Brasil em desvantagem

 

Milton Lourenço (*)


Pela primeira vez, as importações brasileiras devem ultrapassar a barreira dos US$ 100 bilhões em 2007, não sendo de admirar que cheguem a US$ 110 bilhões, segundo estimativas da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Até abril, o crescimento foi de 24% sobre igual período do ano passado, mas a expectativa é que vá mais longe.

Tudo isso se dá em razão da valorização do real em relação ao dólar e do crescimento do mercado interno, além do avanço dos produtos chineses. Segundo dados da AEB, só no primeiro bimestre de 2007, 15,8 mil empresas atuaram no segmento de importação, o que representou 1,5 mil empresas a mais do que em igual período de 2006.

A febre pela importação dá-se porque, hoje, é muito mais barato importar da China eletrodomésticos, eletroeletrônicos, material de construção, confecções e calçados, entre outros, do que produzi-los no Brasil. E não são apenas empresas brasileiras que vêm recorrendo a esse expediente. Filiais de multinacionais também vêm preferindo importar produtos acabados da China a fabricá-los aqui. Não deve demorar muito para que as matrizes dessas empresas venham a questioná-las se vale a pena manter fábrica no Brasil ou trazer tudo da China. Se concluírem por esta última opção, naturalmente, a redução do número de empregos deverá ser brutal.

Ninguém, hoje, questiona a necessidade de o Brasil importar cada vez mais porque, afinal de contas, o nível de abertura da economia ainda é muito baixo. E há necessidade não só da importação de equipamentos para a renovação do parque fabril brasileiro como de insumos básicos e de outras mercadorias que são usadas em produtos de exportação. Isso é o que justifica o crescimento em 2006 de 26% nas importações sob o regime de drawback.

Portanto, se, por um lado, o País ganha com a entrada de produtos competitivos em preço e qualidade, por outro, perde com a chegada de produtos subsidiados e a preços aviltantes, que vêm fazendo com que muitas indústrias nacionais passem a perder fôlego. Há vários meses, o governo ensaia a adoção de medidas que poderiam socorrer os setores mais prejudicados pela valorização cambial, mas a discussão segue a passos tão lentos que mais parece jogo de cena.

E, mesmo que venha por aí um novo remendo fiscal, parece que seus efeitos não teriam muita eficácia diante das condições especiais de competição impostas pela China que o Brasil aceitou sem refletir muito sobre suas conseqüências. De qualquer modo, se tanto a União como o Estado reduzirem os pesados tributos com que sufocam as empresas, já será um passo e tanto, embora insuficiente.

A questão primordial é que a indústria brasileira está em desvantagem na luta por acesso aos grandes mercados mundiais, especialmente o dos EUA e o da União Européia, porque seus concorrentes desfrutam de preferências no comércio com esses países. Quando em 2003 e 2004, o governo brasileiro trabalhou decisivamente para enterrar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), não saiu a campo em busca de alternativas. Preferiu comemorar o fracasso das negociações, como se tivesse conquistado um grande feito.

Parece claro hoje que, ainda que o governo tivesse perdido em popularidade, àquela altura talvez tivesse sido melhor um mau ou razoável acordo com os EUA do que nenhum acordo. O que se vê é que o governo norte-americano não dormiu no ponto: com o malogro da Alca, partiu para a conquista de outros parceiros. E, agora, depois de dez meses de negociações, acaba de anunciar um acordo de livre-comércio com a Coréia do Sul que deverá reduzir ainda mais o espaço do produto brasileiro nos EUA.

Se passar pelo Congresso norte-americano, o acordo vai eliminar, por exemplo, tarifas sobre têxteis e confecções, mas prevê medidas para impedir a reexportação pela Coréia do Sul de produtos procedentes de terceiros países, do Brasil inclusive.

Com o Mercosul emperrado e atolado em divergências, o Brasil, hoje, sofre as conseqüências previstas há três anos, quando se desenhou o fracasso das negociações para a formação da Alca. Seria urgente que o País saísse em busca de acordos de livre-comércio com parceiros de primeira linha. Mas ainda aqui o Mercosul atrapalha porque o impede de buscar esse tipo de acordo de maneira isolada.


(*) Milton Lourenço é diretor-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP (www.fiorde.com.br). E-mail: [email protected]

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