas a uma participação coordenada e afirmativa em favor da solução pacífica de conflitos e do multilateralismo. Isso tudo sem falar nos interesses que nos unem na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - CPLP, que atualmente tenho a honra de presidir. Senhor presidente, Estou seguro de que nossos trabalhos, no dia de hoje, contribuirão para a construção de um relacionamento ainda mais consistente e produtivo, baseado nos tradicionais laços que unem Angola e Brasil. Eu queria dizer ao presidente José Eduardo que a nossa visita à Angola é o cumprimento de um compromisso histórico. Em primeiro lugar, do meu partido; em segundo lugar, do meu programa de governo. E essa visita visa fazer um sinal para dentro do Brasil e para fora do Brasil. Nós queremos estreitar e aprimorar, ainda mais, a boa relação existente entre Angola e Brasil. Nós entendemos que o Brasil, como um país de língua portuguesa, e economicamente mais forte, maior em população e um país mais rico, precisa fazer gestos concretos de solidariedade, fazer gestos concretos de generosidade e, ao mesmo tempo, dar sinais para o resto do mundo que o Brasil tem dívidas históricas com o continente africano, que o Brasil tem dívidas históricas com Angola, e que o Brasil quer, com gestos e com políticas afirmativas, concretas, resgatar a nossa relação que, durante tanto tempo, ficou um pouco esquecida. Eu quero terminar agradecendo ao presidente José Eduardo pelo apoio que tem dado ao Brasil em ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. E dizer ao presidente que nesses próximos três anos de mandato, que tenho como presidente da República do Brasil, dedicarei todo esforço possível, de todo o meu governo, para que a relação entre Angola e Brasil seja a mais perfeita e a mais produtiva possível. Se depender de nós, queremos fazer em três anos aquilo que, possivelmente, não tenhamos feito durante tantos anos. E isso não é nenhum favor. É apenas fazer justiça com um povo que tanto contribuiu para que o Brasil fosse o que é hoje. Muito obrigado.

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