A semana em que “Deus” morreu

Esta semana, a noção de que a decência comum e a legalidade têm alguma importância, o preceito que o estado de lei tem mais poder do que a lei da selva, foram varridos com um golpe mortal, proferido por uma mão-cheia de países que, num momento de loucura, desrespeitaram séculos de progresso no sentido de construir uma comunidade internacional baseada num estado de lei global.

Desde os tempos clássicos, a humanidade tem tentado encontrar uma identidade comum baseada em amor pelo próximo, baseado no princípio de relações entre irmãos, baseado numa compreensão e confiança mútua. Esta procura viu gerações de seres humanos apanhados num pesadelo ao longo dos séculos, em que parecia que o Bem era uma pequena ilha num mar de maldade, em que os feitos do Diabo eram muito mais evidentes do que os de Deus

Aqueles tempos escuros levaram a Humanidade numa viagem através da Idade Escura, com as migrações massivas e massacres de povos inteiros, limpeza étnica e genocídio numa escala não imaginável, através da Idade Medieval e Período Moderno, em que o Homem procurou o caminho na direcção de aquilo que era justo.

Os males da Inquisição, os anos de intolerância religiosa, deram lugar ao entendimento que novos princípios tinham de ser encontrados e seguidos, princípios mais pertos dos ensinamentos de Deus e seus profetas, deram lugar à constatação de que a Governação tinha se ser baseada em responsabilidade colectiva.

Através destes séculos, tratados de paz, e não massacres, seguiram as guerras e em 1648, o Tratado de Westphalia construiu os alicerces da Europa moderna, estabelecendo o reconhecimento generalizado da liberdade de expressão religiosa, implementando pela primeira vez a aceitação que os homens poderiam ser diferentes, mas iguais sob o mesmo conjunto de direitos humanos.

Outros tratados prepararam o caminho para a implementação da Liga das Nações e mais tarde, a ONU, reforçando esta filosofia. A Carta da ONU (1945) estabeleceu regras claras para a práctica da diplomacia num mundo supostamente multipolar. Trinta anos depois, o Acto Final da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa, assinado em Helsínquia, reconheceu as fronteiras europeias como invioláveis.

Levou a Humanidade quase dois mil anos para chegar a um estado em que foi criada uma Irmandade de nações, onde regras claras e fundamentais tinham sido aceites, proclamando que todos os seres humanos eram iguais e todas as sociedades e povos tinham o direito à nascença a viverem nos seus lares em paz.

Finalmente, tinha sido criado um estado de lei universal; finalmente, os preceitos nobres estipulados nos escritos das grandes religiões se tornaram realidade. A regra da lei, e a palavra de Deus, tinham vencido. A lei de Deus, os princípios de Deus, na terra de Deus.

Levou os governos de Clinton e Bush menos que uma década para desmantelar estes séculos de progresso e esta semana, ainda no início do Terceiro Milénio, a lei da selva voltou, varrendo quaisquer noções de que a lei internacional é vinculativo através de qualquer código de honra.

Em declarar seu apoio para um Kosovo Albanês independente, a mão-cheia de nações liderados pelos EUA, Reúno Unido, França, Itália, Áustria e Alemanha disseram de viva voz que os tratados nem valem o papel em que são escritos; estes países admitiram que nem respeitam a lei, nem a ONU, nem a sua Carta, nem qualquer preceito que as decisões devem ser tomadas numa base multilateral.

Meia dúzia de congressistas e senadores nos EUA entenderam que por criar uma Grande Albânia (que irá seguir), primeiro as Balcãs e depois o resto da Europa, seriam divididos e destabilizados durante muitos anos. Divide et impera . Por sua parte, os países europeus que seguiram os passos dos norte-americanos, ou venderam suas almas e seu carácter a Washington DC ou então entenderam que só por criar um Kosovo independente podem livrar-se da praga de refugiados kosovares e a sua nefasta influência nos países anfitriões. Não é por acaso que são esses os países europeus com maior número de refugiados kosovares.

Esta semana, soltaram o Diabo com a bênção de Washington, Londres, Paris, Berlim, Viena, Tirana, Cabul, Ankara e Roma. Que o livro da história registe esses nomes, esses países e seus governos como aqueles responsáveis por fazer o trabalho do Demónio, destruindo os nobres preceitos para os quais a Humanidade lutou tanto e por tanto tempo, nesta semana em que o “Deus” morreu.

Porém, apesar disso, não quer dizer que om Kosovo independente existe. Os cidadãos do mundo têm uma escolha – aderir à lei e dar uma mensagem clara aos governos que andam de mãos dadas com a máfia kosovar que não têm o direito de destruir o tecido das relações internacionais, ou, então, como estes, vender suas almas ao Diabo e dar as boas vindas a uma Nova Ordem Mundial gerida por gula, hipocrisia, assassínio e uma mão cheia de barões invisíveis que manipulam o resto da humanidade para servir seus próprios meios.

Timothy BANCROFT-HINCHEY

PRAVDA.Ru

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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