Exportações: novo perfil

Milton Lourenço (*)

O mundo viveu um período de bonança nos últimos cinco anos, mas a participação do Brasil no comércio internacional ficou estagnada, pois em 2007 subiu de 1,1 para 1,2% de tudo o que se exporta no planeta, taxa considerada baixa pelos analistas diante do tamanho da economia brasileira. Com a desaceleração mundial em 2008, provocada pela redução do crescimento econômico dos EUA, que acaba por afetar muitos países, especialmente a China, a previsão do governo de que aquela taxa poderia chegar até 1,25% em 2010 parece condenada a aguardar mais alguns anos.

Se ainda é cedo para se fazer projeções em razão do novo quadro econômico do mundo, por outro lado, parece inevitável que a exportação brasileira deve ganhar um novo perfil em 2009. Hoje, a tendência é a concentração das exportações brasileiras em commodities. Segundo a Associação de Comércio Exterior (AEB), pela primeira vez desde 1980, os manufaturados deverão ter presença abaixo de 50% na pauta de exportações em 2008.

Até aqui, o saldo comercial tem sido mantido porque as commodities – especialmente, minério de ferro, petróleo bruto e soja em grãos – vêm crescendo em função da elevação dos preços, mas não em volume, enquanto os produtos manufaturados sofreram com a valorização do real, que redundou em cancelamento de pedidos. Ocorre, porém, que as commodities também vêm perdendo fôlego.

Segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), a taxa de expansão das exportações brasileiras em 2007 ficou abaixo da média do Mercosul. Além disso, o Brasil foi o que menos evoluiu entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), com suas exportações crescendo 17% em valor, com US$ 160 bilhões. Em termos de volume, porém, o aumento das vendas externas foi de apenas 6,9%. Com isso, o País se manteve na 24ª colocação entre os maiores exportadores, posição que já ocupava em 2006. Em 2005, era o 23º colocado.

Desses números, conclui-se que o País não soube aproveitar plenamente as condições favoráveis apresentadas pelo cenário econômico mundial até o final de 2007. E, se não o fez quando as condições eram excelentes, agora, é que não deverá fazê-lo, mesmo porque até a própria OMC está prevendo um “momento difícil” para todos. No caso do Brasil, como a demanda será mais fraca, haverá, fatalmente, uma redução nos preços das commodities. Em outras palavras: com recessão nos mercados ricos, o País terá dificuldades para aumentar suas vendas. Em compensação, deverá também importar menos, já que o câmbio caminha para um patamar menos favorável.

Como respondem por 25% da economia mundial, os EUA, obviamente, ditam o ritmo da economia do planeta. Portanto, de nada adianta exibir como troféu de caça o fato de o Brasil ser hoje menos dependente do mercado norte-americano, lembrando que os EUA eram responsáveis por 25% das nossas exportações, mas hoje representam apenas 15%. Isso, em termos práticos, não significa que o País seja menos dependente, mas que perdeu – e muito – mercado. Se para alguma coisa serve essa constatação, talvez seja satisfazer aqueles que ainda raciocinam como no tempo da Guerra-Fria.

Como quando os EUA perdem todos perdem, o Brasil terá muitas dificuldades para compensar essa perda com vendas para outros mercados, pois os demais também sofrem com a retração do mercado norte-americano. É o caso da China, que é bastante dependente do mercado norte-americano e compra matéria-prima brasileira em quantidades consideráveis para produzir seus manufaturados.

Como as commodities devem sofrer um recuo, para compensar, o Brasil terá de investir em novos mercados, especialmente para seus produtos manufaturados, que devem ser favorecidos pelo aumento do dólar. Com isso, é de prever que as exportações brasileiras, a partir de agora, comecem a ganhar um novo perfil. Para tanto, o País precisa montar logo uma estratégia que permita aumentar sua competitividade em todos os setores.

Para escapar de uma situação incômoda no ranking dos exportadores– já que está atrás de países relativamente pequenos, como Áustria, Suécia, Suíça e até Emirados Árabes Unidos, que mantêm maior participação no comércio mundial --, o Brasil precisa aprofundar as suas reformas estruturais, como a previdenciária, a fiscal e a trabalhista, além de melhorar a produtividade de suas fábricas e tornar seus produtos mais competitivos, o que só será possível com investimentos maciços em obras de infra-estrutura rodoviária, aquaviária, aérea e portuária.

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(*) Milton Lourenço é diretor-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP. Email: [email protected] Site: www.fiorde.com.br

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