10 perguntas sobre a crise


Michel Collon *


1. Subprimes? O ponto de partida é uma verdadeira estafa que os bancos ocidentais ganharam uma enorme quantidade de dinheiro às custas dos estadunidenses, declarando que se não eram capazes de pagar, ficariam sem suas casas.

2. É somente uma crise bancária? Não, em absoluto. Trata-se de uma verdadeira crise econômica que começou no setor bancário, mas suas causas são muito mais profundas. Na realidade, toda a economia dos Estados Unidos vive a crédito há 30 anos. As empresas se endividam acima de suas possibilidades, o Estado se endivida também acima de suas possibilidades (para fazer a guerra) e os cidadãos são levados também a endividar-se; é a única maneira de manter, artificialmente, um crescimento econômico.

3. A verdadeira causa? Os meios de comunicação tradicionais não nos dizem nada. No entanto, as subprimes não são nada mais do que a ponto do iceberg, a manifestação mais espetacular de uma crise de superprodução que golpeia os Estados Unidos, mas também os países ocidentais. Se o objetivo final de uma multinacional consiste em despedir os trabalhadores em massa para fazer o menos trabalho com menos pessoas, se também diminuem os salários por todos os meios e com a ajuda dos governos cúmplices. A quem os capitalistas vão vender suas mercadorias, se não param de empobrecer seus clientes?!

4. É somente uma crise que será superada? A história demonstra que o capitalismo tem isso sempre de uma crise a outra com uma boa guerra de vez em quando para sair da crise (eliminando seus rivais, empresas, infra-estruturas, o que permite um bom reembolso econômico). Na realidade, as crises são também um período que aproveitam os grandes para eliminar ou absorver os mais débeis. É o que acontece agora com o setor bancário estadunidense, ou o caso do BNP que tragou a Fortis (e tudo isso apenas começou). Porém, se a crise reforça a concentração de capital em mãos de um número ainda menor de multinacionais, qual será a conseqüência? Esses supergrupos terão ainda mais meios para eliminar ou empobrecer a mão de obra e, assim, converter-se em uma competição ainda mais forte.

5. Um capitalismo sobre bases éticas? Há 150 anos que nos prometem isso. Até Bush e Sarkozy o fizeram. Porém, na realidade, é tão impossível quanto existir um tigre vegetariano. Pois o capitalismo se apóia em três princípios: 1. A propriedade privada dos grandes meios de produção e de financiamento. Não somos nós que decidimos, mas as multinacionais. 2. A competitividade: ganhar a guerra econômica, isto é, eliminar a concorrência. 3. O máximo benefício para ganhar essa batalha não basta ter uns benefícios normais ou razoáveis, mas uma taxa de benefícios que permita distanciar as empresas da concorrência. O capitalismo é a lei da selva, como escrevia Karl Marx: "O capital fica horrorizado com a ausência de benefício. Quando sente um benefício razoável, se orgulha. Com 20% se entusiasma. Com 50% é temerário. Com 100% arrasa todas as leis humanas e com 300% não se detém diante de nenhum crime".

6. Salvar os bancos? Claro! Têm que proteger os clientes dos bancos. Porém, na realidade, o que o Estado está fazendo é proteger os ricos e nacionalizar as perdas. Por exemplo: o Estado belga não tinha 100 milhões de euros para ajudar as pessoas a manter seu poder aquisitivo; porém para salvar os bancos encontrou 5 bilhões em duas horas. Muito dinheiro que teremos que reembolsar. O irônico é que Dexia era um Banco Público e que Fortis incorporou um banco público que funcionava muito bem. Graças a isso, seus dirigentes têm feito menos negócios durante vinte anos. E agora que a coisa não funciona, pedem a esses dirigentes que paguem os pratos quebrados com o dinheiro que estiveram gastando e que guardaram? Não, pedem que nós paguemos essa conta.

7. Os meios de comunicação? Longe de explicar-nos tudo isso, fixam sua atenção em assuntos secundários. Nos dizem que terão que buscar os erros, os responsáveis, combater os excessos e blá, blá, blá. No entanto, não se trata de tal ou qual erro, mas do sistema. Essa crise era inevitável. As empresas que estão quebrando são as mais débeis ou as que pior sorte têm tido. As que sobrevivam terão ainda mais poder sobre a economia e sobre nossas vidas.

8. O neoliberalismo? A crise não foi provocada, mas acelerada pela moda neoliberal dos últimos vinte anos. Os países ricos têm tentado impor esse neoliberalismo em todo o terceiro mundo. Na América Latina, como acabo de estudar durante a preparação de meu livro ‘Os 7 pecados de Hugo Chávez’ o neoliberalismo tem levado a milhões de pessoas à miséria. Porém, o homem que lançou o sinal de resistência, o homem que demonstrou que se podia resistir ao Banco Mundial, ao FMI e às multinacionais, o homem que ensinou que tínhamos que dar as costas ao neoliberalismo para reduzir a pobreza, esse homem, Hugo Chávez, não deixa de ser demonizado a golpe de mentira midiática e de difamação infundada. Por quê?

9. O terceiro mundo? Somente nos falam das conseqüências da crise no Norte. Na realidade, todo o terceiro mundo sofrerá gravemente por conta da recessão econômica e pela baixa de preços das matérias primas, provocada pela crise.

10. A alternativa? Em 1989, um famoso estadunidense, Francis Fukuyama, nos anunciava o Fim da História: o capitalismo não triunfaria para sempre, nos dizia. Não fez falta muito tempo para que os vencedores caiam. A humanidade necessita verdadeiramente outro tipo de sociedade. O sistema atual fabrica milhares de milhões de pobres, afunda na angustia aqueles que (provisoriamente) têm a sorte de trabalhar, multiplica as guerras e arruína os recursos do planeta. Pretender que a humanidade está condenada a viver sob a lei da selva é considerar-nos imbecis. Como deveria ser uma sociedade mais humana, que ofereça um futuro digno para todos? Esse é o debate que temos a obrigação de lançar. Sem tabus.


* www.michelcollon.info

Tradução: ADITAL

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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