Portugal precisa de escolher um governo da Esquerda

Vamos lá ser honestos. Bastou o boato de que o Senhor Primeiro Ministro José Sócrates iria demitir-se para Portugal ganhar o seu jogo de futebol. Até Cristiano Ronaldo marcou numa partida em que a equipa nacional marcou todos os quatro golos, incluindo um na própria baliza. Desta vez, uma escolha que re-instalasse um governo PS ou PSD seria um auto-golo nacional, uma repetição dos males dos últimos anos que levaria o país à falência total e não só técnica. Há um caminho, e um caminho só: uma viragem à Esquerda.

E vamos lá ser honestos. A Esquerda não tem sabido vender um excelente produto, face a uma comunicação social que gosta de insinuar que os principais partidos à esquerda do Partido Socialista de José Sócrates (a CDU – Coligação Democrática Unitária, composta pelo PCP - Partido Comunista e PEV - Os Verdes; e o BE - Bloco de Esquerda) são irresponsáveis, comem bebés e roubariam todo o património particular. Disparates, infantilidades, calúnias.

Não cabe a esta coluna ou colunista dizer aos portugueses de voz megafônica em quem devem votar, pois há escolhas. Porém, se os próprios partidos da esquerda não são capazes de comunicar a sua mensagem, vamos lá ser honestos. É uma escolha responsável, corajosa também, é uma escolha no futuro, em crescimento sustentável, um lançamento de ideias novas, um lançamento de ideais novos, um conceito novo de Governo. Um caminho para o futuro, esperança para as nossas crianças, luz no escuro, responsabilidade com desenvolvimento social e económico.

E vamos lá ser honestos. Depois de trinta e seis anos de governos liderados pelo Partido Socialista e o Partido Social Democrata, que levaram Portugal ao lamentável estado em que está, apesar das canções de sereia destes dois agrupamentos, qualquer voto que os reconduzisse ao poder seria mais do mesmo, vira o disco e 1,2,3, diga lá outra vez. Pois.

A maravilhosa e clarividente má-gestão destes dois cliques de elitistas destruiu a indústria portuguesa substituindo-a com praticamente nada, destruiu a indústria da pesca portuguesa, substituindo-a com o direito dos outros pescarem nas águas territoriais nacionais, destruíu o sector da agricultura portuguesa, substituindo-a com subsídios para não produzir, vergando-se de forma covarde às políticas monetárias da EU. Em troca de quê? Quem vai à fronteira com Espanha nem precisa de posto de alfândega – o terreno diz tudo, e de viva voz. E dizem que nuestros hermanos vão mal.

De um lado, desolação, tristeza. Cinzento, pardo, derrotado. Do outro lado, indústrias, terrenos cultivados, cor. Alegria, esperança, verdura.

E quem vendeu os interesses de Portugal e dos portugueses pelo rio abaixo? Não foram os partidos da esquerda, que passaram décadas, no caso do PCP, a produzirem ideias alternativas, constituindo uma oposição política responsável, sem a mania de agarrar as rédeas de poder, utilizando a abstenção, em vez do voto contra, em muitos casos para não dar o aval a péssimas políticas mas para garantir a estabilidade política quando entendeu ser esse o melhor caminho. O PCP, historicamente, não é um partido irresponsável, antes pelo contrário, tem demonstrado grande sentido de maturidade e recursos políticos profundos, tendo grandes valores humanos preparadíssimos para governar com transparência e responsabilidade.

Basta só ver os municípios controlados pela CDU para ver o que conseguem fazer com limitados recursos, sempre limitados pelos partidos PS/PSD.

Enquanto os senhores engenheiros e doutores Sócrates e Coelho embirram um com o outro, como dois fedelhos mimados que nunca se calhar pegaram numa enxada, vamos ler o relatório do Fundo Monetário Internacional, fruto do trabalho dos seus “partidos”. Os quadros são, numa palavra, nojentos.

Desemprego: terceira pior taxa na União Europeia (e todos sabemos como são quantificados os “desempregados” em Portugal. Contam todos os que não têm trabalho? Claro que não. A cifra verdadeira é bem pior). Défice externo (saldo negativo, sendo um sintoma e resultado de políticas ao longo de décadas): o quarto pior resultado em termos de percentagem de PIB; Dívida pública (nitidamente um indicador de política monetária): o terceiro pior resultado; Variação do PIB: pior taxa em 2010, quarta pior taxa em 2015; Défice orçamental (espelho de má gestão histórica): a pior taxa em 2009, 2010, e o pior projectado para 2011, 2012, 2013, diminuindo para a quarta pior taxa em 2015. E estas cifras não se referem a este momento mas são projecções para os próximos cinco anos, até 2015.

Será que os portugueses querem continuar a sofrer? Quando o monarquista francês Joseph-Marie de Maistre (1753-1821) disse “Cada povo tem o governo que merece”, não estava referindo a Portugal duzentos anos mais tarde, mas quão certeiras as suas palavras. Deveras, a continuação de governação PS/PSD, depois de tudo que (não) fizeram, faz lembrar uma monarquia de interesses oligárquicas para servir cliques de elitistas que se enriqueceram enquanto o povo deslizava cada vez mais na miséria, criando uma sociedade injusta, bipolar e terceiro-mundista com ricos e pobres e uma classe média desmoralizada e derrotada.

E falta de esperança no futuro. A cada acção, há uma reacção. E a reacção às acções deste modelo de governação destes dois partidos, não há cinco anos, nem há dez, mas há trinta e seis, resulta na realidade nua e crua enfrentando e confrontando cada um(a) d@s jovens portugueses: uma altíssima percentagem se encontra desempregada, sem contar nas cifras do desemprego, nem tendo direito a qualquer subsídio, e mais que metade vivem ainda com os pais.

Que futuro para um(a) universitári@ português? Entrar no mercado dos call centers e na geração dos 500 Euros? Ou estudar mais dois anos (a pagar) pelo mestrado integrado e a seguir descobrir que tem habilitações a mais para qualquer emprego? Que futuro para um(a) investigador(@) português, quando o FCT exige a apresentação de comunicações escritas que é impossível de realizar, fornecendo um clima de manipulação de dados e de estratégias cosméticas só para chegar à próxima bolsa?

O que esperar de uma espécie de política que extingue o Instituto de Seguros de Portugal, integrando-o na CMVM e no Banco de Portugal, seguindo um modelo que quase nenhum outro país postula e nem sequer informando aos seus trabalhadores sobre seu futuro, isso meses depois dos altos custos de uma mudança de edifício e de uma remodelação?

O que esperar de uma política económica cega que segue a linha “mais IVA iguala mais receita”? Não é preciso ser um cientista de física quântica para aperceber-se que esse tipo de medida funciona no papel e talvez até no claustro da Faculdade mas que de facto envia ondas de choque pela economia abaixo, fazendo encolher a despesa familiar, reduzindo a circulação de capital e tendo por fim o efeito contrário: um agravamento da situação com menos receitas e mais desemprego.

Basta de políticas cosméticas, baste de decisões tomadas por académicos em escritórios praticando políticas de laboratório. Outro visionário do passado, George Bernard Shaw, disse “Quem pode, faz. Quem não pode, ensina”. O problema é quando os académicos têm a mania que podem. Vejamos as políticas seguidas por esse comboio de adiantados mentais ao longo das últimas décadas e vemos uma série de más políticas mal implementadas, sem qualquer fio de governação entre um executivo e outro. Chama-se a política do shredder… ou triturador de papéis.

Trituradora de sociedades, de pessoas, de futuros e de esperanças, a governação PS/PSD. Desta vez, se o povo português virar as costas à Esquerda, depois de examinar com cuidado as políticas de cada um dos seus partidos, a CDU, mais histórica, o Bloco de Esquerda, mais recente, ou então de outras alternativas como o PTCP/MRPP, só existe uma coisa a dizer.

É uma sociedade Sadomasoquista em último grau.

Foto: messageinamatrix.wordpress.com

Timothy BANCROFT-HINCHEY

PRAVDA.Ru

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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