Rússia boicota reunião das Nações Unidas relativa ao Irã

A Rússia inviabilizou a reunião decisiva de ministros do exterior de seis mediadores para o Irã. A reunião deveria ser realizada para discutir a aprovação da quarta resolução do Conselho de Segurança da ONU, disse um porta-voz da Assembléia Geral.

Um diplomata dos Estados Unidos disse que os ministros representando seis países participantes das negociações para solução do programa nuclear iraniano deveriam reunir-se em New York. Entretanto, a Rússia considerou a reunião inadequada. Nem a Rússia nem a China estavam prontas para iniciar a discussão de outra decisão exigindo a imposição de sanções ao Irã, segundo informa agência AP.

A autoridade dos Estados Unidos disse que a decisão da Rússia de boicotar a reunião foi devida, em grande parte, ao discurso de Condoleezza Rice no qual a Secretária de Estado dos Estados Unidos disse que a Rússia estava-se colocando no caminho do isolamento internacional.

Enquanto isso, o presidente do Irã disse na Assembléia Geral da ONU, na terça-feira, que "o império estadunidense" aproxima-se do colapso e deveria acabar com seu envolvimento em outros países.

O Presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad disse que o terrorismo está-se espalhando rapidamente no Afeganistão enquanto "os ocupadores" ainda estão no Iraque perto de seis anos depois de Saddam Hussein ter sido afastado do poder no Iraque.

"O império estadunidense no mundo está chegando ao fim do caminho, e seus próximos governantes precisam limitar sua interferência a suas próprias fronteiras," disse Ahmadinejad.

Ele acusou os Estados Unidos de começarem guerras no Iraque e no Afeganistão para obter votos nas eleições e culpou umas "poucas potências intimidadoras" por tentarem solapar o programa nuclear do Irã.

A retórica de linha dura de Ahmadinejad não causou surpresa e ofereceu pouco em termos de concessões nas Nações Unidas, onde ele enfrenta uma nova rodada de sanções se nenhum acordo for conseguido quanto à limitação da capacidade nuclear do Irã.

Embora ele tenha reiterado que o programa do país é puramente pacífico, os Estados Unidos e outros temem que esteja voltado para a produção de urânio enriquecido para a fabricação de armas nucleares.

O Irã já está sob três conjuntos de sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas por recusar-se a suspender o enriquecimento de urânio. Washington e seus aliados ocidentais estão pressionando por aprovação rápida de um quarto conjunto de sanções para realçar a determinação da comunidade internacional, mas existe a probabilidade de enfrentar oposição da parte da Rússia.

"Umas poucas potências dadas à intimidação procuraram colocar obstáculos no caminho das atividades nucleares pacíficas da nação iraniana mediante a aplicação de pressões políticas e econômicas contra o Irã," disse ele.

Ahmadinejad também fustigou Israel na terça-feira, dizendo que "o regime sionista está num decidido declive rumo ao colapso, e não há como tirá-lo da cloaca criada por ele próprio e seus apoiadores."

O presidente iraniano é temido e insultado em Israel devido a suas repetidas conclamações para que o estado judaico seja varrido do mapa, e sua agressiva persecução de tecnologia nuclear só tem aumentado os temores de Israel.

Ahmadinejad acusou "um pequeno mas doloso número de pessoas chamadas sionistas ... (de) dominar uma importante porção dos centros financeiros e monetários, bem como os centros de tomada de decisão de alguns países europeus e dos Estados Unidos."

O Presidente israelense Shimon Peres reagiu irritadamente às críticas de Ahmadinejad. "É mais uma vez a repetição das mais tenebrosas acusações em nome de Hitler e quase anti-semitismo," disse posteriormente Peres aos jornalistas.

Ao discutir a guerra dos Estados Unidos no Iraque, Ahmadinejad disse: "Milhões foram mortos ou desalojados, e os ocupadores, sem senso de pudor, ainda estão procurando solidificar sua posição na ... região e dominar os recursos de petróleo."

Ele sugeriu que a presença de forças dos Estados Unidos e da OTAN no Afeganistão tem contribuído para agudo aumento do terrorismo e enorme aumento da produção de narcóticos.

Ele previu que a aliança não terá sucesso.

"Ao longo da história, toda força que entrou no Afeganistão saiu derrotada," disse Ahmadinejad.

Seu discurso foi feito apenas horas depois de o Presidente George W. Bush ter feito seu oitavo e final aparecimento diante da Assembléia Geral da ONU, instando a comunidade internacional a posicionar-se firmemente contra as ambições nucleares do Irã e da Coréia do Norte.

"Umas poucas nações, regimes tais como os de Síria e Irã, continuam a patrocinar o terror," disse Bush. "No entanto, seu número está crescendo menos, e elas estão-se tornando mais isoladas no mundo. À medida que o século XXI avança, algumas pessoas poderão ficar tentadas a acreditar que a ameaça recuou. Isso seria confortador. Seria errado."

A certa altura do discurso de 22 minutos de Bush, Ahmadinejad voltou-se para o Ministro do Exterior iraniano Manouchehr Mottaki e virou o polegar para baixo.

Como em anos passados, os Estados Unidos só tiveram um tomador de notas de baixo nível presente durante o discurso do presidente iraniano, disse Richard Grenell, porta-voz da Missão dos Estados Unidos nas Nações Unidas. Os Estados Unidos e o Irã não mantêm relações diplomáticas.

Durante entrevistas antes de seu discurso de terça-feira, Ahmadinejad responsabilizou as intervenções militares dos Estados Unidos ao redor do mundo, em parte, pelo colapso dos mercados financeiros mundiais.

"O governo dos Estados Unidos cometeu uma série de equívocos nas últimas décadas," disse Ahmadinejad numa entrevista ao Los Angeles Times. "A imposição à economia dos Estados Unidos dos anos de pesado engajamento militar e envolvimento em todo o mundo ... a guerra no Iraque, por exemplo. São pesados custos impostos à economia dos Estados Unidos."

"A economia mundial não tem mais condições de tolerar o déficit orçamentário e as pressões financeiras que ocorrem a partir de mercados aqui nos Estados Unidos, e do governo dos Estados Unidos," acrescentou ele.

 Trdução da versão inglesa Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme
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Author`s name Lulko Luba
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