Berlusconi e o ódio aos imigrantes

Foram os assessores do presidente George Bush que resolveram escancarar o que todo mundo já sabia. Distribuíram entre os membros da comitiva presidencial – inclusive os jornalistas - que participou da última reunião do G-8, no Japão, um dossiê com informações biográficas dos chefes de estado presentes ao encontro.


O Primeiro-Ministro da Itália, Silvio Berlusconi, foi contemplado com esta jóia: “trata-se de um dos mais controvertidos líderes de um país conhecido por sua corrupção governamental e vícios”. E mais adiante: “um empresário com grandes propriedades e influência nos meios de comunicação internacionais, considerado por muitos como um diletante político que só chegou ao cargo por meio de sua considerável influência na mídia nacional”.


Isso é o que se pode chamar de uma monumental gafe diplomática, não pelo conteúdo, mas por ter sido divulgada oficialmente pela Casa Branca. O resto da história todo mundo sabe. O governo norteamericano teve que pedir desculpas oficiais a Berlusconi e ao povo italiano, atingido em cheio pela incompetência dos assessores de Bush.


Mas, na verdade, os dados biográficos distribuídos são até modestos em relação a Berlusconi e à sua presença na vida italiana nas últimas décadas. Berlusconi está em seu terceiro mandato e isso só se explica pelo seu poder empresarial. Ele é dono de vários canais de televisão, jornais, revistas, banco, companhias imobiliárias e de seguros, é dono do Milan, enfim – e para resumir - é a trigésima-sétima maior fortuna do mundo, segundo a revista Forbes.


No Brasil, costumavam comparar Roberto Marinho a ele, em termos de poder e fortuna. O Doutor Roberto felizmente não enveredou pelo caminho da política. Se o tivesse feito, que força ou quem poderia detê-lo? Com o poder conquistado durante o período dos governos militares, Marinho tornou-se o homem mais poderoso do Brasil. Mas preferiu agir sempre na sombra, usando sua influência em favor do candidato que lesse pela sua cartilha.


Mas isso é outra história. O objetivo da coluna é mostrar que Berlusconi é um politico perigoso que não mede esforços para conseguir seus objetivos, mesmo que tenha que passar por cima da lei ou adaptá-la a seus interesses pessoais. No dia 22 último, ele conseguiu a aprovação de uma lei de imunidade que isenta de qualquer processo penal, durante o tempo em que exercerem seus mandatos, o primeiro-ministro, o presidente da república, o presidente da câmara dos deputados e o presidente do Senado. Com isso, Berlusconi se livra de processos de corrupção que correm contra ele na justiça. Uma lei injustificável e imoral, como declara a oposição que vai tentar derrubá-la através de um plebiscito. Mas precisa de 500 mil assinaturas.


Mas não é só isso. Berlusconi é considerado hoje o maior caçador de imigrantes indocumentados, a ponto da própria União Européia pedir moderação ao governo italiano. Ele acaba de declarar estado de emergência nacional contra os imigrantes e conseguiu que o Congresso aprovasse um pacote de segurança que prevê a entrada do exército no combate direto aos imigrantes. A partir de segunda-feira, 3 mil homens estarão ocupando pontos estratégicos nas principais cidades do país, como embaixadas e consulados, prédios públicos e centro de proteção a imigrantes. Eles usarão armas e terão poderes para prender. As entidades de direitos humanos estão atentas, já denunciaram que as ações da polícia têm sido extremamente violentas na repressão à imigração ilegal.


Mas a polícia e o exército têm as costas quentes pois contam a proteção de um “controvertido líder de um país conhecido por sua corrupção governamental e vícios”.

Eliakim Araujo

http://www.guiasaojose.com.br/novo/coluna/index_novo.asp?id=1359

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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