Brasil: Um ano difícil pela frente

Se pretende crescer 5% ao ano, para gerar desenvolvimento, absorver a mão-de-obra ociosa e evitar que boa parcela da juventude que procura se encaminhar para o mercado, sem outra opção, opte por caminhos menos ortodoxos, o Brasil precisa com urgência não só investir em infra-estrutura como abandonar de vez certo isolamento comercial em que se encontra.

Milton Lourenço (*)

Se pretende crescer 5% ao ano, para gerar desenvolvimento, absorver a mão-de-obra ociosa e evitar que boa parcela da juventude que procura se encaminhar para o mercado, sem outra opção, opte por caminhos menos ortodoxos, o Brasil precisa com urgência não só investir em infra-estrutura como abandonar de vez certo isolamento comercial em que se encontra.

É verdade que os números da balança comercial crescem de ano para ano, mas é inegável também que não têm sido suficientes para fazer crescer a economia nos níveis que seriam desejáveis a uma nação emergente. Isso significa que o País necessita assinar acordos comerciais mais amplos, que garantam espaço para o produto fabricado aqui, ainda que, em contrapartida, tenha de abrir o seu mercado.

É o que mostra a experiência mundial. Se não o fizer, o Brasil corre o risco de ver mercados atraentes como o norte-americano e o europeu tomados por produtos de países igualmente emergentes que vêm crescendo a uma taxa entre 8% e 11% ao ano.

O problema é que o cenário já não parece tão favorável como nos últimos tempos, pois os possíveis parceiros mostram-se muito mais exigentes. É o caso da União Européia, que defende a inclusão de cláusulas trabalhistas e ambientais nos próximos acordos. E ainda ameaça firmar acordos de preferências com a Índia e a Associação das Nações do Sudeste da Ásia (Asean), que inclui Cingapura, Indonésia, Malásia e outros sete países.

O que fazer? Não é tarefa fácil essa de chegar a acordos entre grandes blocos — até porque os interesses de cada país variam muito —, mas a saída passa por caminhos que países emergentes de maior sucesso já trilharam: oferecer taxas de câmbio atraentes, estabilidade aos investimentos externos e subsídios generosos, além de incentivos às exportações. Parece muito? Pode ser, mas, se nada fizermos, só irá crescer o tamanho do fosso que nos separa dos países desenvolvidos.

Já não vivemos mais o tempo das idéias generosas, como o Plano Marshall, que ajudou a reconstruir a Europa no pós-Guerra, ou da Aliança para o Progresso. O que domina as superpotências nas cúpulas mundiais é um pragmatismo extremado.

Por isso, é provável que as novas negociações para a abertura do comércio no âmbito da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), acabem em fracasso, o que seria extremamente lamentável — e até trágico — para o Brasil, grande exportador de alimentos. Até porque, embora o governo Bush esteja se empenhando em ressuscitar essas negociações, o novo Congresso norte-americano, sob a maioria do Partido Democrata, de oposição, mostra-se muito mais reticente em relação ao livre comércio.

Não bastasse isso, a presença do presidente venezuelano Hugo Chávez no Mercosul constitui um novo obstáculo para a retomada das negociações para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Sem contar que os próprios países do bloco sul-americano também não conseguem superar suas divergências sobre o que deve ser incluído numa possível pauta de negociação com os EUA.

Para piorar, o governo norte-americano não abre mão de incluir, numa possível renegociação, temas trabalhistas e critérios ambientais, assuntos que, ao tempo do presidente Bill Clinton, contribuíram decisivamente para travar qualquer tentativa de acordo comercial com os países sul-americanos.

Para agravar ainda mais o quadro, o Congresso norte-americano, ao aprovar a lei que prorroga o Sistema Geral de Preferências (SGP) por dois anos, deixou aberta a possibilidade de excluir parte das exportações brasileiras de freios e autopeças que entram no país sem pagar impostos. Se o presidente Bush, a quem cabe a última palavra no assunto, decidir não estender o benefício ao Brasil, freios e parte das autopeças exportadas para lá passarão a pagar tarifa de 2,5% a partir de 1º de julho de 2007.

Enquanto isso, o governo brasileiro tenta levar adiante na OMC um entendimento para que cerca de 40 países emergentes — entre eles, África do Sul, Indonésia, Argentina e Egito — reduzam em 30% suas tarifas para produtos de outras nações emergentes. É uma boa idéia, mas que, de pronto, já encontrou a oposição da China, que é o país que mais consome produtos de outros emergentes, e da Índia, que só admite reduzir até 15%.

Em outras palavras: 2007 têm tudo para ser um ano repleto de fiascos nas negociações comerciais. Só nos resta torcer para que não seja.

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(*) Milton Lourenço é diretor-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP (www.fiorde.com.br). E-mail: [email protected]

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