Daniel Enriquez – Gerente Esportivo Do Club Nacional De Football De Montevidéu

O Club Nacional de Football acabou de comemorar 111 anos o dia 14 de Maio de 2010. Daniel Enriquez é Gerente Esportivo do clube desde 2005 tendo conquistado como jogador o Campeonato Sul-Americano Júnior de seleções na Venezuela 1977, a 4ª vaga no Primeiro Mundial Júnior na Tunísia deixando na reserva um herói do Grêmio, o Hugo De León. Além disso Campeão da América e do Mundo 1980 – 1981 com o Nacional. Confira agora o histórico dentro da grande área e fora do tapete verde.

PRAVDA: Se não me engano, do lado do José Luis «Pete» Russo foram os dois zagueiros titulares daquela seleção uruguaia juvenil na capital venezuelana. Quais as lembranças daquele Sul-Americano de Caracas e logo a Primeira Taça do Mundo Juvenil na Tunísia?

ENRIQUEZ: Vamos ver, cheguei no Nacional em 1973, houve um treino-teste do clube e tem alguma coisa a ver com a história do ano 1977 pois nessa turma também encontrei o Alberto Bica, o ponta direita da seleção juvenil uruguaia dessa geração, os dois nascidos no ano 1958. Aquele treino ocorreu numa quadra na frente do Cilindro Municipal, palco dos sucessos da seleção brasileira de basquete adulto no Sul-Americano de 1971. Felizmente ficamos os dois e daí para frente a gente continuou no clube na 6ª Divisão, 5ª Divisão e já na 4ª Divisão (categorias de base) fomos convocados da seleção juvenil uruguaia. O Alberto Bica e eu, éramos destaques desse time do Nacional, ele ponta direita e no meu caso zagueiro. Neste comentário tentei envolver esta história toda pois junto com Alberto, os dos conquistamos o título de Campeões de América e do Mundo perante o Internacional de Porto Alegre (05 de Agosto de 1980) e o Nottingham Forest da Inglaterra. Ancoramos na pré-seleção juvenil treinada por Dom Raúl Bentancor e como preparador físico o Professor Esteban Gesto que pela primeira vez tinha muitos jogadores vindos do interior do país. Acabamos montando uma turma boa, que jogou o Sul-Americano na Venezuela em 1977, pode ter certeza que foi a nossa primeira viagem, não tendo nessa data torneios Sub- 15 nem Sub-17, porém participar de uma seleção juvenil só poderia refletir em viagens até o interior, na Argentina ou no máximo até o Brasil. Viagem longa distancia era impossível de imaginar, fora que hoje numa Sub-20 viajam na prévia ao torneio e acabam fazendo pouso no próprio certame, como teria que acontecer sempre. Um mundo extremamente diferente ao atual.

Então, chegamos na Venezuela, posso me lembrar que na Argentina tinha aparecido o Maradona, com apenas 15 anos. É bom salientar que nós tínhamos 17 ou 18 anos. Aliás, nos ganhamos da Argentina 1 – 0 no Grupo e deixamos eles fora do Mundial e conquistamos o título vencendo aos chilenos. O que foi mesmo interessante para nós é que conseguimos classificar para o Primeiro Mundial Juvenil na Tunísia no finalzinho de 1977. Imagina só, carinhas de 18 anos que nunca tinham viajado, num piscar de olhos pegamos o avião duas oportunidades, primeiro rumo a Venezuela e logo na Tunísia, com escala prévia na Holanda treinando lá com antecedência á Taça do Mundo. Um país africano estranho pois é da faixa do Norte, não é «africano da gema», na beira do Mediterrâneo, mais turístico, bem mais semelhante ao esquema de país européio exótico do que africano mesmo. Da para entender? E no Mundial da Tunísia foi uma apresentação muito boa, alcançamos as Semis perante a Rússia, encerrando os 90 minutos de 0 x 0, logo houve tempo suplementar, pênaltis, chutei e furei as malhas, e falharam o Venancio Ariel Ramos (ponta direita) e Carlos Amaro Nadal (centro avante). Tendo perdido, ficamos com a chance do Bronze perante a seleção brasileira, fui expulso, Íamos perdendo o jogo e acabei reboleando a chuteira tendo ganho cartão vermelho mas acho que nós tínhamos perdido o objetivo que foi arvorar o caneco de Campeão do Mundo. Não dava nem para imaginar que nosso objetivo fosse viajar no Sul-Americano tentando classificar na Taça do Mundo, o nosso único alvo na Venezuela era trazer o caneco de Campeão e concretizamos, sem ficar apavorados e logo na Tunísia, na verdade, tal vez a juventude, quem sabe um outro momento do futebol, a valia da equipa, tínhamos um timaço e viajamos para sermos mais uma vez campeões. Foi perante os russos uma das Semis, um jogo super difícil, aconteceu um fato marcante no meu ver, um minuto antes do apito final do árbitro no tempo suplementar, houve alteração nos vermelhos da CCCP, entrando um goleiro extremamente alto e gigante para tentar defesas boas nos pênaltis. Acho que esse cara obstruía a cidadela toda ficando embaixo do travessão, porém acredito que foi um instante chocante para todos nós. Falhamos dois pênaltis e perdêramos a possibilidade de chegar na Final com os mexicanos. Logo veio Brasil, a derrota de 1 x 3 e fui expulso. Acho que não jogamos naquela média dos sucessos pois o objetivo tinha sumido no confronto com a Rússia. Uma experiência incrível...um mundo diferente. Hoje é difícil conquistar uma vaga na Taça do Mundo no Sul-Americano, e caso classificar alcançar ás oitavas é complicado. Aliás, nos ficamos bravos por não ter conquistado o objetivo de Campeões.

P: Jogadores dessa seleção Júnior do Brasil que logo foram destaques, lembra?

ENRIQUEZ: Quase com certeza haveria mas nós muito distante da cabeça de hoje e tendo como objetivo sermos Campeões, ficamos de olhona nossa própria tarefa, não dava para dar atenção nos rivais, éramos muito amadores, vestindo a camisa com orgulho, o mundo não era tão globalizado com agora, não dispondo da informação que a gente recebe agora. Quem sabe, a gente teve o Zico na outra metade do gramado e não sabíamos. Maradona foi um caso diferente pois ele era a vedete do Sul-Americano, o caçulo do evento, com apenas 15 anos já era famoso. Quanto aos brasileiros, até poderíamos ter jogado perante onze que logo forem famosos mas para nós eram onze brasileiros e acabou. Não conhecíamos nada do agir deles e fora isso ninguém trouxe informações para nós. Na atualidade, mergulhamos na net e qualquer um poderia ter informações dos rivais. Nessa geração só tínhamos certeza absoluta que pulando em campo íamos ter onze rivais na frente, o Brasil, a Argentina, o Chile, o Paraguai, a Rússia, jogamos e acabou.

P: Tua carreira profissional? Um treinador marcante? O melhor zagueiro-parceiro? Hugo De León?

ENRIQUEZ: Treinadores marcantes na minha vida profissional foram dois. O primeiro, Dom Raúl Bentancor. Raúl era um treinador duro. Juro que não sei qual era sua idade na hora de chefiar essa geração 1977 na seleção mas parecia um idoso e até poderia ser um quarentão. Sua disciplina, seu jeito de ser sério, foi marcante para mim no meu agir quanto tinha a ver com a disciplina e no meu dia-a-dia fora do gramado. Ele salientou sempre que era muito importante tem uma aparência ótima, o jeito de vestir formal, se por acaso alguém tivesse os cabelos compridos, acabava sugerindo que fosse no cabeleireiro. Além de ser uma pessoa dura, tinha jeito paternal, acabava sendo o teu pai, recebendo o respeito de todos nós. O outro treinador que me marcou mesmo, de jeito específico na parte táctica, foi o Juan Martín Mujica, (conquistou um pênalti no México 1970) que no Uruguai criou o sistema de marcação individual no gramado inteiro em 1980 tendo voltado da França ainda como jogador e conquistado com o Nacional 1971 a Taça Libertadores de América perante o Estudiantes da cidade de La Plata e do Mundo perante o Panathinakos da Grécia. Então, logo ter jogado na França voltou como treinador do Nacional em 1980 e conquistamos esses dois canecos. No meu caso fiquei sempre tomando conta centroavante tendo apreendido um bocado do assunto com o Juan. Tudo quanto o Raúl foi para mim fora do gramado quanto tem a ver com disciplina, o Juan foi dentro pois acabei sabendo quanto é importante a valia de uma equipa de futebol, com onze respeitando um esquema de jogo e onze concentrados tendo como objetivo vencer e aplicar a táctica que o treinador pede. Isso acabou entrando na minha cabeça pela tarefa do Juan e foi tão bom assim o ensino dele que acabamos arvorando o caneco de campeões do mundo em 1981.

Mergulhando na segunda pergunta, acho que meu par ideal no gramado foi o Juan Carlos «Cacho» Blanco, mais velho do que eu, o líbero dessa turma campeã de 1980 tendo integrado também a geração campeã de 1971. Foi o meu professor ensinando como aprimorar o estilo do carrinho indo na procura da bola nos pés do adversário, temporizando, melhorando a marcação, conseguindo enfiar o corpo de forma correta na hora de marcar. Eu era rápido e forte, o Cacho também era forte, sendo que eu mais novo do que ele saia na «caça» do rival fora da grande área e ele ficava sobrando. Sem dúvida, foi meu professor nessa profissão de zagueiro, bem mais com a experiência ganha na Espanha no decorrer de alguns anos.

Quanto ao Hugo, Hugo De León, foi companheiro na 4ª Divisão do Nacional e também dessa seleção júnior na Venezuela, tendo vindo da cidade de Rivera, na divisa com Santana do Livramento no Brasil. Foi um dos jogadores do interior que foram parte dessa pré-seleção uruguaia de 1977. Os zagueiros titulares éramos José Luis «Pete» Russo e eu, e o Hugo foi reserva. No Nacional, sempre nesse esquema, eu titular e Hugo no plantão até que eu acabei lesado entrando o Hugo como titular e daí para frente deu início essa carreira futebolística ímpar. Foi assim mesmo, infelizmente para mim (tirou sorriso mais uma vez).

P: Que tipo de lesão sofreu?

ENRIQUEZ: Foi num jogo perante o Danubio no Estádio Centenario. Tentei fazer um lance de longa distancia para o ponta esquerda Julio César «Cascarilha» Morales, olhei para ele, eu ia subindo pela faixa direita do campo, tentei fazer cruzamento, eu era ótimo nesse negócio dos cruzamentos enxutos, um jogador rival travou o meu joelho e foi um lesão importante nessa data pois agora em quinze dias a medicina poderia resolver mas antes foram três meses a reabilitação. Nesses três meses o De León «abusou da situação» e ficou com a minha vaga de titular na zaga do Nacional. Saiba que do Hugo, são boas lembranças. Foi um zagueiro vindo do interior, e todos aqueles que chegam na capital estão em desvantagem quanto ao dia-a-dia. Os que moramos em Montevidéu, temos mais experiência, mais jogos na mochila, temos vantagem mas ele foi muito inteligente e soube absorver num abrir e fechar de olhos o que Montevidéu era, se adaptando rápido ao futebol profissional, e fora isso um grandíssimo profissional. Resumindo acho que foi isso que o fez alcançar quase todos os objetivos desejados no futebol. Acho que soube como tirar partido dos instantes além de ser líder, negócio que ninguém apreende, isso faz parte dele. Ainda hoje é um dos destaques do Nacional.

P: Reconheço que Hugo tem todas essas condiçõesvocê não chegou na Gerência Esportiva do clube só por acaso, não è?

ENRIQUEZ: No meu caso, acho que tenho condições para administrar as pessoas, habilidade na hora de tirar benefício dos próprios erros, «capacidade» procurando a valia dos outros, neste caso dos jogadores, treinadores, colegas nessa tarefa que encaminhamos juntos no dia-a-dia no clube, como também é o caso dos membros das diretorias. Acho que tenho olho clínico, tentando sempre tirar benefício do melhor de todos para colocá-lo ao dispor do clube. Na hora que a gente consegue esse aprimoramento para um time, falando de jeito específico do Club Nacional de Football, da instituição em si própria, que fica sob a minha vistoria. Eu não estou apenas cuidando da tarefa dos treinadores e jogadores, também compartilho a cada semana as sessões da diretoria num intercâmbio constante de comentários tentando a cada instante interação pura e abraçando tudo quanto a gente pode abraçar.

P: Numa oportunidade alguém falou para mim que fosse amigo dos Secretários Executivos das associações e não dos Presidentes pois os Secretários ficam e as Diretorias mudam. Acha que o Gerente Esportivo de um clube teria que ficar para conquistar alvos fora as mudanças das Diretorias? Na maioria das oportunidades ficar nesse cargo, gera boas gestões e resultados.

ENRIQUEZ: Sem dúvida. Caso mudar a cada três anos aos funcionários de confiança do clube, é recomeçar mesmo e acho que não tem senso nenhum. Mais ainda, posso acrescentar o seguinte: a minha opinião também abrange os treinadores do clube, e não estou falando do caso do treinador do time adulto pois esse rende exame a cada fim de semana além de sofrer estrago que na maioria dos casos abraça um período de um ano e meio ou dois anos no máximo, seja campeão ou não. Estou me referindo aos treinadores das categorias de base pois tendo um esqueleto firme, a gente poupa tempo. No meu caso específico, acho que a minha firmeza no cargo vá de mãos dadas com o tempo que levo dentro da instituição. Cheguei no clube no ano 1999 como treinador da 3ª e 4ª Divisões. Já no ano 2000, ganhei carimbo de Coordenador Esportivo das categorias de base até 2005. São etapas que vamos completando gradativamente e acho que em 2005, estava pronto para «pular em campo» e aí fui confirmado como Gerente Esportivo, porém já são cinco anos nesse posicionamento no clube. Por enquanto, essa experiência ganha desde o início no clube, desde treinador na 4ª Divisão até hoje Gerente Esportivo tem me tornado um «homenzarrão» para desenvolver os projetos. Vamos aprofundar mais ainda, confira que em 1999, comecei com o ex Presidente, Dom Dante Iocco, logo foram 6 anos junto com o Economista Eduardo Ache (duas etapas) e agora junto com o Ricardo Alarcón mais uma etapa e meia. Com antecedência a todos eles e antes de ir a trabalho como treinador para o Japão tinha trabalhando dois anos do lado do Ceferino Rodríguez, fui para o Japão e assim que voltei o Iocco estava na Presidência. Então, acho que tem me adaptado ao esquema do clube e agora não vou falar de mim mas sim do cargo Gerente Esportivo; trata-se de um ferramental que o clube precisa tanto quanto o Gerente Administrativo, o de Marketing, o de Logística e todos quanto a estrutura do clube precisar. Todos eles teriam que ficar como parte do estafe do clube sem mudanças no decorrer do tempo além das alterações que houver nas Diretorias pois o presidente entrante precisa usar o ferramental que o clube dispõe, que no final somos todos nós, tentando desenvolver uma gestão melhor.

P: Acabou de morrer o ex zagueiro internacional Emilio «Cococho» Álvarez, jogador com mais participações em campo vestindo a camisa do Nacional, 511 oportunidades. ¿Reflita quanto ao assunto?

ENRIQUEZ: O «Cococho» foi demais, pode ter certeza disso. Homem recorde, sem dúvida. É uma peninha mesmo que pessoas como ele tivessem aberto os olhos á luz faz setenta anos e não hoje. Percebe? Esses grandes jogadores que foram glórias, acabam morrendo numa situação econômico-social que todos aqueles que os apreciamos gostaríamos tivesse sido absolutamente diferente. Na atualidade, um jogador estréia no time e logo após 6 meses ele já foi embora do clube, como poderia acontecer daqui a pouco com o zagueiro Sebastián Coates (1,96 m) pois o ambiente esportivo uruguaio já fica pequeno para ele, a cabeça voa muito alto, os agentes estão fazendo uma forcinha tentando a venda e até porque o clube precisa dessa verba do passe para continuar respirando. São inúmeros motivos que impedem ter o Coates no time adulto do Nacional no decorrer de três anos. Aliás, na hora de dar uma repassada no histórico do «Cococho» no clube, um cara humilde e tanto, tendo reduzido as chances de concretizar passes que tivessem refletido na conta corrente dele, sendo um grande jogador da gema e ficando os últimos anos da vida dele sem sufoco financeiro, da para ficar triste. Ele jogou nos decênios de 1960 e 1970, época difícil para poupar uma verba de olho no futuro após ter pendurado as chuteiras. Na maioria dos casos não tinham se preparado para a aposentadoria. Tem glórias com o «Cococho» que não alongaram os olhos planejando o dia depois da despedida do gramado, tentando ficar envolvidos no ambiente do futebol ou seja qual for mas com sucesso.

P: Nacional e você estiveram na liderança quanto ao cargo de Gerente Esportivo no Uruguai. Quais são as funções? Mexe no assunto de imprensa, trabalhade forma coordenada com a Diretoria? Com os jogadores? Com o treinador e sua turma?

ENRIQUEZ: Vamos lá. O Gerente Esportivo tem como primeiro alvo planejar, coordenar, executar, mesmo sendo ingrato e admito responsabilidade dessa execução, e no final controlar. Levo conta desse negócio de executar mas também transfiro. Por exemplo, caso tivermos um treinador das categorias de base que deixa um jogador fora da turma e ele me disse porque aconteceu, e eu apoio o treinador pois eu acredito que acabei escolhendo os melhores treinadores para esses cargos.No último degrau dessa escada está o controle que eu faço. Acho que o esqueleto do clube é forte nas categorias de base e claro que interveio nos assuntos envolvidos com elas. Sempre assisto aos jogos das categorias de base, fica claro? Fim de semana retrasado foram três jogos do Nacional na 4ª, 5ª Divisão e Sub- 16 e no caso da 4ª Campeã, o treinador é o interino dos adultos. Aos poucos acabei percebendo que a atitude dos jogadores não era a mesma de sempre, como se tivessem descontraído pois agora o treinador não está no plantão do lado deles. O treinador dos adultos, estava na arquibancada mas foi embora sendo que eu fiquei no jogo até o apito final. Á noite liguei para ele e falei assim: «Luis, percebeste o jogo péssimo da 4ª? Sem vontade, um deles saindo do gramado começou gesticular, um outro ficou costurando com a bola só para ele esquecendo o estilo de jogo do time». A resposta do Luis González foi: «Percebi sim, mas achei que não dava para mexer nesse assunto pois agora sou interino dos adultos e um colega ficou na minha vaga na 4ª». Foi então que encaminhei mais um comentário para o Luis: «Você é treinador DO CLUBE e poderia fazer comentários até a geração da 6ª Divisão, aqui não temos «fazendas» de um, ou do outro. Eu acabo me envolvendo em tudo mas preciso que os treinadores também façam parte. Isso aconteceu domingo á noite. No treino seguinte, na segunda depois, pedi que parassem e houve bate papo começando reclamar, acreditando que não tinham dado no alvo, você fez tal coisa, você tal outra e tomara que não aconteça mais uma vez. Os nossos jogadores até poderia perder um jogo mas mostrando atitude no gramado SEMPRE. Resultados podem conquistar três: vitória, empate ou derrota mas atitude estou querendo uma só. Na hora de perder um jogo temos que ter certeza absoluta que pelas suas bochechas escorregou até o último pingo de suor. Nem por acaso da para descontrair porque o treinador titular não está no plantão, aproveitando a oportunidade para fazer mais um drible tentando concretizar um gol de placa. Tão importante quanto o anterior. Não admito jogadores que achem que o Nacional é apenas um clube de futebol. Nacional é uma UNIVERSIDADE. Eles precisam educação. Aqueles que tentem deixar o ensino secundário para se dedicar ao futebol, devem sair do Nacional. Não têm vaga. Não estamos querendo problemas no futuro para eles...voltando no assunto «Cococho», não desejamos uma situação se quer semelhante. Também não desejamos muito tempo de folga nessa idade marcante da vida. O ensino acaba sendo uma abertura na cabeça dos moleques para digerir bem melhor os sistemas. O nosso objetivo fundamental não é vencer no Campeonato Uruguaio. Temos que fazer um drible nesse assunto. O fato de ser parte do Nacional da o privilégio que antes do inicio do campeonato temos a metade do título no bolso. O resto é fazer um esforço e vencer dos outros. Nos temos que resgatar jogadores como o Luis Suárez e Nico Lodeiro, agora no Ajax da Holanda, Diego Lugano (no Fenerbahce da Turquia), o Juan Albin (no Mallorca da Espanha), o Bruno Fornaroli na Itália, o Sebastián Coates, o Calzada, o Mauricio Pereira o Sebastián Viera, todos jogadores de exportação para á Europa. Esse é o nosso grande objetivo final. Conquistar o título uruguaio não é simples mas caso conquistar, teríamos concretizado aquele alvo inicial. Fazer o clube o maior de todos vendendo jogadores de elite é o nosso objetivo tentando que sejam exemplo nem só no gramado senão na vida. Ter o orgulho de encontrar eles nas escalações titulares dos times européios e não recebê-los apenas 6 meses depois de serem vendidos. Que os agentes e diretorias dos clubes européios cheguem no Uruguai na procura do Coates e acabem investindo nesse profissional jogando bola e nesse loiro que os cativou com uma conversa. Haverão mudanças nos treinadores das categorias de base daqui a pouco pois o Alejandro Garay, treinador da 7ª foi contratado pela Associação Uruguaia de Futebol para chefiar a Seleção Sub-15. Tentando substituir o Alejandro, teve quatro reuniões com treinadores nos últimos dias mas juro que não perguntei para nenhum deles como vão jogar. Gostaria que jogassem bem, e bonito pois você sabe que o torcedor do Nacional gosta do jogo bonito e conquistando a vitória sempre. Com antecedência eu conheço o perfil dos quatro, que gostam do estilo bonito. O que estou querendo que eles saibam que caso forem treinadores da 7ª. seu objetivo no clube não é vencer nos jogos da categoria aos sábados. Ele está moldando jogadores de olho no futuro. Se a moldagem é ótima, com certeza vai vencer. Ele pode chefiar a 7ª mas caso entrar no Grande Parque Central e encontrar um jogador da 5ª engolindo docinhos, ele tem que reclamar para o jogador pois o cara vai treinar aos poucos. Bem mais ainda, ele não deve comer docinhos, ele precisa comer maça, iogurte, suco. Aprofundando ainda mais nesse treinador da 7ª e envolvido com a sua turma, ele precisa ser palestrante a cada semana de diversos assuntos. Hoje, o balanço do jogo de ontem; amanhã o uso da camisinha, logo pode discursar da alimentação, um outro dia: um jogador faltou no treino sem avisar para ninguém responsável no clube, o respeito pelo treinador, pelos colegas e até por ele próprio. Há sempre um tempo suplementar para falar da vida mas para isso, o próprio treinador precisa ser exemplo. É ele o responsável de abraçar ou até dar um beliscão para o jogador reagir perante um erro. Resumindo, acabo me envolvendo muito mas de jeito específico na moldagem do jogador, o perfil dele. Caso tivermos dois craques no clube mas sem o perfil do clube, peço para o treinador que procure substitutos para esses dois jogadores. É o Nacional que vai moldar aos jogadores e não os jogadores ao clube.

P: Após teus comentários gostaria saber se o zagueiro Diego Lugano não tinha o perfil do clube pois fala-se que saiu para o clube Plaza Colonia e daí para o São Paulo quase de graça.

ENRIQUEZ: Eis aqui a resposta. Esse é um outro assunto no qual precisa se envolver o Gerente Esportivo e eu ainda não estava no Nacional no cargo. Nacional não tinha Gerente Esportivo nessa data. Ele tem que tomar conta das valias do clube; aqui as Diretorias mudam a cada três anos e o treinador a cada ano, 6 meses ou no máximo dois anos. Vou compartilhar mais um comentário contigo. Fui zagueiro e capitão da 6ª, (ainda não tinha 7ª),da 5ª,da 4ª e capitão e artilheiro da 3ª. Sempre conquistamos o título fora na 4ª que alcançamos o vice. Logo campeão Sul-Americano Júnior na Venezuela 1977 vestindo a camisa celeste, Mundial da Tunísia, Campeão de América e do Mundo com o Nacional em 1980 – 1981. No clube aconteceu um problema com dois jogadores veteranos dessa turma, os treinadores Mujica e Gesto saíram do clube pois na hora de voltar da Final de Tóquio o agir em campo do time tinha diminuído bastante e os torcedores continuaram pedindo que o time ficasse lá cima no pódio. Então houve problemas de disciplina com dois dos jogadores famosos dessa turma que foram expulsos, dois titulares dos Campeões do mundo numa viagem. Essa turma sem esses dois jogadores não estava conseguindo resultados ótimos então os torcedores reclamaram e o Mujica e Gesto saíram do clube alguns meses depois de ter conseguido esse caneco. Os dois jogadores voltam (não estou caindo acima dos jogadores, a situação é o importante) e contratam um treinador fora da política do clube (não estou querendo se quer dizer o nome), que nunca jogou no clube e perante a pergunta da Diretoria da época quanto ao futuro do time, ele confirmou que tinha que renovar a turma e nesses que saíram estava eu. Em Fevereiro de 1981 fui Campeão do Mundo com Nacional, estive na cimeira, imagina só e meu grande sonho continuava sendo vestir a camisa do Nacional fora os passes que pudessem me cativar. Janeiro de 1982, fiquei a par da minha situação com o clube lendo um jornal. O Enriquez ficou livre porque houve um treinador que montou uma lista de jogadores sem a minha participação. Se por acaso houvesse alguém num Departamento Esportivo, um Gerente, um Diretor, que tivesse acalmado o treinador confirmando que eu tinha feito a escada toda nas categorias de base, que era capital do clube, que o Nacional teria que vender dizendo que mesmo tendo 6 meses ruinzinhos não dava para deixá-lo livre, pois é uma valia do clube sem sequer falar do segmento financeiro, poderia ter ficado. Com o Lugano aconteceu um situação semelhante. Nacional tinha um treinador que não gostava dele e eu era apenas Coordenador dos Juniores mas ainda não tinha condições para mexer nesses assuntos envolvidos com os adultos. Eu avaliava um jogador das categorias de base para que o treinador dos adultos utilizasse mas se ele não gostava do jogador, voltava nas categorias de base e nada a reclamar. Então se o treinador dos adultos está querendo vencer dos rivais a cada fim de semana, as Diretorias também e você nos juniores está querendo moldar jogadores de olho no melhor futuro do clube, estamos misturando projetos e pior ainda estragando o projeto final.

Quando em 2005 fique com o cargo de Gerente Esportivo, pulamos por cima dessa barreira e agora eu consigo mexer em tudo, naqueles jogadores que sobem na turma dos adultos, os que viajam para um outro time, naquele que a gente contrata e o que não assina contrato, pois marca uma linha esportiva desde o caçulo das categorias de base até o jogador que tentamos contratar no exterior. Eu encaminho essa linha para o treinador da 7ª e também para o dos adultos e se ele me dissesse que ele não gosta do Coates, vou responder que o Coates não vai sair do clube. Coates nem só não vai sair senão que vai jogar no time pois ele é patrimônio da instituição. O treinador precisa potenciar o Coates como todos os que são valia do clube e nem por acaso achar que pode montar uma turma nova a cada temporada. Voltando ao assunto Lugano, ele era destaque júnior mas o treinador dos adultos não gostava dele e todos nós não acreditávamos assim que renovava o passe para um outro time. Todos éramos torcedores do Lugano pois foi produto da gema do clube. Ele era «Gardel» (o máximo) em juniores mas o treinador adulto foi a barreira para ele continuar no clube.

Porém houveram dois projetos diferentes que deram uma batida. O nosso tentando impulsionar as valias do clube desde as categorias de base e um outro do treinadoradulto que nãogostava dele e só queria vencer aos fins de semana. A diretoria nessa etapa, dava apoio para o treinador pois eles também estavam querendo vencer a cada fim de semana até que surgiu o Gerente Esportivo, que ia ser o número um na hora de resolver esses assuntos, que não montando a escalação do time nem a turma toda, também não deixa que a turma «emagreça». Supervisa e controla que não volte acontecer aquilo que ocorreu com o Lugano, nem agora com o Coates, ou Galain. Ou se situar na outra beira, dando o OK para que o Lugano não jogue no clube concluindo que ele não tem chance. Mas se aquele que o único que toma conta do assunto é o treinador que não o conhece, que nunca assistiu um jogo desse jogador, aí é o ponto no qual o projeto fica sem encerramento.

P: Caso tiver a chance de conquistar um qüinqüênio no Campeonato Uruguaio ou uma Taça da América no Continente, será que você ia jogar uma casca de banana aos repórteres no vestiário tentando gerar confusão, por exemplo, oferecendo-lhes a escalação errada levando em consideração que pode influenciar no planejamento do técnico rival?

ENRIQUEZ: Tentaria omitir sempre. Não gostaria que logo um dos teus colegas falasse que eu tinha jogado uma casca de banana pois respeito a tarefa de vocês. Tenha certeza que ia tentar colocar uma barreira, bloquear a informação, tentando omitir tudo quando puder pois a vezes aparecem comentários que em oportunidades são falsos ou até consegue perturbar bastante. Nestes dias as manchetes esportivas falam que fulano, não ia continuar no clube na próxima temporada e pode acreditar que eu não informei esse dado para ninguém. Se por acaso alguém perguntar desse tal fulano, mesmo tendo dado uma analisada prévia e sabemos que pode sair do clube, ia te dizer que não temos decidido nada. Da para entender? Não posso mentir mas omitir claro que a gente pode. A imprensa ás vezes complica bastante porque estão querendo intitular primeiro, ser pioneiros em transmitir essa informação. Até tem acontecido que em oportunidades a imprensa descobre essa novidade e alguns da Diretoria não estão a par. Fica ruim que a Diretoria leia a novidade no jornal. Para que isso não acabe ocorrendo, tento proteger a informação para que não escorregue e acabe prejudicando a tarefa no dia-a-dia. Mais um exemplo. O treinador está na procura de um centroavante pois ele precisa segundo o seu paladar e o clube tem três. Como ia ficar o astral desses três jogadores que estão lendo a notícia no jornal? Embora, vamos tentar que ninguém saiba que o treinador está querendo um centroavante. Tentamos apenas!! Mas jogar casca de banana não, pois logo o jornalista fica bravo comigo e tem razão. Também não pode ficar bronqueado comigo caso eu fale direto que não vou fornecer tal o qual informação. Entradas e saídas na turma não posso informar nada. E caso me perguntar se o jogador «X» pode vir para o Nacional, mais uma vez vou falar direto: é uma chance. E pode sair fulano: não sei...por enquanto, não temos resolvido mesmo tendo matado o assunto. Confirmar ou negar uma informação poderia gerar confusão na turma e a gente está querendo que a turma estiver num ambiente aconchegante, treinando, jogando bola, renovando contrato ou não mas sem criar bagunça na cabeça deles que faz mal.

P: Muitos envolvidos neste ambiente que falam que o futebol uruguaio foi bem sucedido na hora que os dos grandões foram extremamente fortes na América? Na África do Sul 2010 Uruguai está se desenvolvendo muito bem até o jogo com o anfitrião com apenas um jogador, ou até «metade» pois já está saindo de um dos grandes. Como pode acontecer?

ENRIQUEZ: Do jeito que você falou, «metade dum jogador». A nossa concorrência interna é curta e poderíamos dizer que sem aquele agito dentro do campo, pois as partidas não alcançam uma dinâmica ímpar. Tenho certeza absoluta que o Sebastián Coates, vai participar da turma na Taça do Mundo Brasil 2014 mas também tenho certeza que ele não vai jogar no Nacional. Vamos tirar conclusões juntos. Ele não é jogador do Nacional da gema? Vestiu ou não a camisa do Nacional? O goleiro Fernando Muslera, não fez parte da carreira no Nacional e foi embora. O próprio Diego Lugano, o capitão desta seleção 2010, o ponta Luis Suárez. Fica impossível montar uma seleção com os jogadores do ambiente uruguaio pois o nosso campeonato não tem concorrência com dinâmica, potencia e força. Veja só que não da para manter no clube o Coates no decorrer de 2 ou 3 anos.

P: África do Sul 2010 chegou e a seleção uruguaia teve uma empate perante o vice-campeão do Mundo a França na estréia e uma vitória histórica de 3 x 0 perante o anfitrião enfiando muito bem para se classificar nas Oitavas na liderança do grupo. Pode continuar nesse ritmo de sucessos?

ENRIQUEZ: Caso Uruguai se manter como até agora, bem arrumadinho em campo, de braços dados, juntos e unidos é muito provável. Vou utilizar uma frase de um treinador que acho pode refletir o meu pensamento. Ordem perante ordem vence aquele com maiores destaques. Ordem perante desordem vence a ordem fora a valia dos jogadores no gramado.

Prezados leitores amantes do futebol, podem conferir já-já o site do Nacional de Montevidéu e de programa de rádio quase oficial: Paixão Tricolor (Pasión Tricolor) com emisões de Segundas ás Sextas e os dias dos jogos do clube ao vivo e as cores com narração e comentários pela Rádio Imparcial – CX 28 – www.radioimparcial.com

www. nacional.com.uy

www.pasiontricolor.com.uy

Gustavo Espiñeira

Correspondente PRAVDA.ru

Montevidéu – Uruguai

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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