Brasil: Estratégia equivocada

Por Milton Lourenço*

Como se sabe, o Itamaraty, sob o atual governo, deixou de lado anos de atuação pragmática para assumir a ideologia esquerdizante do partido de sustentação do governo nas suas relações com as demais nações.

 

O resultado é que, desde o primeiro instante, o governo trabalhou para levar ao fracasso os entendimentos para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), a tal ponto que, em dado momento, o próprio presidente comemorou o fim das negociações. Com isso, ficou claro que o governo abandonara a promoção comercial nos EUA, optando por aliados extremamente instáveis e pouco representativos na América do Sul.

 

Para mascarar a perda de fôlego das vendas externas brasileiras não só para os EUA como para a UE, o governo vem procurando destacar a alta das exportações para novos mercados constituídos por países pobres ou, se preferirem o eufemismo, em desenvolvimento, especialmente para a América Latina. Mas as explicações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) não convencem

 

O que há, de fato, é que um balanço do desempenho do comércio exterior nos três anos do atual governo mostra que a taxa de crescimento das exportações para as economias mais ricas do planeta está abaixo da média total, como provam os dados do Iedi. Não há como mascarar esse fato porque até o eleitor mais desinformado sabe que é melhor vender para países ricos do que para países pobres.

 

Vamos aos números do Iedi: entre 2003 e 2005, as exportações cresceram, em média, 25%, mas, no mesmo período, o total exportado para os sete países mais ricos do mundo, que formam o G-7, cresceu apenas 18%. Já para a América Latina, prioridade de uma política comercial do governo contaminada por objetivos políticos de transformar o atual presidente em pretenso líder latino-americano, a expansão foi de 37%.

 

Em quantidade exportada, os números ainda são mais claros para definir essa preferência pelos países pobres: entre 2002 e 2005, o incremento das exportações para os EUA foi de 18%, para a UE, de 30%, e para o Mercosul, de 181%.

 

Brasil: Estratégia equivocada
Brasil: Estratégia equivocada

Não é preciso esperar o fim do atual governo para constatar os pífios resultados dessa visão equivocada da política externa. Não estão apenas nos prejuízos causados a Petrobrás pelo governo boliviano, com o apoio do governo venezuelano, mas também na desintegração do Mercosul, como  ficou claro com o cancelamento da reunião de cúpula que haveria entre o bloco e a UE, em Viena, por ocasião da 4ª Cimeira União Européia-América Latina e Caribe. Tanto o Mercosul como a sonhada Comunidade Sul-Americana de Nações estão em frangalhos.

 

O pior é que o crescimento das exportações para os mercados de países pobres é resultado da perda de competitividade de produtos brasileiros nos mercados ricos. Não é novidade para ninguém que México, China e Índia vêm avançando nos EUA em faixas que antes eram ocupadas por produtos nacionais. Isto porque esses países mantêm acordos com os EUA que estimulam a entrada de seus produtos, enquanto o Brasil concluiu que havia feito um grande negócio com o fim dos entendimentos para a formação da Alca.

 

Não é preciso ser especialista em comércio exterior para perceber que os produtos brasileiros — siderúrgicos, automóveis e de bens de capital, especialmente — começam a ser empurrados para fora do mercado norte-americano pelos asiáticos, especialmente pela China, o mesmo país que o governo brasileiro reconheceu como economia de mercado, sem levar nenhuma vantagem.

 

Ao estabelecer que os EUA não seriam uma prioridade em sua política externa, o governo agiu com miopia política e infantilismo ideológico. Deu um tiro no pé porque, agora, ao mesmo tempo em que o País perde espaço no maior mercado consumidor do mundo, encontra dificuldades para aumentar suas vendas para a UE por causa de problemas conjunturais do próprio bloco.

 

Só resta, assim, crescer nos países do Sul, o que também não será fácil porque são várias as nações que já negociam acordos de livre comércio com os EUA. Portanto, estamos a pagar pelos nossos erros estratégicos.

(*) Milton Lourenço é diretor-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP (www.fiorde.com.br). E-mail: [email protected]

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