Análise da situação de crise

A insistência na disciplina económica para compreender a crise, ainda que seja sob a forma de uma economia política, parece-me um erro crasso a evitar e a denunciar. Assim o farei aqui brevemente, utilizando o caso daqueles que estejam, porventura, a desenvolver expectativas, esperanças e actividades em propostas cooperativistas ou tomando por certas as condições sociais que permitem actualmente algumas das populações urbanizadas imaginarem poderem viver autonomamente como indivíduos livres e auto-determinados.

O sucesso perspectivado das actividades de moralização dos grupos sociais económica e socialmente mais activos (trabalhadores e empresários, por exemplo através de formação ou coaching ou através de programas de solidariedade social como forma de promoção das marcas empresariais) de modo a estabelecer aí, nas práticas laborais, as bases para a moralização da vida pública decorre da aplicação uma perspectiva marxista, adaptada aos tempos actuais: será a infraestrutura que ao transformar-se obrigará a uma adaptação da super estrutura.

Para efeitos de polémica simplificarei dizendo que uma análise de classes actualizada (isto é, sensível às profundas transformações anti-progressivas que se tem confirmado nas últimas 3 décadas) nos levará a infirmar essa tese marxista, na medida em que – ao inverso do que acontecia no tempo de Marx – a inversão do sentido do progresso está a tornar a economia um efeito secundário da política (ao contrário da tese banalizada pelos partidos marxistas, social-democratas, democratas cristãos e conservadores actuais). Sendo que essa política é a política do privilégio e do saque – leia, por favor, Peter Oborne The Triumph of the Political Class.

Se eu tiver razão, com a autonomização do sistema político (globalizado) relativamente aos sistemas sociais (locais), a moralização das práticas locais ou é uma forma de tomar conta do destino de cada um em solidariedade com os outros que dependem do local (através de programas de solidariedade interclassista que não existem) contra os que exploram o local em nome do global - o que bem é preciso fazer, mas com grandes dificuldades práticas e teóricas – ou também pode ser uma forma de evitar o confronto (inevitável, em todo o caso) com os poderes globais e moralmente (compreensivelmente) extra sociais e mesmo anti-sociais. Foi a Thatcher que ficou famosa entre os sociólogos por ter declarado que não existia nada disso a que se chama sociedade.

A.P. Dores

2009-04-16

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