Túnel submerso: novo adiamento

SÃO PAULO - Imaginada pelo engenheiro Francisco Prestes Maia (1896-1965) na década de 1950, a "ligação seca" entre Santos e Guarujá, desta vez atualizada como túnel submerso, acaba de sofrer novo adiamento. Prevista para julho, a assinatura do contrato das obras foi adiada para 2015, depois de várias audiências públicas, reuniões com moradores para discutir desapropriações e negociações com os prefeitos das duas cidades e com a direção da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), que ainda defende uma alteração no projeto.

Mauro Lourenço Dias (*)

          Orçado em R$ 2,4 bilhões, o túnel submerso deveria receber pelo menos R$ 1,2 bilhão do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ficando a outra metade a cargo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Talvez porque não confie muito na capacidade da engenharia brasileira - cujo mau exemplo é a construção da pista de descida da Rodovia dos Imigrantes que não suporta o trânsito de veículos pesados -, o BID preferiu recuar em sua intenção de liberar os recursos, alegando discordância com as regras de concorrência estabelecidas pela Dersa, empresa estatal responsável pela construção da obra.           

A Dersa exigiu que 40% dos consórcios da obra ficassem em mãos de empresas brasileiras, o que garantiria a transferência de tecnologia para o País, mas o BID não aceitou o que chamou de reserva de mercado, o que levou a negociação à estaca zero. O que se especula é que o BID, que tem sede em Washington, tenha sido levado ao confronto com os negociadores brasileiros por empenho de outros países também interessados em capital para obras em infraestrutura.           

Seja como for, haverá necessidade de novas audiências públicas para debater o financiamento da obra, o que significa a possibilidade de outros adiamentos. Tanto que o início da execução da obra não tem data fixada, tendo sido adiado sine die para 2015. Com o adiamento, haverá mais tempo para a Dersa analisar a proposta da Codesp que defende nova alternativa para o traçado do túnel. Como se sabe, o projeto da Dersa prevê a destruição de 40 metros do Cais de Outeirinhos, que acaba de ser inaugurado, passando pela Avenida Perimetral da margem direita e pela linha férrea que atravessa o cais santista, o que significará a interrupção do trânsito aquaviário, ferroviário e rodoviário durante a execução da obra e problemas sem conta para a operacionalidade do Porto. 

Mas isso, por incrível que pareça, é o de menos. Com acesso previsto pela área histórica de Santos, o túnel submerso atrairá para a zona central da cidade todo o fluxo de veículos pesados em direção à margem esquerda. É pensando nisso que a Codesp defende que a ligação saia da Via Anchieta e passe por baixo do Cais do Saboó, atravessando o canal de navegação ao lado da ilha Barnabé, com chegada à Rodovia Cônego Domênico Rangoni, em Guarujá.Constitui essa uma proposta mais sensata, sem dúvida. Mas, ao que parece, no atual estágio das tratativas, a Dersa não estaria mais disposta a rever o projeto aprovado, o que é profundamente lamentável. ________________________

(*) Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: [email protected] Site: www.fiorde.com.br

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