Meia verdade é uma mentira inteira

Nem todos que gritam “Fora Temer!” querem “Volta Dilma!” ou “Diretas Já!”, alguns estão mais interessados em se manter nos carguinhos que lhes conferem um poder suficiente para influir na prisão de Lula, enquanto sonham com a nomeação como ministro do Supremo, ou serem reconduzidos ao mesmo cargo que hoje ocupam, ou conquistar votos para se eleger deputado federal, senador, ou (quem sabe?!) presidente da república.
 
por Fernando Soares Campos

A verdade é que, contra Lula, não há provas nem mesmo convicção alguma, o que há realmente é uma determinação de condenar e, assim, retirar os direitos políticos do ex-presidente, a fim de impedir sua volta ao Planalto. Só.
 
Se não prenderem, condenam Lula à perda dos direitos políticos. Só estão analisando para entender se esta segunda possibilidade, sem a pena de reclusão, apenas a suspensão de direitos políticos e multa, não os faria parecer covardes.
 
Condenar a pena de reclusão e manter em liberdade, por alguma manobra jurídica (sursis “especialíssimo” ou determinação imediata de aguardar o julgamento de recurso em instância superior) também deixa no ar uma impressão de covardia. Essa deve ser a sinuca de bico dos golpistas.
 
A meta é: prender Lula, destruir o PT, revogar as leis trabalhistas e previdenciárias e entregar, à sanha do capital apátrida, o que restou da privataria tucana e o que se edificou nos governos petistas.
    
Sabe aquela coisa de os nazistas tentarem se safar de condenações no Tribunal de Nuremberg, alegando que cumpriam ordens superiores? Pois bem, esses justiceiros que destruíram grandes setores da economia nacional, que prendem e torturam psicologicamente, absolvem culpados e condenam inocentes, se um dia forem julgados pelos crimes de lesa-pátria que estão cometendo, também tentarão se defender com esse argumento, o de que obedeciam a ordens. O pior é que obedecem às ordens de chantagistas, têm medo de serem destruídos pela CIA ou mesmo por grupos chantagistas domésticos. Esses elementos devem cabeça, tronco e membros aos gringos e aos padrinhos daqui. Nenhum estudante estrangeiro passa pelas grandes universidades dos EUA, principalmente Harvard, sem deixar suas impressões digitais e, em alguns casos, anal.
 
A mídia, os delatores e as delações
 
Por enquanto a mídia empresarial e venal brasileira está enfocando os seus próprios pupilos infratores, “enfants terribles”, dando a impressão de que estão preocupados com a corruptália clássica, mas logo fazem o público esquecê-los e se volta para Lula e PT.
 
Dizem os penalistas que a prova testemunhal é a prostituta de todas as provas. Sem outras provas, corroborando o testemunho, não é considerada em nenhum processo sério. No entanto, está na base das denúncias movidas contra Lula e Dilma pela Lava Jato.
Pode haver algum exagero na expressão, e um preconceito condenável em relação às prostitutas, mas é didático como juiz e procuradores da Lava Jato se valem das “prostitutas” das provas.(“Xadrez da prostituição no Judiciário”, Luis Nassif, Jornal GGN - TER, 16/05/2017)
 
A tábua da nova lei: a da delação
 
TIJOLAÇO, por Fernando Brito – 17/06/2017
 
Imperdível o irônico e trágico texto do juiz Alexandre Moraes da Rosa sobre a crua lógica do processo de delação premiada que se tornou, nestes dias, o “processo único” de apuração, com a transformação de investigações e julgamentos em um simples negócio.
 
Conheça os dez mandamentos da delação premiada
 
Alexandre  Moraes da Rosa, no Conjur
 
Perguntaram-me como explicar brevemente o regime da colaboração/delação premiada no Brasil sem precisar ler muita coisa, no estilo 10 mandamentos. Aceitei o convite. Abaixo, segue o que explico no Guia do Processo Penal conforme a Teoria dos Jogos[1], de maneira esquemática. Aviso que as alusões devem ser lidas com certa dose de cinismo. Significam perspectiva metafórica do que pode se passar, e não necessariamente com o que concordo.
 
Metaforizei a partir de um indivíduo que joga sujo e quer maximizar seus êxitos a qualquer preço, sem levar em consideração aspectos éticos e morais. Não estou falando, necessariamente, de você, leitor.
 
Seguem os mandamentos:
 
1. Ama (e salva) a ti mesmo sobre todas as coisas e pessoas.
 
2. Não torna seu nome em delator em vão, porque deve valer a pena a recompensa.
 
3. Guarda gravações, documentos e prints de pessoas que podem ser delatadas no futuro.
 
4. Delata pai e mãe, se necessário for.
 
5. Não delata muito antes de o comprador precisar da informação.
 
6. Não delata alguém que pode te delatar, salvo se conseguir destruir tua credibilidade antecipadamente.
 
7. Não rouba informação alheia nem reputações, salvo se necessário.
 
8. Não levanta falso testemunho, salvo se puder criar falsos indícios ou provas, e então o faça parecer crível.
 
9. Não deseja o julgador do próximo só porque ele é mais garantista.
 
10. Não cobiça as delações alheias (somente porque os outros jogaram melhor).
 
O desenho da delação/colaboração premiada é objeto de muitas querelas e dilemas. Alguns podem ficar magoados com o modo em que sugeri os mandamentos, mas pode ser que você esteja enfrentando alguém que pensa justamente assim. Não admiro nem faço loas a quem joga sujo. Apenas descrevo um comportamento possível de um jogo de compra e venda de informações que se instalou no Brasil. Se você não concordar, melhor. Talvez esteja errado. Que assim seja…
 
***
 
Agora vejam:
 
"O entorno deste governo [de Michel Temer] é um deserto ético, um pântano moral, onde vicejam corruptos seriais e achacadores de ofício. Cultiva-se ali a indiferença com a decência, a desavergonhada compulsão para a destruição da democracia a venda da dignidade moral em troca da destruição dos diretos sociais duramente conquistados." (Aldo Fornazieri, Professor da Escola de Sociologia e Política, no artigo "Colapso institucional, um governo criminoso e o PSDB", Jornal GGN, SEG, 12/06/2017.)
 
Putz! Depois dessa, se eu fosse um golpista usurpador, entregaria o cargo de volta a quem eu tivesse usurpado, correria para o banheiro, enfiaria a cara no vaso e puxaria a descarga.    

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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