Portugal: Mais sacrifícios?

O Governo português acaba de anunciar que no próximo ano, a carga das contribuições para a Segurança Social vai aumentar de 11 para 18 por cento, portanto uma subida de sete por cento, além dos outros impostos altíssimos e preços de utilidades públicas insuportáveis. Na equação da política portuguesa, um Governo PSD é sinónimo com ruptura social.

Nunca na história da política apareceu um homem tão mal preparado para governar um país em crise, nunca apareceu uma equipa tão inepta ou políticas tão cegas como é o caso do (des)Governo PSD do Primeiro Ministro Pedro Coelho e seus ilustres ministros. Já nos anos noventa, o mesmo partido tinha lá um Ministro de Finanças que foi rotulado de "adiantado mental"; ora bem, esse que está ali agora, faltam rótulos, faltam palavras e falta a paciência para com ele, com o Primeiro Ministro e aquele bando que secou o país até ao ponto de ruptura.

De facto, quem pensar em votar no PSD, CDS/PP ou PS deveria fazer uma Ressonância Magnética ao seu cérebro, porque foram estes três partidos que governaram Portugal desde a Revolução dos Cravos em 1974. Portanto, não têm qualquer desculpa contra a acusação que eles levaram o país para a situação em que está, ora colectiva, ora individualmente, ao longo de quase quatro décadas.

Se fossem dirigentes de qualquer empresa, teriam sido despedidos por incompetência, mas porque são da classe que manda em Portugal, o pior que lhes acontece é que voltam para o lugar de onde vieram, atrás das grades de uma Universidade, ou então num instituto qualquer fazendo sabe-se lá o quê...organizando festas de 150.000 Euros, talvez.

Há situações em que as verdades têm de ser ditas, por muito que magoem e há em Portugal uma tendência de deixar as coisas estarem, fingir que está tudo bem, ou que há-de ficar e talvez algum dia virá um Dom Sebastião para colocar tudo em ordem. Desculpem-me, mas isso não vai acontecer. O laissez-laire morreu agora em Setembro de 2012. Virem a página, nova mentalidade, novo país.

O Pai desta situação foi o próprio Presidente, Aníbal Silva, que gosta de cultivar um ar de enorme sabedoria, protegendo-se, escondendo-se atrás de frases crípticas, fontes de sabedoria do tipo "Tenho uma certa visão para Portugal", ou "O Progresso do Povo Português no Espaço Económico Europeu". Infelizmente a fonte virou poço.

Aníbal Silva foi Primeiro-Ministro entre 1985 e 1995, precisamente nos anos após a adesão de Portugal à Comunidade Europeia (depois União Europeia). Preparou o país para o desafio? Não, andou dez anos a viajar masturbando-se virtualmente pelas ruas e estradas do país em limusinas com polícias em motos a acompanhar, fazendo discursos e brincando à política. Nestes precisos anos, rios de dinheiro jorraram pelas fronteiras dentro, supostamente para ser bem investido criando as condições para Portugal se cingir no clube Europa.

Se bem que o país estava totalmente despreparado na altura e a adesão na minha opinião deveu mais à amizade de Mário Soares com "son ami" Miterrand e se bem que Aníbal Silva em termos de honestidade e integridade se classifica entre os intocáveis na política portuguesa, ser honesto e parecer "sério" não chega. E a década do Cavaquismo foi um aborto fedorento que contaminou cada sector da governação portuguesa durante 30 anos.

O dinheiro foi pessimamente mal empregue, as negociações com a União viram desaparecer a indústria, a agricultura e as pescas portuguesas. Perdendo estas indústrias, como é que Portugal poderia estar preparado para o desafio? O que segue, desde meados dos anos noventa, é uma consequência disto, é a cauda do Cavaquismo, uma espécie de uma lama mal-cheirosa que encobre tudo, escondendo buracos e enganando todos.

Desde meados dos anos noventa, assistimos a um deslise constante, assistimos a uma desgovernação por incompetentes que esbanjaram o dinheiro dos contribuintes, que deixaram Portugal com os piores salários, com preços de comida e de utilidades públicas a aumentar ano após ano, não protegeram o povo quando o país entrou no Euro (sem perguntar a ninguém se queria deixar o Escudo), quando os preços duplicaram ou triplicaram e deixaram os portugueses com uma das mais altas taxas tributárias na Europa (os pobres, claro, não os ricos).

Chegamos agora a 2012, com um Governo que mais facilmente encontrar-se-ia num hospício em qualquer outro país, o de Pedro Coelho, que implementa medidas sem saber se passam no Tribunal Constitucional, quando até um idiota sabe que não, e que acha que tem o direito de saquear o país e roubar o povo, aumentando a contribuição para a Segurança Social em sete pontos percentuais.

Quando a planta está doente, poda-se e rega-se. O que este Governo fez foi cortar a água, tirar todas as folhas, partir o caule e arrancar as raízes. Agora que a planta teima em não crescer, acham bem pisar com botas pesadas e se não morrer à primeira, hão-de continuar até que ela não resiste mais.

Com uma teimosia e idiotice destas, não surpreende que os jovens vão-se embora. Desta vez, não voltam mais. Quando se tira dinheiro de uma economia, seca-a. A resposta não é mais impostos - qualquer estudante de finanças públicas sabe que este tipo de política produz resultados ao contrário. A resposta é...

Tenho as minhas ideias, mas não cabe a mim ditar aqui neste jornal russo o que os economistas e estudiosos portugueses são pagos para fazer: encontrar uma solução. Basta dizer que esta não reside nos três partidos acima referidos, como é mais que evidente.

 

Timothy Bancroft-Hinchey

Pravda.Ru

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