Reminiscências inflacionárias

A celebrada estréia do Brasil no seleto grupo dos países credores do sistema financeiro internacional traz à lembrança a cantilena dos que eram contra a política econômica do atual governo e do que o precedeu, e os tempos inglórios em que a inflação cavalgava sobretudo o lombo dos mais pobres, que não tinham como dela se defender.

O presidente Lula costumava dizer: “o que tem de gente torcendo contra não é brincadeira”, embora não reclamasse, por conveniência ou por cortesia, do fogo amigo despejado pelo vice-presidente José de Alencar, que até outro dia não perdia uma oportunidade de criticar as taxas de juros.

Também integraram o time dos sabotadores verbais da política econômica o seu então ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, que chegou a anunciar o “fim da era Palocci”, e a chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, a aplicada adversária da política de ajuste fiscal que vivia se engalfinhando com o então ministro da Fazenda Antonio Palocci. O governador de São Paulo, José Serra, empresários, sindicalistas; longa é a lista dos que reprovavam a conduta do Banco Central, ora reclamando dos juros, ora queixando-se da valorização do real em relação ao dólar. Mas a derrota é órfã, e hoje ninguém mais se lembra do que dissera.

O resultado que hoje se saboreia é fruto da redemocratização do País, da alternância no poder e da observância de duras lições passadas, e suscita um retrospecto do período em que o Brasil viveu o pesadelo da hiperinflação que ilustra com perfeição o valor do arejamento de idéias que a democracia torna possível; um antídoto contra os argumentos dos teimosos desenvolvimentistas que não se cansam de apregoar as falsas virtudes do inchaço da máquina estatal.

Ao término do governo Sarney, de longe o pior da história do Brasil no que diz respeito à condução da economia, durante o qual, apesar da criação de duas moedas, cruzado e cruzado novo, e do corte de seis zeros da moeda – três de cada vez -, a inflação atingiu inacreditáveis 84,32% ao mês. Passando por um empréstimo compulsório até hoje não restituído, a calamitosa condução da política econômica pelo oligarca maranhense culminou na declaração da moratória da dívida externa brasileira.

Não fosse o impeachment, em agosto de 1992, seu sucessor talvez lhe tivesse arrebatado o inglorioso troféu. Fernando Collor assumiu, confiscou todos os depósitos em dinheiro de empresas e pessoas – era permitido sacar apenas 50 cruzeiros – e desbastou mais três zeros da moeda, recriando o cruzeiro. No governo Itamar Franco, com a inflação ascendendo a estrondosos 2.708% ao ano (os preços subiam 26,7 vezes no período), outra moeda, o cruzeiro real, foi criada, com o corte de mais três zeros. Em maio de 1994, ainda sob Itamar Franco e debaixo das vaias da oposição, foi finalmente instituído o real, que chegou a valer mais que o dólar.

Para a geração que viveu a época em que linhas telefônicas e automóveis eram considerados investimentos financeiros e a “profissão” de doleiro era prestigiada, que assistia à remarcação diária dos preços e tolamente, ostentando crachás de “fiscais do Sarney”, acreditou que a inflação poderia ser domada por um decreto congelando os preços, a estabilidade econômica não tem preço.

Embalado pelo júbilo, Lula disse, durante visita à Argentina: “Temos, todos os países, que começar a nos endividar. Não para gastar dinheiro à toa, mas para gastar com a infra-estrutura.”

Esqueceu-se o presidente que a dívida interna pública brasileira atingiu a escandalosa cifra de R$ 1,2 trilhão. Aliás, quem proferiu aquelas palavras nem parece a mesma pessoa que há um mês e pouco falava em cortar despesas por conta da perda da CPMF.

Luiz Leitão

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