Nilson, ex jogador do Vitoria é astro do futebol no Irã

Quando recebeu proposta para jogar no Perspolis, do Irã, o veterano goleiro Nilson, 37, ficou perplexo. Como ele, com sólida carreira no futebol profissional brasileiro e português, poderia se aventurar num campeonato tão distante da elite internacional?

 

Por Samy Adghirni*

Os amigos não ajudaram. "Você ficou louco? O que vai fazer lá? Quer colocar sua vida em risco?"

Com incentivo da mulher, a jornalista pernambucana Gilvana, Nilson Correa topou o desafio.

Mas ao desembarcar em Teerã, no ano passado, Nilson foi... deportado!

"Cheguei sem visto e sem informação. O oficial da alfândega perguntou o que eu queria fazer no Irã, e eu disse que iria jogar no Perspolis. Ele não acreditou e mandou me colocarem de volta no avião", contou Nilson dias atrás, em longa conversa na cafeteria do suntuoso prédio onde mora, a oeste de Teerã.

Furibundo com o destrato, jurou nunca mais pisar na república islâmica. Mas os dirigentes do Perspolis imploraram perdão pelo desencontro e aumentaram a oferta de salário anual de US$ 500 mil para US$ 600 mil. Mais bichos e um adicional por jogo sem levar gol. "Aí eu disse que aceitava."

Em sua segunda temporada iraniana, Nilson hoje é superastro do Perspolis e o brasileiro mais destacado da liga iraniana.

"Estamos muito felizes com ele. Ele caiu nas graças da torcida e a equipe inteira gosta dele porque, além de grande goleiro, é uma pessoa muito boa", me contou um dirigente do time, sempre na disputa pela liderança.

Embora desconhecido no Brasil, o Perspolis é um dos maiores e mais tradicionais time da Ásia. O alvirubro de Teerã diz ter torcida de 30 milhões, a maior do continente. Registrados com carteirinha, são 1,2 milhão. Nada mal. Seu arqui-rival é o azul Esteghlal, também de Teerã, com quem protagoniza uma das maiores rivalidades do futebol mundial. Clássicos podem facilmente levar ao estádio Azadi 100 mil pessoas em delírio.

Alguns dos principais nomes do futebol iraniano passaram pelo Perspolis, como o meia-atacante da seleção Ali Karimi, ex-Bayern de Munique, e o ex-centroavante Ali Daei, também ex-Bayern, apontado pela FIFA como maior artilheiro da história em partidas oficiais internacionais, com 109 gols _Puskas é segundo (84) e Pelé, quinto (77). Daei hoje é treinador do Perspolis.

"O futebol aqui é bom. O jogador iraniano tem qualidade e valoriza a técnica", diz Nilson, fala mansa e gestos suaves,

O goleiro garante ter se adaptado à nova vida.

"Quem fala mal do Irã não conhece. Além de tranquilo e seguro, o país é bonito, tem praia, floresta, montanha etc. Teerã é enorme, no Brasil só São Paulo é maior. Tem tudo aqui. E as pessoas são muito boas", afirma o goleiro, que mora com a mulher e a filha Letícia, de quatro anos.

No tempo livre, vão a parques e shoppings. O casal é evangélico e faz orações diárias. "Até minha filhinha já participa", alegra-se Nilson, que diz nunca ir às alucinadas farras clandestinas que agitam o ocidentalizado norte de Teerã.

Quando o time faz a reza islâmica antes de entrar em campo, Nilson fica na dele, orando para Jesus. "Os iranianos respeitam minha fé, nunca tive problema por isso."

"A maior dificuldade é a língua. Mas já decidi começar aulas particulares de farsi".

O capixaba Nilson foi revelado pelo Vitória e fez parte do grupo que chegou à final do Brasileirão de 1993. "Era
uma turma boa, tinha Dida, Paulo Isidoro, Alex Alves, Vampeta..."

À época considerado grande promessa, foi convocado para a Seleção Brasileira sub-20 e sub-23, jogando ao lado de estrelas como Caio, Luizão, Zé Elias, Denilson e Emerson.

Nilson passou por vários times brasileiros, mas brilhou mesmo no Santa Cruz e no Nautico. Em 2005 transferiu-se para o Vitória Guimarães, de Portugal, onde foi feliz até a crise econômica europeia tornar as finanças do clube incompatíveis com seu salário. Foi o técnico português Manuel José que levou o goleiro ao Irã. José deixou o Perspolis, Nilson ficou.

Em 2011, Nilson recebeu passaporte de Burkina Faso para atuar pela seleção do país africano. "Me deram 100 mil euros pela naturalização e me prometeram 4.000 euros por convocação mais 3.000 euros por vitória." Ele chegou a passar dez dias concentrado com o time na Namíbia, até que a CBF vetou a transação. "Devolvi o passaporte, mas me disseram que eu poderia ficar com os 100 mil euros."

Nilson acompanha à distância a nova geração de colegas brasileiros. Mas só merecem elogios arqueiros da velha guarda. "Taffarel foi o melhor. André era sua cópia fiel no estilo sóbrio, não espalhafatoso. Dida é outro grande goleiro. Fabio se perdeu numa época, mas se recuperou".

Gringos? "Preud'homme foi melhor goleiro do mundo com 40 anos de idade. Van Der Saar e Buffon também são impressionantes".

Nilson diz que pretende jogar por até mais dois anos. "Depois disso quero ser treinador. Vai ser muito bom se Deus abrir esta porta."

*Correspondente da Folha de São Paulo em Teerá

 

 

http://www.iranews.com.br/noticia/12194/nilson-ex-jogador-do-vitoria-e-astro-do-futebol-no-ira

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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