Opinião: Geração Passarinho

Por Sidnei Liberal



Foi esse o cenário que assistiu à longa trajetória política do futuro ministro e senador. Fiel servidor da ditadura que ajudou a construir, Passarinho acumulou em sua bagagem curricular a perseguição de adversários do regime e cassação de mandatos de prefeitos, seus opositores. Ministro do Trabalho, ele adotou famoso “arrocho salarial”, somente permitindo os reajustes salariais abaixo dos índices de inflação, resultando em redução histórica do poder de compra dos trabalhadores. Não era raro o enquadramento de trabalhadores em greve na Lei de Segurança Nacional, de triste lembrança, e, muitas vezes, demissão sumária.


Em 1968, quando o Congresso recusou licença para processar o deputado Márcio Moreira Alves, que fizera um discurso considerado ofensivo aos militares do poder, o governo editou o AI-5, que solidificou, de maneira duradoura, o endurecimento do regime. Passarinho foi um dos signatários do nefasto instrumento que suspendeu a imunidade parlamentar e a estabilidade dos funcionários civis e militares. Subjugou a Justiça e colocou o Congresso em recesso por tempo indeterminado. A imprensa amordaçada, a cultura posta sob censura. Sob o ministro Passarinho, vigente o AI-5, mais de cem dirigentes sindicais jogados no olho da rua.


Ministro da Educação, tendo à mão o famigerado Decreto nº477, que previa a expulsão dos alunos e professores considerados “subversivos”, Passarinho imobilizou os movimentos estudantis. Foi acusado, mais tarde, pelo Jornal do Brasil, de ter utilizado o seu decreto para punir mais de quinhentas pessoas.


Atualmente, tenta atenuar os atos do regime de que foi um dos fundadores e zeloso servidor, em realidade, uma cruel experiência antidemocrática. Agora, invoca figuras veneráveis da nossa história, desde Caxias, e oferece informações intencionalmente confusas, para tentar instigar as forças armadas contra a Democracia. Prática de sua geração, felizmente, hoje, de pijama. Denomina de insurreição armada às ações extremadas de grupos de militantes de esquerda, ardilosa tese para justificar o recrudescimento da prática da tortura e do assassinato de opositores da ditadura.

Quem mudou? Pergunta Jarbas em sua coluna do Correio Braziliense, deste dia 27 de fevereiro, a respeito do atual sentimento entre os militares. Respondamos:

É bastante clara a contradição de sentimentos entre os militares de ontem e os de hoje. Aqueles, tradicionalmente golpistas. Os de hoje, o senso de responsabilidade do seu patriótico papel de guardiões da Constituição e da soberana vontade do povo brasileiro. De defesa da honra e da integridade das nossas instituições, a começar pela Democracia. Hoje, diferente do que vem afirmando (ou desejando?) o coronel, os militares mudaram: estão situados bem à frente do aventureirismo do passado, exatamente do lado oposto do golpismo da geração Passarinho.

O cenário democrático sendo estranho e hostil ao seu mal-disfarçado revanchismo, ele exibe seu surrado anticomunismo e tenta resgatar fantasmas de seu passado comprometedor, trazendo à tona mentiras e meias-verdades sobre militantes de esquerda. Vã esperança de que hajam abandonado o sonho de um mundo socialmente justo e fraterno. Sonho que sua gente, a geração Passarinho, tentou apagar pelo terror e pelo ódio.


(Com informações de Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas).


Publicado no Portal Vermelho em 10 de março de 2007
Leia no original: http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=14579

Principal articulador na Amazônia do golpe militar de 1964, o coronel Jarbas Passarinho foi nomeado interventor no Pará. Destituiu o governador legalmente constituído e se fez eleger em seu lugar. O instrumento? A desfaçatez adotada pelos golpistas: eleição indireta pela assembléia legislativa, passada por uma “limpeza ideológica”. Davam-lhe amparo leis de exceção adrede preparadas e as baionetas. O figurino do golpe: os movimentos de outros “gorilas” que assaltaram o poder América Latina afora, braço armado lacaio da política intervencionista de Washington. O velho motivo, hoje desmoralizado: o combate ao comunismo.

E o que fez essa gente, por vinte anos? Atraso cultural; perversa concentração de renda, ainda hoje de difícil solução; inflação estratosférica; corrupção sub-reptícia com ajuda da censura imposta à mídia. No mesmo caminho, humilhação, banimento, exílio, tortura e assassinato de milhares de democratas e patriotas. Em suma, terrorismo de estado.

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