Caminho para a morte! Até quando?

A estrada não é assassina. É a imprudência e a omissão dos homens que a fazem assim. Seu traçado original apenas facilita a morte de famílias inteiras, dia-a-dia. Com a indiferença das autoridades competentes, enquanto o amigo leitor finaliza esta leitura, mais uma vítima fatal estará estendida nas curvas das nossas lamentações, às margens da BR 381.

Com as obras de recuperação da BR 381, os acidentes aumentaram e ficaram mais violentos, pois a recuperação da estrada se deu apenas em sua linha torta, ou seja, em sua recapagem, em sua maquiagem e não em seu traçado original, em sua via de rolagem, de viagem. Isto aumentou apenas o risco, ampliado pela velocidade e multiplicado o perigo existente em suas inúmeras curvas sinuosas e perigosas.

Meu Deus, quantos ali ainda morrerão? Quantas famílias ainda serão mutiladas? Quantas vidas decepadas? Tudo isso já vem há muito tempo e sinais concretos de uma futura melhora, nenhum! Um erro com milhões de cúmplices e milhares de silenciados.

A cada final de semana, a cada feriado prolongado, contabilizamos novo recorde de acidentes, mortes e feridos. Amanhã, todos os jornais noticiarão as mesmas mortes, acontecidas em uma das curvas da BR 381, entre os municípios de Belo Horizonte e Governador Valadares, dentro de seus 310 quilômetros de extensão e seus 62 trechos de perigo permanente. O que é mais frustrante é constatar que além das incontáveis tragédias e de vários trabalhos realizados apontando os trechos mais perigosos e os erros do seu traçado anacrônico, ao longo dos seus mais de 50 anos de existência, nada foi feito até aqui para alterar essa triste realidade que vai consumindo a vida de quem é obrigado a passar por ela.

Só no ano de 2008, 138 mortes foram contabilizadas em sua faixa asfáltica, no local do acidente, além daquelas que aconteceram no hospital, no caminho para o hospital e não foram registradas, além de tantos outros que ficaram paralisados para sempre. Acredita-se que, a cada ano, mais de 800 pessoas morrem em decorrência de acidentes na BR 381. Se a gripe suína mobiliza milhões para as poucas mortes registradas em todo o Brasil, a questão da BR 381 poderia mobilizar fundos para acabar com esse martírio atemporal e diário, que tem endereço e lugar certo para matar e mutilar quem se aventura por ela. Hoje foi assim, amanhã será assim e depois e depois também.

Nas férias, muitos meninos que saíram para a sua primeira viagem, levando na bagagem sonhos, juventude e a vontade de aproveitar o dia, não puderam contar suas histórias para os amigos de escola. As mães ficaram tristes, famílias ficaram órfãs e a estrada continua a sua repugnante e revoltante sina: a de esmagar gente entre carros, levando pessoas ao encontro prematuro da morte inesperada e precipitada.

Eu, que sempre passei por ela, hoje procuro não passar mais. Cansei de chegar em casa amargurado. Não me lembro de feriado algum, na saída ou chegada a Belo Horizonte, que não tenha visto vidas estraçalhas às margens da BR 381, o endereço da morte pontilhado em minhas retinas. Agora, além dos engarrafamentos rotineiros dos incontáveis acidentes, temos os protestos honestos e sofridos e, lamentavelmente ainda infrutíferos, das populações martirizadas pela consagrada Rodovia da Morte.

Entre mim e os amigos que moram depois dela, há, além da distância, o medo e o pavor. Pena! Enquanto isso, os jornais já têm a sua pauta pré-fixada, pré-agendada, a notícia estampada em suas primeiras páginas. Até quando, não sei. Sei apenas que tenho, humildemente, que duelar com a minha caneta contra esta triste verdade, que fará entre nós, mais algumas de suas vítimas, que podem ser parentes, amigos e pessoas muito próximas. Infelizmente!

Petrônio Souza Gonçalves é escritor

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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