China quer estrangular as três gigantes mundiais da mineração

A Associação de Ferro e Aço da China (Cisa) está propondo um boicote de dois meses de seus membros às três grandes companhias produtoras mundiais de minério de ferro, acusadas de se aproveitar de uma situação de monopólio.

Segundo informação do portal oficial estatal chinês, em uma reunião realizada a portas fechadas, a Cisa calculou que as atuais reservas de minério de ferro são suficientes para dois meses e estimulou as siderúrgicas a "não comprar das três grandes mineradoras mundiais durante dois meses, para boicotar a atitude de monopólio".

As gigantes mundiais da mineração são a brasileira Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e as anglo-australianas Rio Tinto e BHP Billiton, com as quais, as siderúrgicas de todo o mundo negociam a cada ano os preços da matéria-prima, vigentes até 31 de março do ano seguinte.

A Vale do Rio Doce (CVRD) tem uma fatia de 32,8% do mercado, a BHP Billiton 15,1% e a Rio Tinto 18,6%. O minério de ferro é um dos principais componentes do aço, um material insubstituível para a indústria automobilística, da construção civil e também da produção/fabricação de inúmeros bens de consumo.

Na Ásia e na Europa, as siderúrgicas desferem, cada vez mais, severas críticas às exigências das três gigantes mundiais do minério de ferro, que “tentaram impor fortes altas nos preços este ano, o que os compradores consideram abuso de posição dominante”.

Recentemente, a BHP Billiton anunciou que não pretende fixar mais os preços para um período anual para vários clientes asiáticos, e sim para prazos mais curtos, o que acabaria com o antigo sistema em que o preço do minério era acertado apenas uma vez por ano, passando a reajustes trimestrais.

O atual contrato sobre os preços venceu em 1º de abril. Mas os clientes chineses preferem contratos a longo prazo, que limitem as flutuações de preço.

Segundo o portal oficial chinês, a Cisa estima que há 75 milhões de toneladas de minério de ferro armazenados nos portos chineses. Em 2009, as negociações entre os gigantes da mineração e as siderúrgicas chinesas fracassaram pela primeira vez em décadas.

A Austrália acha que a China não deve interferir no mercado de minério. O ministro australiano do comércio, Simon Crean, disse, em Nova York, que “É preciso deixar o mercado determinar o preço. Não se pode ficar emitindo ordens em termos de restrição de oferta".

O jornal estatal chinês Securities Times informou que a Cisa pediu que siderúrgicas e traders domésticos não importem minério de ferro das anglo-australianas Rio Tinto e BHP Billiton e da brasileira Vale durante dois meses.

Na Europa, a Eurofer denunciou à Comissão Européia, que fiscaliza a concorrência na União Européia (UE), "fortes indícios de coordenação ilícita" entre as três gigantes da mineração para impor aumentos de preço "injustificáveis".

O diretor-geral da Associação Mundial de Produtores de Aço, Ian Christmas, disse que havia "uma necessidade urgente de que as autoridades da concorrência o mundo examinem o mercado do minério de ferro e o comportamento das três companhias que o dominam".

O estabelecimento de preços trimestrais para o minério de ferro é um sistema mais transparente que a atual prática anual de marcação de preços e pode evitar caos no mercado, teria afirmado um alto executivo da Vale.

A Vale e a BHP Billiton convenceram siderúrgicas do Japão a comprar minério de ferro em um sistema trimestral de preços a partir de 1º de abril, sinalizando o fim da prática anual de estabelecimento de preços que analistas afirmavam que custava às mineradoras bilhões de dólares em receita perdida.

Uma mudança definitiva do sistema precisa do apoio da segunda maior produtora da commodity, a Rio Tinto, enquanto a China, maior compradora mundial de minério de ferro, tem mostrado forte oposição ao novo sistema.

A brasileira Vale, em particular, parece estar vivendo um inferno astral. A Justiça Global está anunciando, para os dias 12 e 15 de abril, no Rio de Janeiro, o 1º Encontro Internacional de Populações, Comunidades e Trabalhadores atingidos pela política agressiva e predatória da Vale.

A convocatória enfatiza que a Vale, dona que quase todo o minério de ferro do solo brasileiro, é hoje uma empresa transnacional, que opera nos cinco continentes, explorando os bens naturais, as águas e solo, precarizando a força de trabalho dos povos em todo o mundo

A convocatória está sendo feita por organizações e movimentos sociais e sindicais do Brasil, Canadá, Chile, Argentina, Guatemala, Peru e Mocambique. Assinam a convocatória, entre outras, as seguintes entidades: Campanha Justiça nos Trilhos, Movimento pelas Serras e Águas de Minas, Comitê Mineiro dos Atingidos pela Vale, Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul, Rede Justiça Social e Direitos Humanos, Rede Brasileira de Justiça Ambiental, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Movimento dos Atingidos por Barragens, Instituto Latino Americano de Estudos Sócio-Econômicos, Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos, Sociedade Paraense dos Direitos Humanos, Instituto Madeira Vivo, Movimento de Mulheres da Amazônia, Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense, Sindicatos Metabase, Brigadas Populares de Minas Gerais, Justiça Global, Assembléia Popular Nacional, Jubileu Sul Brasil, Grito dos Excluídos Brasil, Grito dos Excluídos Continental, FASE Amazônia, Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias dos estados do Maranhão, Pará e Tocantins, CUT Maranhão, entre outras.

ANTONIO CARLOS LACERDA

PRAVDA Ru BRASIL

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