A caneta de Vargas

A última reunião no Palácio do Catete não é bem descrita por motivos políticos entre os jornalistas. Esqueceram do profissionalismo e noticiaram segundo suas convicções político-partidárias.

A morte do major da Aeronáutica, Rubem Florentino Vaz, que fazia a segurança do jornalista e político Carlos Lacerda, maior inimigo do então presidente Getúlio Dorneles Vargas, colocou o oficialato jovem das três forças armadas contra o assassinato do colega. Decidiram não mais obedecer ordens dos oficiais-generais que fossem para defender o status quo.

Ora, o major manda na tropa. Major significa maior. Os generais traçam seus planos, mas quem os faz a tropa cumprir são os majores.

No Galeão, sob o comando do coronel João Adil Oliveira, estava instaurado um inquérito rigoroso que prendia ou convocava quem bem quisesse, a despeito do Ministro da Aeronáutica, Nero Moura.

Vendo desesperadora a situação. Getúlio convoca os seus ministros. A idéia era pedir um afastamento do cargo, até que o impasse se definisse.

Não funcionou, os ministros não chegaram a acordo algum, naquela fria madrugada de 24 de agosto de 1954. Terminada a reunião, ele teria chamado o seu Ministro da Justiça, Tancredo Neves e conversado bom tempo. Entregou a sua caneta, uma Parker 21 de ouro dizendo “ao amigo certo das horas incertas.”

Fato complicado. Ou já teria escrito a “carta testamento”, ou usou outra caneta.

O Museu da República é farto. Mas tem presidente que na legará nada, vergonha para um país.

A imagem que ilustra a crônica não tem por objetivo chocar. De modo algum. Serve como advertência.

Jorge Cortás Sader Filho é escritor

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