Brasil: O apagão aéreo, uma coisinha “simples”

O apagão aéreo, uma coisinha “simples”

Foi mais ou menos assim que a poderosa ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef se referiu à causa do segundo episódio do inferno vivido pelos usuários de transporte aéreo, que, na versão do ministro da Defesa, Valdir Pires, se deu por “falta de suporte técnico” .

A Agência Câmara informou que Pires teria atribuído à sorte a resolução do conflito – se é que de fato está solucionado - “por sorte, um técnico francês estava em Manaus (AM) e foi a Brasília resolver o problema”. Dar uma mãozinha, poderia o leitor, com toda razão, pensar. Fazer uma gambiarra, quem sabe.

Não, não foi simples, uma criança poderá morrer por deixar de receber um transplante de fígado porque o avião que trazia o órgão se atrasou – aliás, este tipo de transporte não deveria ser um favor de parte das companhias aéreas, mas atribuição da Força Aérea, que teria prioridade no pouso. Bem que tentaram, o governo e alguns editoriais, pôr a culpa nos controladores de vôo, de quem se disse estarem em greve branca por salários. Uma inverdade, porque a atual pane nada tem a ver com o comportamento desses profissionais.

Controladores lidam com vidas, não fariam isto, como é também ridículo e torpe passar pela cabeça de alguém que poderia ter havido sabotagem – por parte deles, presume-se. Falaram em salários, sim, mas não fizeram a tal operação-padrão por este motivo, mas para expor a fragilidade do sistema de controle de tráfego aéreo do Brasil. Causado, entre outras coisas, pela falta de controladores e de um sistema de comunicações e radares em duplicata, exatamente como há nos intrumentos das aeronaves, tudo em dobro. Agora, Lula mandou que se faça a redundância dos sistemas, o que não é do dia para a noite.

O tal apagão aéreo é só mais um dos buracos- até então oculto - em nossa infra-estrutura, que tem estradas em estado lastimável, que não dispõe de navegação fluvial em larga escala, nem de uma malha ferroviária de dimensões razoáveis; temos um sistema de saúde precário, educação e segurança idem. Justiça seja feita, a questão da infra não é descaso de um só governo, vem de longe.

Os transtornos que os viajantes têm experimentado são exatamente os mesmos por que passam todos os dias desde quase sempre os mais humildes, nas filas do INSS, nos postos de saúde e nos hospitais com macas nos corredores, tudo aquilo, enfim, que os que não têm voz aguentam quase quietos, porque, como disse o presidente Lula certa vez, “pobre não reclama, se contenta com pouco e não tem dinheiro para ir a Brasília fazer manifestações de protesto”.Errado, pobre reclama, sim, mas não é ouvido.

Já que o negócio é falar um apagões, temos o apagão político, agora que nossos parlamentares já avisaram que a reforma política não sairá. Nem a da previdência, disse Lula. Nem qualquer outra, lícito supor. O presidente e os ministros prometem o crescimento a 5%, mas não dizem como isto será possível, e a julgar pela opinião de dois economistas de larga credibilidade, o progresso não virá tão cedo, nem tão fácil.

Raul Velloso, especialista em contas públicas, diz que para o País crescer é preciso haver cortes nos gastos públicos – o que Lula já descartou-; Carlos Kawall, que é secretário do Tesouro – de opinião insuspeita, portanto – fala quase a mesma coisa: “menos impostos e contenção das despesas correntes do setor público”.

O custo das conseqüências da incompetência das autoridades – personificada na eterna postergação de soluções adequadas - será pago pela sociedade, haja vista a enormidade de ações judiciais que serão propostas pelos prejudicados.

Assim foi no caso dos remendos da operação tapa-buracos, assim será no controle da dengue, que a ONG Contas Abertas ( www.contasabertas.uol.com.br ) informa poder estar comprometido, entre outras coisas, porque “Os recursos destinados pela União ao Programa Vigilância, Prevenção e Controle da Malária e da Dengue vêm diminuindo gradativamente nos últimos anos”. É o tal “contingenciamento de recursos”, o mesmo artifício que retirou verbas do controle de tráfego aéreo, da segurança pública, do controle de zoonoses (o surto de aftosa), etc. Não é exatamente dessa economia porca que a nação necessita.

Como a esperança é a última que morre, os caros leitor e leitora guardem as palavras do presidente da Agência de Aviação Civil (ANAC), Milton Zanuazzi, ditas em 7/12/2006: "Estamos indo para o fim do ano bem. Tivemos um problema técnico anteontem, já resolvido. É um problema que não tem nada a ver com o anterior, que é um problema de falta de gente nas posições de controladores".

Luiz Leitão

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