Porto: o caos anunciado

Porto: o caos anunciado. 14903.jpegMilton Lourenço (*)  

Não é preciso dominar as artes da adivinhação para se saber que o Porto de Santos deverá viver de abril a outubro um período de caos, que vai se estender a todas as rodovias que ligam o Planalto às vias de acesso à faixa portuária. Esse é o período do escoamento da safra de grãos e açúcar e, a exemplo do que tem ocorrido em anos anteriores, não há por enquanto qualquer esperança de que as autoridades estejam planejando a implantação de um esquema de operação especial nas rodovias da região para absorver o aumento do número de caminhões em direção ao Porto.

            Para agravar a situação, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) acaba de anunciar com todas as pompas um recorde para a safra de grãos de 2010/2010. Ninguém é contrário a que o setor agrícola continue a bater recordes sucessivos de produção e exportação. O que se questiona é a falta de uma coordenação logística para que essa safra seja escoada sem que outros setores da economia sejam sensivelmente prejudicados, como tem ocorrido até aqui. E sem que a população das cidades da Região Metropolitana da Baixada Santista seja afetada em seus deslocamentos para São Paulo (e vice-versa).

            Normalmente, o Porto de Santos, por onde passam 27% do comércio exterior brasileiro, já apresenta problemas que provocam atrasos e transferências de embarques e desembarques tanto na exportação como na importação não só em razão de obras de infraestrutura, manutenção e dragagem como de problemas de operação em terminais. Com a safra de grãos, a previsão do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Litoral Paulista (Sindisan) é que mais de 15 mil caminhões circulem por dia nas rodovias locais, quando normalmente o fluxo é de 10 a 11 mil.

            Quando tem início a movimentação da safra de açúcar bruto, a situação fica ainda pior, já que o complexo portuário é responsável pela exportação de dois terços do produto. Se o período coincide com uma fase de chuvas intensas, vive-se, então, o caos absoluto. Em julho de 2010, segundo a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), administradora do complexo santista, houve dia em que 106 navios estiveram fundeados ao largo, à espera de ordem para atracação, quando normalmente esse número seria de 10 a 15. Daqueles 106 navios, 54 aguardavam para o embarque de açúcar.

            Por falta de infraestrutura, em época chuvosa, caminhões carregados com açúcar demoram pelo menos o triplo do que deveriam para descarregar suas cargas nos navios. Assim, a operação que deveria ser cumprida entre três e quatro horas chega a durar de 12 a 36 horas.

            Não é preciso dizer que esses fatores externos causam interferências na atuação de todas as empresas que trabalham no Porto de Santos, apesar do esforço que fazem para cumprir pontualmente seus prazos, evitando ao máximo a interrupção de suas operações e atividades. Obviamente, é impossível evitar eventuais atrasos e transtornos que acabam por interferir em programas de embarque e desembarque.

            O que fazer? O que se espera é que, finalmente, a Codesp implante um rigoroso sistema de agendamento de cargas para regular a entrada de caminhões no Porto. E que a Ecovias faça a sua parte, disciplinando ao máximo a descida e subida dos caminhões. Mesmo assim, ninguém duvida de que dias difíceis se aproximam para quem vive e depende das atividades portuárias.

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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC).

E-mail: [email protected] Site: www.fiorde.com.br

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