São Sebastião: porto em expansão

Milton Lourenço (*)

SÃO PAULO – Quem milita no comércio exterior há mais de quatro décadas já perdeu a conta de quantas vezes ouviu que o Porto de São Sebastião irá se transformar num grande complexo portuário capaz de se rivalizar ou ao menos desafogar o tão concorrido Porto de Santos. Talvez a definição não fosse exatamente essa – a de grande complexo portuário –, mas já nos anos 60 se ouvia muito que São Sebastião tinha tudo para se transformar num porto tão importante quanto o de Santos. Foi por essa época que lá se instalaram unidades da Petrobras.

Bem feitas as contas, a vocação portuária de São Sebastião talvez remonte ao início do século XVIII, à época em que se criou a capitania de São Paulo e Minas do Ouro, sucessora da capitania donatarial de São Vicente, ao tempo em que a febre do ouro tomava os campos de Minas e o metal precioso era escoado – ilegal ou legalmente – por Parati e outros atracadouros da região.

Foi, porém, na década de 1940 que se começou mais efetivamente a discutir planos de expansão para o Porto de São Sebastião, sem que tivessem tido seqüência. Ainda agora o governo do Estado vem de anunciar que o Porto de São Sebastião será ampliado em mais de um milhão de metros quadrados, com a abertura de concorrência pública para a instalação de oito terminais privados de líquidos, sólidos, contêineres e veículos de apoio ao setor petrolífero. As licitações deverão estar concluídas até o final do primeiro semestre de 2010.

Desta vez, estes planos de expansão têm tudo para ter a seqüência esperada. Até porque pela primeira vez no Brasil, o projeto de expansão para o porto foi discutido paralelamente com a questão dos acessos. Assim é que estão em estudo várias obras viárias que pretendem tornar São Sebastião o escoadouro natural para as empresas do Vale do Paraíba.

Para tanto, o governo do Estado pretende promover a concessão da gestão das rodovias que dão acesso ao Litoral Norte. Dessa maneira, serão as concessionárias que terão a missão de tocar as obras de duplicação da rodovia dos Tamoios e de ampliação das rodovias Mogi-Bertioga, Oswaldo Cruz e SP-55, além do contorno viário de Caraguatatuba. A carreta ou caminhão que sair de Serra Acima por uma dessas rodovias terá a oportunidade de chegar à área portuária, sem a necessidade de passar pelo perímetro urbano de São Sebastião.

Obviamente, quando tudo isso sair do papel, São Sebastião passará a ocupar uma posição superior à de hoje, de sétimo porto do País, com uma movimentação de 50 milhões de toneladas. É verdade que a natureza, do ponto de vista portuário, não foi tão favorável a São Sebastião como a Santos e os seus planos de expansão estarão sempre limitados a um único berço e muitos obstáculos topográficos, mas, hoje, a tecnologia supera muitas dificuldades e oferece a possibilidade da construção de berços artificiais em que os navios podem operar dos dois lados e docas que permitem a operação em vários níveis.

Seja como for, é de assinalar que São Sebastião tem uma grande vantagem em relação a Santos: a possibilidade de atracação de navios de grande calado e com capacidade para até 400 mil toneladas, o dobro das embarcações que operam no complexo portuário santista.

Segundo dados da Companhia Docas de São Sebastião, empresa vinculada à Secretaria de Estado dos Transportes, em 2008, 860 navios de grande porte passaram pelo porto de 5.600 embarcações, que movimentaram 833 mil toneladas, sem contar a movimentação no terminal da Petrobras, além de 49,5 mil unidades de contêineres. A previsão é que, daqui a década e meia, com todos os investimentos previstos, o porto venha a movimentar 900 mil contêineres.

Se assim for, São Sebastião, tornando-se um porto que se destaque pela qualidade e rapidez de seus serviços, com certeza, irá atrair cargas não só do pólo logístico do Vale do Paraíba, que hoje seguem para Santos, Sepetiba e portos de Santa Catarina, mas também da Grande São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro e Sul de Minas Gerais.

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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: [email protected] Site: www.fiorde.com.br

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