Brasil: Vaias ensaiadas

Um vídeo gravado na noite da última quarta-feira (11/7), dois dias antes da abertura dos Jogos Pan-Americanos, revela que voluntários e convidados já vaiaram à menção ao nome do presidente Lula, durante ensaio da cerimônia.


Disponível no Youtube, o vídeo, de 53 segundos, foi gravado no anel superior das arquibancadas do Maracanã. Imediatamente após os locutores anunciarem o nome de Lula, em espanhol e em português, vaias são ouvidas.


Vetado à imprensa, o último ensaio teve a participação de voluntários, que receberam convites para distribuir a familiares e amigos.


O deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR) vê indícios de que o prefeito do Rio de Janeiro, César Maia (DEM, ex-PFL), tenha organizado uma claque para aplaudi-lo e para vaiar o presidente da República na abertura dos jogos.


"Além desse vídeo, há uma série de outros indícios de que a Prefeitura do Rio de fato buscou criar um factóide contra Lula, o que é grave em função da repercussão internacional do evento", afirma Dr. Rosinha.

Servidores "dispensados"


A venda dos ingressos do Pan-2007 está sob responsabilidade da Prefeitura do Rio de Janeiro, que contratou a empresa Ticketronics para executar o serviço.


A seleção dos voluntários também esteve a cargo da administração municipal. Das 80 mil pessoas que se inscreveram para trabalhar como voluntários nos Jogos Pan-Americanos, 15 mil foram selecionadas.


Coube à Fundação João Goulart —entidade vinculada à Prefeitura do Rio através da Secretaria Municipal de Administração— tanto o recrutamento quanto o treinamento dos voluntários.


Apesar do alto número de candidatos à função de voluntário, o prefeito César Maia assinou, no último dia 14 de junho, um decreto que "dispensou de suas atividades regulares", durante a realização dos jogos, os servidores com inscrição confirmada para trabalho voluntário.


"Quais foram os critérios para a escolha dos voluntários do Pan?", questiona Dr. Rosinha. "Havia necessidade de dispensar servidores municipais? Quantos foram dispensados do serviço?"
O deputado Dr. Rosinha sugere que o PT do Rio de Janeiro faça tais questionamentos à prefeitura da cidade.


Ingressos "distribuídos"


Conforme matéria publicada na última sexta-feira (13/7) pelo jornal "O Dia", a Prefeitura do Rio de Janeiro estaria "distribuindo" nada menos que 100 mil ingressos para os jogos do Pan.


"A Prefeitura do Rio vai distribuir 100 mil ingressos do Pan para todas as suas secretarias", diz trecho da matéria. "As que mais estão recebendo são as de Educação, Assistência Social e a Comlurb."


Um voluntário que ganhou três ingressos para a abertura do evento foi preso, ao tentar vender um dos bilhetes a um promotor de Justiça. Ele foi encaminhado ao Juizado Especial Criminal instalado no próprio Maracanã. Do setor nobre, os ingressos valiam R$ 250.


"Ao meu ver, cabe uma investigação a respeito tanto da forma como a Prefeitura do Rio de Janeiro selecionou os voluntários quanto sobre a venda e distribuição gratuita de ingressos", afirma Dr. Rosinha. "Falta transparência em todo esse processo."

Decifrando o mistério das vaias a Lula

Por Mauro Carrara

Saiu tudo conforme o planejado. O operário Luiz Inácio Lula da Silva foi vaiado e passou pelo maior constrangimento público de seus quatro anos e meio na presidência. A solenidade de abertura dos jogos Panamericanos seguiu à risca o roteiro definido pelo "comando central", o mesmo que controla toda a campanha de mídia contra o Governo Federal. No Rio desde quinta-feira, dia 12, procurei descobrir se e de que maneira foi arquitetado o plano de humilhação. Conversando muito aqui e ali, com jornalistas, políticos e gente do povo, levantei 14 informações que futuramente poderão ser úteis à reconstituição histórica do episódio.

1) Havia mais de um mês, já se falava numa "recepção" diferenciada a Lula na festa de abertura do Pan. O assunto era comentado com freqüência na Avenida Alfredo Baltazar da Silveira, no prédio da Secretária Municipal de Esportes e Lazer do Rio de Janeiro.

2) Há cerca de três semanas, esse foi supostamente o tema de uma reunião entre Marcelino (que deve ser o D'Almeida), Moacyr (que deve ser Barros Bastos) e Gustavo Coimbra Coelho Cintra, na sede do Recreio dos Bandeirantes.

3) Estranho é que, no dia seguinte, o assunto voltou à baila num encontro entre Coelho Cintra e as senhoras Ágata Borges de Castro e sua lugar-tenente, Cecília de Moraes. Na secretaria especial de comunicação, gerou-se uma turbulência. Era preciso recrutar gente para um serviço especial.

4) No mesmo dia, na Rua Afonso Cavalcanti, apareceu o Sr. Alexandre da Fonte, do Riocentro, disposto a ajudar no que fosse necessário. Tinha uma lista de voluntários para ajudar nos serviços extras - relação que circulou por mais de um departamento.

5) Dias depois, noutra secretaria, ouviu-se exatamente a mesma coisa. Os preparativos para a recepção a Lula tinham de ser especiais. O Sr. João Marcos de Alburquerque pediu, então, uma reunião com o pessoal do COB, que se deu no dia seguinte. Carlos Arthur Nuzman, sabe-se, recebeu Albuquerque para tratar do assunto. Não se saber exatamente sobre o que falaram.

6) Consultado sobre o assunto, na época, o responsável pela imprensa do Comitê disse apenas tratar-se de "assunto político", não diretamente ligado aos preparativos para o Pan.

7) Estranho é que, em todo canto, o assunto "recepção a Lula" era ouvido. Há três semanas, esse mesmo assunto foi suposto tema de uma reunião do Relações Públicas Roberto Falcão com um grupo de publicitários paulistas, capitaneados por um certo Fabra e um incerto "Catchola", que apresentou uma série de desenhos do estádio, com destaque para as arquibancadas. Que se saiba, esses homens de propaganda não faziam parte do grupo de trabalho. Ao contrário, o tal Fabra parece ser o mesmo homem por trás do site e-indignação, destinado a espicaçar o atual governo e amplificar o movimento de oposição.

8) No mesmo dia, o tal Fabra esteve por horas com o Sr. Ali Kamel, diretor-executivo de jornalismo da Rede Globo e colunista de O Globo. Oficialmente, segundo a agenda do bam-bam-bam global, o assunto foi o Pan do Rio.

9) Há quinze dias, o tal Fabra teria novamente aparecido na sede do COB. Outro participante da reunião, segundo fontes confiáveis, foi um tal de Saulo Romay. Bendito Google. Vem a calhar que o sujeito é algo como representante da juventude do PSDB no Rio de Janeiro. O que teria ele a ver com a organização do Pan? É um mistério que perdura.

10) Nesse mesmo dia, coincidentemente, houve uma reunião especial entre os coordenadores dos voluntários do Pan. Cerca de 16 pessoas estiveram presentes. Ao fim, foram avisadas sobre um treinamento especial, que ninguém ainda sabe do que se trata. Segundo uma atenta secretária, alguns saíram assustados do encontro.

11) Dia 2 de Julho. Informalmente, é criado - sabe-se lá por quem - um grupo de setenta voluntários, para serviços especiais.

12) Dia 12: preparação para a solenidade. Do nada, um grupo começa a treinar uma vaia. Não se sabe para quem. Não se sabe com qual interesse. Isso ocorre por três vezes durante o ato preparatório.

13) Aparentemente, os tais 70 são estrategicamente distribuídos pelo Maracanã. Alguém protesta, antes da cerimônia. Há confusão. No portão 18, cerca de 100 voluntários são barrados. Segundo a organização, seus lugares foram provisoriamente tomadas pelo pessoal da "coordenação estratégica".

14) Dia 13 de Julho, quase meia-noite. O estudante Rogério, de 18 anos, morador em Duque de Caxias, conversa com este repórter. Reproduzo fielmente o que me foi dito: - Era mesmo para vaiar o Lula, do jeito que disseram. Uns das coordenações, do grupo, puxaram mesmo e o pessoal foi atrás. Se dois, três começam, vai todo mundo no arrastão. Tinha gente lá ontem que nem tinha participado de nada. Foi lá só para agitar mesmo. E o pessoal foi no embalo. Eu não vaiei. Fiquei quieto. Mas teve uma agitação. Se alguém filmou direito, vai ver quem é que botou fogo na galera.

A vaia ensaiada pela claque de Maia

Claque vaia Lula e aplaude César Maia

Fernando Soares Campos

Vaias num momento e local em que elas não caberiam, mesmo que os vaiados merecessem. Por que vaiar atletas americanos, bolivianos, argentinos, venezuelanos ou qualquer outro? Vaias políticas: por que vaiar Lula e aplaudir César Maia? Certamente este detalhe evidencia que as vaias partiram de uma claque, um grupo organizado. As vaias não partiram propriamente dos que pagaram caro para assistir à abertura do Pan, pois a claque ganhou ingressos, os que fizeram a claque receberam ingressos de brinde, ingressos pagos pelos cofres públicos.

Outra atitude vergonhosa ocorreu quando uma parte do público se indignou com as vaias e começou a aplaudir o presidente Lula. Quem estava assistindo ao evento pela televisão pôde observar que o apresentador da Rede Globo de Televisão, ao notar que esta parte do público insistia em aplaudir o presidente, criando no Maracanã uma espécie de clima de confronto político, passou a falar de coisas sem qualquer importância, objetivando apenas abafar o apoio ao presidente por grande parte do público.

Há poucos dias os mais expressivos institutos de pesquisa divulgaram a coleta de dados que indicou alta popularidade do presidente Lula, em todo o território nacional. Conforme esta última pesquisa de opinião pública, o povo brasileiro demonstra satisfação com o governo Lula. O comércio, a indústria e os setores de prestação serviço revelam crescimentos nunca antes experimentados. Entretanto durante a cerimônia de abertura dos Jogos Panamericanos, no Rio de Janeiro, o presidente Lula foi vaiado. Como se explica esse fenômeno?

Vamos tentar entender.

No mesmo momento em que vaiou o presidente Lula, a claque aplaudiu César Maia, prefeito da cidade. Maia sempre foi considerado um velho marqueteiro político. É uma raposa adversária do PT, foi um dos traidores de Brizola, que fez de Maia um político de expressão nacional. César Maia sonha em conquistar o governo do Estado, quiçá a Presidência da República.

A Prefeitura do Rio tem o poder de controlar a distribuição dos ingressos para as competições do Pan, de forma que, no primeiro dia de venda, já faltavam bilhetes para muitas competições, ingressos que o público em geral não teve acesso. Com os bilhetes que não foram oferecidos ao público, a Prefeitura do Rio pôde organizar caravanas de correligionários de César Maia para a cerimônia de abertura do Pan.

Na véspera do evento, a “torcida organizada” ( a claque de Maia) foi assistir aos ensaios da cerimônia de abertura e, já naquele momento, ensaiou as vaias ao presidente Lula. Isso pode ser visto através de vídeo que circula pela internet.

No primeiro dia de venda de ingressos para o Pan, O público que compareceu às bilheterias do Maracanã não encontrou oferta dos bilhetes para a cerimônia de abertura. Os ingressos foram "esgotados" antes de chegarem às bilheterias.

A popularidade do presidente Lula no Rio, conforme indicam as pesquisas, é alta. Lula não é odiado pelo povo carioca. Muito pelo contrário, Lula goza de grande prestígio no Rio de Janeiro. César Maia, por sua vez, não é tão amado ao ponto de somente ele ser aplaudido naquele momento. A verdade é que a claque de Maia era forte e conseguiu puxar as vaias a Lula e os aplausos ao “prefeito maluquinho”, conforme César Maia é conhecido.

A maioria do povo carioca está indignada sim, mas não é contra o presidente Lula. O povo carioca está indignado com a corrupção que a turma de César Maia promoveu quando da construção dos espaços destinados ao Pan 2007, na cidade do Rio de Janeiro.

Circula pela internet vídeo veiculando informações sobre a organização do Pan. Eis alguns trechos das denúncias:

Você sabia que...

A figurinista da equipe olímpica brasileira, Mônica Conceição, é cunhada de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro... Muita coincidência, não?

Você sabia que...

Marcos Vinícius Freire, representante do Brasil na AON Seguros (empresa que faz o seguro das delegações do próprio COB) é sócio de Alexandre Accioly (aquele que é dono de tudo). E que a empresa que organiza a festa de abertura e de encerramento (contratada sem licitação) é ligada a Accioly...

Você sabia que...

Não houve licitação para contratar a empresa responsável pela segurança do Pan. Para isso foi usado o seguinte argumento : “É assunto sigiloso, não podemos expor”. Foi contratada uma empresa que agora anuncia que não terá tempo para fazer tudo o que deveria ser feito...

Você sabia que...

A agência de turismo contratada para prestar serviços ao COB é de Cristina Lowndes, grande amiga de Nuzman, em uma licitação até hoje contestada...

Você sabia que...

A empresa contratada para idealizar (apenas idealizar, mais nada) as medalhas do Pan ganhou o direito de fazer isso numa mera carta-convite, auferindo 720
mil reais em um contrato de três anos...

Você sabia que...

O Pan não é do COB, e sim da CO-Rio, uma empresa PARTICULAR criada para organizar o evento. Ela pega a prefeitura, o Min. do Esporte, o governo do Estado e simplesmente organiza o evento. Sabe quem abriu essa empresa ? Carlos Arthur Nuzman. Abriu só para isso. Ele é o presidente do COB e da CO-Rio...

Você sabia que...

O projeto inicial para o PAN estava orçado em 720 milhões de reais e hoje chega a quase 3 bilhões. Ganharam a candidatura com um plano mentiroso, subdimensionado em termos de custo dizendo que a iniciativa privada iria bancar. O governo federal disse: “Tudo bem, quer fazer o Pan, nós apoiamos, mas só vamos colocar um certo x de dinheiro”. Assim foi feito.

Dois anos depois bateram à porta do governo e falaram: “A iniciativa privada não veio, não estamos conseguindo captar e se vocês não ajudarem vai ser uma vergonha, vai pegar mal para a imagem do Brasil. O que governo Injetou mais dinheiro para obras do PAN. Aonde está indo neste exato momento parar grande parte do nosso dinheiro público? Nas mãos desse pequeno grupo “gerenciador” do evento... Nas mãos de César maia e sua gangue.

Uma das construtoras que participaram das obras da vila pan-americana não tinha capital suficiente para participar da licitação. O que fez Nuzman? Convenceu o ministro Agnelo Queiroz a convencer Lula a criar uma medida provisória antecipando o aluguel da vila. Exatamente no valor do capital necessário para registrar uma empresa na licitação. Essa empresa recebeu esse dinheiro, registrou o capital e ganhou a licitação.

Após o Pan não se sabe o que será feito com cada instalação, porém muitas servirão para atender a velhas e ilegais reivindicações da iniciativa privada para mexer em regiões do Rio que são tombadas ou são áreas de proteção ambiental. Um exemplo : “queremos fazer um shopping na Marina da Glória, então faremos lá umas obras para as provas de iatismo e já deixamos tudo pronto para depois a iniciativa privada tomar conta e construir o seu shopping”. É tudo jogada.

Você sabia que...

Uma multinacional francesa especializada em catering (alimentação para eventos) recebeu uma proposta indecorosa de um membro do COB : “Olha, escolhemos a sua empresa para fornecer a alimentação, 20% por fora, topas ?” Eis a resposta do presidente da empresa francesa : “Recebi essa proposta. É um bom negócio, mas acho que nós não devemos fazer pois não quero ter cumplicidade”.

Com César Maia é assim: não tem parceiro; tem cúmplice.

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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