Modelo jurométrico e o apagão da saúde a caminho

O capitalismo é um sistema econômico montado sobre dois conceitos simbolizados por duas letras: K e L pela teoria neoclássica e I e N pela teoria keynesiana na doutrina que agrega o cálculo algébrico, matricial e diferencial ao discurso político e por três letras: c, v e m pela doutrina política marxista.

Por Carlos Magno Lopes da Silva*

O capitalismo é um sistema econômico montado sobre dois conceitos simbolizados por duas letras: K e L pela teoria neoclássica e I e N pela teoria keynesiana na doutrina que agrega o cálculo algébrico, matricial e diferencial ao discurso político e por três letras: c, v e m pela doutrina política marxista. As duas primeiras versões dos insumos elementares da economia capitalista querem dizer a mesma coisa: capital e trabalho através de um tratamento metodológico bastante diferenciado nos detalhes. A última versão os dois insumos básicos vêm acompanhados de um terceiro e assumem conceitos e definições distintas: capital morto, capital vivo e a mais valia. A rigor, não são estruturas conceituais comparáveis.

Podemos afirmar que o Brasil recente inaugura um outro sistema econômico, o modelo jurométrico, no qual, os insumos básicos não podem ser considerados como iguais, semelhantes ou parentes distantes de quaisquer dos insumos dessas doutrinas, teorias e conceitos acima. É algo inusitado.

Uma espécie de jabuticaba. Os seus símbolos são: i e t, taxa de juros e o tempo mais uma terceira variável de apoio, T, os impostos. Neste modelo o trabalho e os investimentos são relegados a um plano secundário em nível de planejamento e de ação governamental. O sucesso do modelo jurométrico é medido por uma única variável, o superávit primário, isto é , o quanto o governo paga em dia os juros devidos no ano. O resto a pagar para não se caracterizar como uma inadimplência se incorpora à dívida pública. Um negócio sem risco porque garantido pelo tesouro. Sem trabalho e sem apunrinhação. O único esforço detectado em todas etapas de criação de riqueza no modelo jurométrico é no momento de se apurar o índice certo de correção de saldo. Através de uma tecla de computador isso pode ser feito on line.

Se há sinais aparentes de sucesso do modelo, a lista de fracassos aparentes e reais é crescente no tempo. Lembremos os mais conhecidos: O apagão elétrico iniciado em 2001 e ainda não concluso. O apagão nos transportes urbanos e terrestres iniciado faz algum tempo com novos personagens a partir de outubro de 2006. O próximo apagão com as características apelativas da atenção dos sentidos e da razão de quem o assiste, igual a dos dois primeiros será o dá o da saúde.


Segundo artigo do Professor Carlos Stempriewski, Faculdade Rio Branco in J.Bsb, 18.12.2006, de 1992 a 2005, houve um decréscimo de 100 mil leitos na oferta brasileira de serviço público de saúde. A redução da oferta está associada à participação de 2,5% da saúde pública no orçamento federal que segundo o autor, dada a crescente demanda: 23,3 milhões se internaram; 100 mil foram operados de coração; 30 mil transplantes foram efetuados e mais de 1,8 bilhão de atendimentos ambulatórias foram efetuados em 2005, deveria ser de 5%. O contingenciamento das verbas na saúde pública compromete o atendimento direto dos clientes e o indireto, proporcionado pelas instituições filantrópicas e Santas Casas, 10.779 que devem R$ 6,5 bilhões de impostos indispensáveis ao pleno funcionamento. De outro lado, o setor privado que agrega 70 mil empresas e emprega por volta de 650 mil funcionários também depende do bom funcionamento da saúde pública, do planejamento geral e da gestão econômica do governo.

O motivo é simples, a idéia de que os planos de saúde privados iriam substituir o atendimento governamental, na prática tem funcionado a meia boca. É outra prova de que se elaborar uma boa idéia de cunho social e pública, aquela que de fato funcione, é um pouco mais difícil do que se fazer intriga, conflitos e politicagem. Uma das marcas de excelência do autoritarismo brasileiro. De outro modo, depende de pelo menos dos seguintes itens afins: educação, ciência, tecnologia, competência, democracia e ética.

O problema existe e é real, não apenas na saúde

E nos ocorre indagar mais uma vez: vamos pensar um pouco? Que esta indagação não seja vista como uma advertência ao grupo restrito (1) de políticos que teve a brilhante idéia de aumentar do dia pra noite os seus próprios salários em 90%, mais como um único caminho que se vislumbra no momento para se restaurar a sobrevivência digna da maioria dos membros de uma nação. De um povo.

O grupo é restrito, mas é representativo do novo congresso. Afinal, trata-se da remuneração dos próximos parlamentares. Suas Excelências, o Presidente do Senado e da Câmara dos Deputados não são políticos novatos. Não tomariam uma medida deste porte sem que antes fizessem uma análise acurada do perfil do novo parlamento brasileiro. Se na legislatura anterior se contabilizou por volta de 100 a 120 mensaleiros, pelo aumento de salário pedido, desconectado da realidade salarial brasileira e não por lhes faltar merecimento pode-se esperar mais do que 120 picaretas falando, escrevendo e decidindo a sorte do povo. Neste aspecto o custo será maior do que se multiplicar 513 X R$ 24.500,00 X 12 , mais o salário dos senadores.

Opolítico fisiológico para a “governabilidade” cumpre dois papeis: ocupa o lugar de um político de verdade, de um estadista, e cobra cada vez mais caro em moeda, por uma dívida de consciência a ser paga com recursos do próprio povo por cada vez que o trai. O militarismo aplicou com sucesso o fisiologismo por vinte anos no meio político e o meio político tem se servido do fisiologismo quando se vê acuado diante de disputas extremadas, isso ocorreu pelo menos duas vezes nesses últimos 15 anos de parlamento. A próxima legislatura será marcada por grandes disputas ignora-se apenas em qual dos campos: das idéias e da correção rumo ao desenvolvimento ou apenas de disputas fisiológicas.

O acorde de afinação fisiológica da próxima legislatura me diz que o encaminhamento das grandes questões nacionais será adiado ou será feito de qualquer jeito ou do pior jeito, na essência são dois termos semelhantes. Vamos torcer para que ao entrarmos em 2007, no campo político e econômico, não venhamos desejar um Feliz Ano Velho com escreveu o filho escritor do deputado Rubens Paiva, cassado pela ditadura militar. Ou então, não precisemos dizer que éramos felizes e não sabíamos em 2006.

O apagão na saúde tem jeito. O apagão nos transportes tem jeito. O apagão elétrico tem jeito. O Brasil tem jeito. Um Feliz Natal a todos que por estas letras nos acompanharam neste ano de 2006.


*Economista e Escritor

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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