João Craveirinha: Uma leitura comparada de xenofobia

Neste cartaz xenófobo (de Lisboa 2007) é só mudar e actualizar de “Portugal aos Portugueses” e colocar: “África do Sul aos Sul-Africanos” -

Dialogando 1

por João Craveirinha

FOTO LEGENDA

No geral a xenofobia não tem cor. Não é só o negro na RSA que está contra a imigração africana no país. Mas às vezes há quem se esqueça disso na comunicação social em Portugal. Uma forma de vingança pós-colonial se calhar para dizer que “só o negro é selvagem”. Aí sim já é racismo parente da xenofobia. Porque ao contrário da xenofobia o racismo tem cor. E a mais escura sempre colocada por baixo, conotada com inferior.

JC

Dialogando 2

Por João Craveirinha

XENOFOBIA NA RSA

Não confundir com racismo. É outro departamento. A palavra provém do grego Xenos e quer dizer estrangeiro. Fobia quer dizer aversão (estar contra, ódio).

Assiste-se a uma mobilização geral do ANC em toda a África do Sul para combater a onda de bandidagem organizada internamente contra os estrangeiros africanos legais ou não legalizados na África do Sul. Tarde ou cedo esta onda de violência teria de acontecer. São os ovos de ódio incubados pelo Apartheid durante décadas e décadas que saem da casca com uma voracidade de ódio cego e de busca de vítimas como justificação dos problemas sociais de desemprego e de falta de enquadramento social do jovem negro sul-africano (e não só) na sobrevivência do dia a dia.

Na ignorância do pós-apartheid, muitos pensavam que bastava correr com os brancos, ficariam todos ricos sem trabalhar se calhar. Nem os brancos foram corridos (nem deviam ser), nem a riqueza caiu do céu. Mas alguém tinha de pagar a factura da desilusão. E quem está mais perto para ser vitimizado, agredido, brutalizado, são sempre os mais vulneráveis que estão expostos pela proximidade – os imigrantes ou os diferentes. Hitler fez isso com os judeus, ciganos, comunistas, socialistas, sociais–democratas, sindicalistas, mestiços ( Afrodeutsche / Schwarzer ) de negros africanos com mulheres alemãs, et cetera. http://german.about.com/od/culture/a/blackhistger.htm

Mugabe no Zimbabué faz isso contra os mais indefesos.

A sociologia e a psicologia de massas explicam esse fenómeno. Numa casa aonde não há pão os mais fracos são os primeiros a ser agredidos pelos mais fortes.

Moçambique (na transição pós-colonial) teve as suas reacções violentas populares descontroladas, em 7 de Setembro e 21 de Outubro de 1974 e recentemente em Janeiro 2008. De uma reacção espontânea surgem os oportunistas e agitam as águas turvas até ao descontrolo. O objectivo final desses agitadores é o derrube da ordem e do poder estabelecido. Hoje (26.05.08) Jacob Gedleyihlekisa Zuma, presidente do ANC, quase foi vaiado numa reunião com jovens zulos. Mais de 800 detenções de agitadores pela SAP /SADF.

O alvo principal no início era obviamente o moçambicano pela má fama que tem na RSA. Pelo pecador paga o justo. Pela minoria de assassinos moçambicanos que fazem profissão do car-jacking (batedores) à mão armada e outras malfeitorias nas terras do rand (JHB / Gauteng) pagam as inúmeras moçambicanas e moçambicanos que se sacrificam para melhorar a vida, coisa que não conseguem em Moçambique. Nem me parece que consigam algo melhor lá fora sujeitos a entrarem no esquema sul-africano de escravatura sexual e de outros tráficos e candongas. Mas enfim.

E Moçambique também tem de tomar atenção com o que se passa no vizinho país pois o exemplo pode contaminar. A África do Sul não tem sido somente uma escola de crime para o jovem batedor moçambicano mas também de outros maus exemplos. Um dia pode acontecer em Moçambique. Os dirigentes sul-africanos estão com receio de perder o controlo total sobretudo da malta do Inkata herdeiros de Tchaca. A história serve sempre para se tirarem ilações e corrigir o futuro.

Mas infelizmente os políticos nunca aprendem. Quando a casa do vizinho pega fogo temos de nos preparar para o pior em nossa casa. Se não acontecer nada ainda melhor. Estávamos prevenidos. A questão agora é saber se o governo moçambicano tem na agenda algum plano de emergência que incluiria sessões de esclarecimento em escolas, universidades, nas fronteiras e noutros locais julgados apropriados. Sem esquecer campanhas na Televisão, Rádio e Imprensa escrita. JC

Post-scriptum: Uma mui amiga portuguesa vinda de Moçambique em 1976, comentando sobre a situação actual da RSA traça um paralelo, ainda que não tão violento, da chegada precipitada a Lisboa dos intitulados retornados. (Ela diz jocosamente: “fomos é entornados” para Portugal da maneira como fomos abandonados lá e vistos com olhar de desprezo e inveja ao termos de reconstruir a vida do zero, cá na Europa). Respondo que se calhar Portugal fez o que podia. Ela com um encolher de ombros, conformada mas não convencida, termina: “ainda hoje em 2008, pagamos essa factura de discriminação disfarçada por termos vindo de África”.

E penso eu com os meus botões: - E os nossos novos retornados da África do Sul, do pós-apartheid, o que será deles em Moçambique? Há algum plano de realojamento do governo? E a ONU para os refugiados “do”português Guterres, foi contactada por quem de direito? JC

Update com a BBC Brasil em português:

http://www.bbc.co.uk/portugueseafrica/

Mbeki diz que violência 'mancha' África do Sul

Presidente sul-africano reage a ataques xenófobos

contra trabalhadores estrangeiros

Militares sul-africanos patrulham ruas

Violência chega à Cidade do Cabo

Mais dados sobre o ANC

http://www.anc.org.za/people/zumaj.html

http://www.time.com/time/specials/2007/article/0,28804,1733748_1733757_1735724,00.html

http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u356241.shtml

http://findarticles.com/p/articles/mi_m1252/is_n10_v121/ai_15254313

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
X