China à espera do Brasil

 Milton Lourenço (*)

O saldo da balança comercial (exportações menos importações) em 2008 deve recuar de US$ 40 bilhões para US$ 31 bilhões, em função do crescimento das importações, segundo a previsão dos analistas. Portanto, se o superávit comercial do Brasil registrado entre 2003 e 2007 foi o principal responsável pela valorização do real diante do dólar, é de imaginar que, até o final do ano, a moeda norte-americana recupere o seu fôlego, facilitando a vida dos exportadores brasileiros. Certo? Nem tanto.

Afinal, há uma série de outros fatores que vêm contribuindo para a valorização do real. Como se sabe, o mais importante é o desempenho das commodities (petróleo, minério de ferro, cobre, zinco, estanho, café, soja, milho, cacau, açúcar etc.) exportadas pelo Brasil. O minério de ferro, por exemplo, que, no ano passado, foi responsável por 7% das exportações nacionais, ou seja, o equivalente a US$ 160 bilhões, terá um reajuste médio de 65% em 2008. Isso representa um estímulo muito forte para que o real continue valorizado.

O preço da soja, que ocupa importante parcela nas vendas externas do Brasil, também segue em ascensão, a exemplo de outras commodities (matérias-primas ou alimentos que têm cotação diária em bolsa de mercadorias). Tudo isso contribui para dar um fôlego-extra ao real, ainda que as importações sigam em ritmo vigoroso.

Além disso, muitos investidores vêm aproveitando a taxa básica de juros no Brasil -- três ou quatro vezes superior às que são praticadas na zona do euro e nos Estados Unidos -- para investir em papéis brasileiros. E, claro, ganhar muito dinheiro. Seja como for, isso também ajuda a valorizar o real.

Com o dólar em baixa, projeta-se que o Brasil deve registrar uma expansão de 5% em 2008, o que quer dizer que o País continuará a gerar empregos, senão em larga escala, ao menos para atender a boa parte da demanda.

Com o real valorizado, presume-se que os investimentos em bens de capital continuarão em alta, acelerando o ritmo das importações, já que hoje empresas de diferentes setores desembolsam menos reais para ter acesso a inovações tecnológicas. Isso significa a renovação do parque industrial nacional e a garantia de saltos de produtividade e eficiência. Portanto, não há por que condenar o aumento das importações, que só foi possível graças à maior abertura da economia.

Pelo contrário, é preciso olhar com otimismo as vantagens representadas pelo aumento das importações, especialmente as de bens acabados e bens intermediários, que chegam aqui a preços menores que os praticados no mercado interno. É verdade que, com esses equipamentos, chegam outros que não trazem inovações tecnológicas nem ajudam a aumentar a competitividade da indústria brasileira. Não é preciso dizer que a maior parte desses equipamentos é made in China.

Está claro que esse tipo de importação pouco benefício traz ao País, pois, além de gerar empregos lá fora, prejudica o mercado interno e a indústria nacional, além de o governo arrecadar menos, pois, muitas vezes, chega aqui subfaturado ou estimulado por isenções fiscais em seu país de origem. Mas, por outro lado, constitui uma alternativa a que as indústrias recorrem para compensar parte dos efeitos negativos do câmbio desfavorável às exportações.

Além disso, se hoje costuma-se olhar a China com certa prevenção, não se pode esquecer que o imenso mercado chinês está aberto ao produto brasileiro. É certo que as exportações chinesas para o Brasil crescem em ritmo muito superior às importações, mas é preciso ressaltar que, em meio à retração da economia anunciada em função do desastre imobiliário nos Estados Unidos, essa é uma das poucas nações que resistem e continuam a crescer. E, portanto, a consumir em razão da melhoria do padrão de vida de grandes camadas de sua população. Tratando-se da China, sabe-se que esses números são sempre superlativos.

Há, portanto, um mercado imenso a explorar. O que falta é o Brasil, por meio de seus organismos oficiais e suas lideranças empresarias, tornar-se mais agressivo comercialmente. Além disso, o governo precisa cobrar mais do governo chinês as promessas de investimento. Só que, para isso, é necessário apresentar projetos atraentes aos empresários chineses porque ninguém vem aqui para fazer benemerência. Se as empresas chinesas estão investindo bilhões de dólares em outros países, algo deve estar errado para que haja uma prevenção em relação ao Brasil.

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Milton Lourenço é diretor-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP.

Site: www.fiorde.com.br

E-mail: [email protected]

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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