Polícia detém 50 pessoas na cracolândia

Illenia Negrin
Rafael Ribeiro

A Polícia Civil de Santo André realizou no início da tarde de ontem operação conjunta na região da Vila Guiomar, bairro residencial que foi dominado por usuários de crack. Cerca de 50 pessoas foram detidas para averiguação, e um homem assinou termo circunstanciado por porte de drogas - ele carregava oito pinos de cocaína. A ação foi feita um dia após o Diário publicar denúncia de que a área foi transformada em cracolândia.

A operação mobilizou policiais civis da Dise (Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes), do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) e do 4º DP (bairro Jardim).

O delegado seccional da cidade, Guerdson Ferreira, explica que esse tipo de ação é feita na tentativa de identificar traficantes ou procurados por outros crimes. "Infelizmente, esse tipo de operação não soluciona o problema da cracolândia. O que, efetivamente, daria resultado é o trabalho conjunto entre as polícias, Prefeitura e Ministério Público. Sozinhos, apenas conseguimos dispersar os usuários por algumas horas", afirma. O tema será debatido hoje na reunião mensal do Conseg, que será realizada às 19h30, na Rua do Café, 32, Vila Bastos.

De acordo com Ferreira, todos os detidos - inclusive o homem flagrado com pinos de cocaína - foram liberados. "Ainda que fossem flagrados consumindo a droga ou carregando alguma quantidade de entorpecentes, eles apenas assinariam o termo. A drogadição é um problema de Saúde pública. O foco da polícia são os traficantes", reforça o seccional.

As pessoas abordadas circulavam principalmente pelas ruas Almeida Garrett e Teresa Cristina, que compõem o condomínio residencial IAPI, e o Viaduto Luís Meira, em frente à favela Tamarutaca, que concentra grande quantidade de dependentes químicos em situação de rua. "A maioria dos detidos tem cerca de 30 anos e rompeu os laços familiares. Encontramos até uma senhora de 60 anos, moradora do próprio condomínio, entre os usuários."

MAIS USUÁRIOS

A equipe do Diário visitou a cracolândia ontem, no fim da tarde, e constatou a presença de usuários de crack, mesmo após a operação realizada pela Polícia Civil.

"Não tem jeito, a polícia chega pela rua de cima, eles correm pela de baixo. Parece comédia", disse uma moradora de 69 anos, no local há 25 anos.

Por volta das 17h30, após os policiais deixarem o local, grupos de até seis pessoas se formavam para consumir a droga. Funcionários ainda vestidos com uniforme de empresas aproveitavam a volta para casa para se drogar.
"Se a denúncia do Diário ainda não mudou de vez as coisas, pelo menos fica a esperança", disse a aposentada. Ontem, uma viatura da GCM (Guarda Civil Municipal) foi vista fazendo ronda pelas ruas locais. "Em todo esse tempo que eu moro aqui, nunca vi os guardas-civis por aqui", apontou a senhora. (Colaborou Rafael Ribeiro)

Problema muda rotina de pais e alunos

O percurso de ida e volta até as duas unidades de ensino da Vila Guiomar, em Santo André, ficou mais tenso desde que o bairro passou a concentrar dependentes de crack, há seis meses. Pais e estudantes da EE Padre Agnaldo Sebastião Vieira e da Emeief Odylo Costa Filho são obrigados a mudar de caminho para não cruzar com os usuários, além de redobrar a atenção, com medo de assaltos.

O cenário de degradação é visível. Os dependentes químicos são vistos consumindo crack a qualquer horário. Além dos becos, praças e escadarias também são pontos de concentração. "Eles não se escondem. O pior é que somos obrigados a passar perto deles", destaca uma moradora da favela Tamarutaca há 25 anos, que prefere não se identificar.

Segundo a dona de casa, o trajeto de ida e volta para levar a neta de 5 anos à escola ficou mais longo. "Antes eu cortava caminho, mas agora fico com medo de passar pelos becos, então vou pela avenida", diz. O mesmo acontece com estudantes da EE Padre Agnaldo Sebastião Vieira. "A gente evita passar pelas pracinhas para que eles não falem com a gente nem peçam dinheiro", comenta aluna de 13 anos.

Já o autônomo Rodrigo Pracanico, 34, destaca que apesar de não ser preciso mudar a rotina, passou a conviver com o receio de assaltos. Ao levar e buscar o filho de 4 anos na Emeief Odylo Costa Filho, toma alguns cuidados, como retirar pertences de valor do carro.

Apesar de não haver concentração de usuários de drogas nas portas das duas instituições, alunos comentam que tentam seguir as recomendações dos pais. Além de mais atenção durante a caminhada, a ordem é ir direto para casa. "Fica mais perigoso no fim da tarde e na madrugada", diz aluno do 9º ano, de 14 anos.
Outra percepção é o aumento do consumo de drogas na unidade estadual. "Alguns meninos ficam fumando maconha no banheiro", destaca jovem de 15 anos.

A diretoria regional de ensino esclareceu que não há registro de ocorrências relativas a consumo de drogas no interior da escola, mas equipe de supervisores irá auxiliar a direção da unidade a intensificar as ações de concientização. (Natália Fernandjes)

http://www.dgabc.com.br/News/5975943/policia-detem-50-pessoas-na-cracolandia.aspx

 

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