País do Ódio: Entrevista com Haitianos Refugiados no Sul do Brasil

No branco e auto-imaginado alemão Sul brasileiro, maior reduto eleitoral de Bolsonaro, avançam há anos covardes linchamentos de haitianos sob declarado racismo. Ao mesmo tempo, avança nuvenzinha de nada menos que 40 milhões de gafanhotos que prometem arrasar as "joias" dos "excepcionais" bundas-brancas tupiniquins. "Vim ao país errado... mas não tenho dinheiro para sair do Brasil", disseram a Pravda.ru com exclusividade - e unanimidade - cinco refugiados haitianos em Santa Catarina 

 

Edu Montesanti

 

 

Esquecidos pelos noticiários brasileiros, os haitianos refugiados na região Sul do Brasil vivem uma declarada e ao mesmo tempo silenciosa guerra que os faz arrepender-se, até mesmo, de ter deixado para trás uma das piores tragédias da humanidade pós-Segunda Guerra Mundial. 

 

  "Pretos e Pobres Filhos da Puta!"  

 

Linchados e assassinados ano a ano no Brasil, especialmente em uma região que se imagina "excepcional" em relação ao resto do País, e do próprio continente. Tudo isso, em geral de maneira impune e abertamente incentivado pelo restante das sociedades locais. Afinal de contas, estão lidando com o "lixo da sociedade": os "pretos e pobres filhos da puta!".

 

Em dezembro de 2019, registrou-se mais um assassinato de haitianos: na cidade catarinense de São José aos arredores de Florianópolis (a "pacifica" e "acolhedora" cidade de "Floripa"), estado de Santa Catarina, Sul do Brasil, um casal de refugiados do pais caribenho foi morto. 

 

Menos de seis meses antes, na mesma cidade da Grande Florianópolis, outro jovem haitiano foi assassinado, atropelado apos ter sido empurrado a rodovia BR-101.

 

Em dezembro de 2016, um haitiano de 34 anos foi morto a facadas na cidade gaúcha de Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre. "Todo mundo está assustado, poderia acontecer com qualquer um de nós. A gente vem para cá para manter a vida, para trabalhar, não se mete com coisa errada, e acontece uma coisa dessas", disse um dos amigos da vítima, que lamentou ainda não poder enviar o corpo de compatriota a família no Haiti pelo alto custo do "negócio": R$ 30 mil à epoca.

 

Mas na vasta lista do ódio e da velha discriminação racial e classista que marcam o Brasil, um dos que mais chamaram a atenção pela selvageria e pelo aberto racismo ocorreu em outubro de 2015 em Navegantes, cidade catarinense vizinha de Itajaí, a 112 km de Florianópolis: um jovem trabalhador de 33 anos foi provocado e covardemente morto com 10 facadas por um grupo de sulistas tupiniquins brancos. O motivo da provocação seguida do brutal assassinato? "Haitiano não tem nada para fazer aqui!"

 

"Voltaram [após as provocações] com faca, barra de ferro, pá e voltaram para agredir a gente. Não houve uma discussão. Veio um em cima de cada um de nós quatro, e os outros foram todos para cima do meu marido, e começaram a esfaqueá-lo", relatou a esposa da vítima.

 

No ano anterior, outro haitiano na cidade havia levado cinco tiros e sobrevivido na mesma cidade, fugindo do Brasil em seguida. 

 

"Vim ao País Errado..." 

 

"Tenho amigos no Chile, na Argentina: todos vivendo bem, felizes... Vim ao país errado... Mas... não tenho dinheiro para sair do Brasil", disseram desolados, com exclusividade a esta reportagem, os cinco haitianos entrevistados anonimanente no centro de Itajaí, onde vivem com status de refugiados. 

 

Embora tenha sido insistido para que mencionassem ao menos o primeiro nome, os cinco caribenhos rejeitaram a ideia sem titubear, devido ao medo de vir a sofrer represálias do povo "sem grilo" brasileiro.

 

Simpáticos, pacíficos, super amigáveis. Gente que olha permanentemente nos olhos dos interlocutores, através de cujos olhares quais revelam, inequivocamente, o inevitável abalo no mais profundo da alma. Seres humanos que trazem o sofrimento estampado no tímido e gostoso sorriso, apesar de tudo o que a vida lhes reservou. A terra natal em ruínas. O lar e todos os sonhos e a alma implodidos. Para sempre? 

 

Conversando este repórter em um hotel de Itajaí sobre tais ocorrencias com a proprietaria (branca) do estabelecimento, eis que a dita-cuja passa a ter fortes ataques de histeria. Aos repentinos berros e murros na mesa da recepcao, sentencia: "Esses haitianos comem areia na terra deles! Nao tem nada que vir reclamar aqui!!".  

 

Recomeço: 5.526 km atrás de Cura para a Alma 

 

No dia 12 de janeiro de 2010 um terremoto de magnitude 7,0 na escala Richter atingiu o país caribenho, que já vivia uma guerra civil, deixando nada menos que 316 mil mortos segundo dados do governo local, além de inúmeros feridos e desabrigados, entre cerca de 280 mil residências e estabelecimentos comericais completamente destruídos. 

 

A destruição causada pelo terremoto foi total no Haiti, então. Um país, literalmente, abaixo. Para piorar a situação, outros dois terremotos atingiram logo em seguida o território haitiano, de magnitudes 5,9 e 5,5 nos dias seguintes. Outro resultado, é claro, catastrófico: mais de 100 mil mortos, ao menos 250 mil feridos. Após os três terremotos, o país de quase 10 milhões de habitantes  já contava ao menos um milhão e meio de desabrigados. E um aumento vertiginoso da pobreza em uma nação historicamente instável, politicamente. 

 

A principal resposta "humanitária" (sic) das potências regionais chegaria ao Haiti nos anos subsequentes, Brasil (de Dilma Rousseff) e Estados Unidos incluídos: a militarização "pacífica" (sic) do Haiti. No mitológico Brasil "historicamente pacífico" (sic: a completa dizimção do povo paraguaio na segunda metade do século XIX é simplesmente "pulada" quando contada nossa história, excluída dos livros da Biblioteca Nacional e das questões dos vestibulares para os calouros e candidatos à obtenção/compra do diploma dos idiotas, para nem se mencionar a histórica guerra interna no país que, ano a ano, e considerado o que mais assassina em todo o mundo), terra do Zé Carioca, do carnaval, da bunda da mulata e do (fracassado) "futebol" (sic) onde "tudo é música" (sic) e a "mais profunda alegria" (sic), "hospitalidade" (sic) e "calor humano" (sic), a ocupação "humanitária" (sic) no Caribe foi motivo de "orgulho nacional".

 

Nos anos subsequentes ao terremoto, inúmeros refugiados haitianos percorreram nada menos que 5.526 km, de ônibus, para chegar à região Sul do Brasil. E durante o trajeto, sofrimento indizível. A principal tormenta na viagem "redentora" começa na entrada ao "festivo" e "generoso" Brasil, cujo povo é "excepcional" em relação aos vizinhos: melhores em tudo!

 

O ingresso a solo tupiniquim configura-se no pior dos sofrimentos atrás de, mais que tudo, cura para a alma. Uma vez Brasil adentro, um novo recomeço de vida inicia-se, é o que pensam os haitianos rumo ao branco e "civilizado" Sul brasileiro. 

 

Até chegar ao destino, excessiva exploração da mão-de-obra e muita humilhação racial. Mas, imaginam os refugiados, vale a pena o sacrificio para, enfim, encontrar paz e reedificar suas vidas.

 

"Você NãÉ Ser Humano, É um Macaco!": Escravidão Contemporânea

 

"Não vou lhe pagar porque você não é ser humano! Você é um macaco!", berrou no quintal de sua propriedade, testemunhado por este repórter, um bem conhecido endinheirado da cidade catarinense da cidade de Brusque a um refugiado haitiano que,  simplesmente, não acreditava no que escutava em maio de 2015. 

 

Foi realmente de chorar. E de se revoltar profundamente. Uma das maiores vergonhas contra a humanidade presenciadas por este jornalista: o cidadão caribenho havia passado uma semana, também testemunhada por este que escreve, cortando o vasto matagal - que incluía um grande canavial - do desavergonhado escravocrata contemporâneo desde bem cedo de manhã, até o final do dia. E executado um belo trabalho. Intenso. 

 

Naquele momento, realmente, este jornalista teve profunda vergonha de ser humano. Para nem se mencionar cidadão brasileiro...

 

O máximo que recebia em termos de alimentacão, era uma marmita a qual devorava sentado no chão atras da propriedade do barão brusquense. Cena outrossim vergonhosa, revoltante. 

 

Jamais remunerado. Apenas pela cor da pele. Certamente também, pela vulnerabilidade de ser refugiado em um país sem lei, onde pode quem tem mais. Pais que vive sobre o clamoroso mito de possuir uma sociedade aberta, generosa, livre de discriminacão. 

 

Brasil, uma das maiores mentiras do mundo. Sempre foi assim. Valendo apontar que estamos retrocendendo, com este caso, ao início do ano de 2015: Partido dos Trabalhadores no poder, quando era, então, considerado por petistas um escândalo, crime contra a honra e a segurança nacional toda e qualquer crítica à sociedade brasileira que, então, votava seguidamente nos petistas gerentes de turno desta semicolônia tupiniquim. Não faltava repressão. Sobrava patrulhamento petista.

 

2015 foi, justamente, o ano que passou a haver debandada de haitianos do Brasil. Embora deixar o pesadelo sul-americano chamado Brasil, desde tempos petistas na presidência, tem sido privilégio de poucos haitianos.

 

No dia seguinte, este repórter - que discretamente havia pego o número telefônico e endereço do haitiano antes que este deixasse o local humilhado, e sem o justo pagamento pelo tão sacrificado trabalho - foi até a casa do cidadão caribenho. Um apartamento bastante simples, onde vivia com duas irmãs, tambem haitianas refugiadas. 

 

Foi-lhe oferecido acompanhamento junto a polícia, a fim de servir como testemunha dos gravíssimos crimes contra ele. Mas a família, extremamente gentil tanto quanto pobre, recusou embora profundamente agradecida pelo gesto de solidariedade: o estado de medo tomava conta dos cidadãos caribenhos no Brasil. Confiança na polícia? Zero.

 

"Jogam Nossa Comida Fora, Peidam na Nossa Cara, Batem na Nossa Cabeça"

 

Intervalo de trabalho em Itajaí, hora da refeição: não poderia haver horário mais morbidamente inadequado para se ferir a dignidade humana. Embora a violação da honra seja parte integrante de toda a jornada de trabalho, bem como em fortuitos (e aterrorizantes para os estrangeiros em questão) encontros pelas ruas das cidades entre haitianos e "cidadãos" do Sul brasileiro, maior reduto eleitoral de Jair Bolsonaro, a Besta Neonazista. 

 

"Jogam nossa comida fora, peidam na nossa cara, batem na nossa cabeça, no nosso rosto, fazem piadas contra nós", foram alguns dos relatos dos haitianos refugiados entrevistados por este jornalista, sobre o que acontece na hora do alomoço no localde trabalho. O que ocorre praticamente durante toda a jornada laboral, "um verdadeiro inferno" segundo eles.

 

Os cinco foram tambem unânimes em afirmar que a sociedade brasileira está bem distante de possuir as características propagandeadas, isto é, acolhedora, solidária, igualitária.

 

  "Eu Sou Alemão!": 40 Milhões de Gafanhotos e um Prato na Mesa dos Haitianos

 

Ao mesmo tempo que seguem os graves crimes contra os refugiados do Haiti - apenas para ficar com alguns poucos exemplos envolvendo cidadãos deste país já que o Brasil, especialmente em sua região Sul, abunda em ocorrências desta mesma natureza contra outros negros, nacionais e principalmente de diversas regiões do mundo, como da África -, uma nuvem de gafanhotos está viajando sobre território argentino a pouco mais de cem quilômetros exatamente do branco e "excepcional" Sul brasileiro. Avançando heroicamente! Rumo para onde muitos brazucas adoram ostentar, "sou alemão!", enquanto humilham e assassinam brutalmente pela cor de pele.

 

Imaginam-se "alemães" enquanto, segundo um cidadão realmente alemão em conversa com este repórter na cidade catarinense de Pomerode, bem proxima de Itajaí, "esses brasileiros aqui que se acham alemães, mas não tem nada a ver conosco". O povo alemão é maravilhoso, este jornalista é apaixonado pela cultura alemã, a qual não merece ser baixamente sequestrada por um bando de imbecis no Sul do Brasil, vergonha mundial. Impunemente.

 

Enfim, os milhões de insetos amigos prometem arrasar as "joias" dos "civilizados" sulistas nos próximos dias, gerando nestes dias pavor nos bundas-brancas tupiniquins. Pois este jornalista já se apressou, entusiasticamente, a fazer uma promessa a Krishna: que os 40 milhões de gafanhotos entrem de uma vez, façam um bom trabalho em terras tupiniquins e a partir deste momento, a cada haitiano que cruzar o caminho deste comunicador, ser-lhe-á pago um almoço - com direito a suco, sobremesa e um forte abraço.

 

Realmente, é profundamente repugnante, não há como ouvir os relatos dos haitianos refugiados sobre nossos compatriotas nazistas, eleitores de Bolsonaro, somados aos assassinatos e a forma como eles se dão se já não bastassem as mortes violentas em si, sem pedir-lhes desculpas como brasileiro e como ser humano. Vergonha até para os nobres alemães (os genuínos).

Foto: By Mass Communication Specialist 2nd Class Candice Villarreal - http://www.navy.mil/view_image.asp?id=80042, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=9019080

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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