Exclusivo: Senador Magno Malta

1- Como descreveria os 4 anos do Brasil sob um governo do PT?

O Brasil passou a ter, com o Governo do Partido dos Trabalhadores, uma orientação mais voltada para o social, procurando corrigir uma falha histórica que propiciou uma concentração de renda das mais aviltantes, com os mais ricos ganhando 150 vezes mais que os mais pobres. No âmbito econômico, podemos dizer que as ações e medidas tomadas solidificaram uma política inflacionária muito próxima de zero, dentro dos parâmetros adotados pelos países de primeiro mundo. Por outro lado, a crítica comum é em relação à taxa de juros, ainda exorbitante, que inviabiliza um maior crescimento econômico. A valorização monetária do Real acarreta problemas para as exportações e, muitas vezes, torna inviáveis transações favorecendo a concorrência internacional em produtos tradicionais e genuinamente brasileiros. Na área de Segurança Pública acredito que também houve alguns tropeços, pela falta de uma ação mais efetiva por parte das forças militares principalmente nas fronteiras, o que poderia impedir, coibir ou, pelo menos minimizar a questão do tráfico de drogas e armas. Muitas das promessas de campanha ficaram pelo caminho. A mais lembrada é a criação de 10 milhões de emprego. Com muito esforço, o PT poderá chegar à metade disso. A crise política do Executivo, alimentada pelo Congresso Nacional (Legislativo), respingando também no Judiciário, deixou clara a necessidade de se rever conceitos e de se aplicar as leis já estabelecidas, diante do clamor popular contra a impunidade. Enfim, a proposta de governo do PT poderia ter sido boa, se houvesse comprometimento e aplicabilidade por parte dos seus gestores.

2- Quais foram os pontos fortes e fracos do Presidente Lula?

Particularmente, admiro o presidente Lula pelo carisma, pelo apelo popular que reflete e a capacidade de atrair essa confiança da sociedade brasileira. Como disse, parece-me que os pontos fortes do Governo Lula foram a busca para reduzir a desigualdade social e colocar em prática projetos para a melhoria da qualidade de vida das populações mais pobres, além da condução da política econômica com mão de ferro, impedindo sob todos os aspectos qualquer variação inflacionária. Os pontos fracos estariam no baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), em comparação a outros países em desenvolvimento nivelados ao Estado brasileiro, e ainda em uma política internacional prejudicial aos nossos interesses, quando consideramos as negociações com a Alca, com os Estados Unidos, Europa e mesmo com países vizinhos da América do Sul. O Brasil talvez merecesse o papel de principal articulador da política internacional do continente e fraquejou em vários momentos.

3- Quais são as perspectivas para seu partido nas próximas eleições?

Existe uma vertente dentro do Partido Liberal (PL) que defende a correção de seus quadros e uma postura ética e desenvolvimentista. Acredito que haverá uma renovação nos nossos quadros nas eleições desse ano, e julgo necessário que essa mudança se dê pela avaliação popular dos quadros nas urnas. O povo brasileiro está mais consciente do seu papel político e de que é preciso escolher aqueles que realmente poderão representá-los, nas suas mais complexas diferenças e semelhanças. Nessas eleições, se fará valer a cláusula de barreira, uma espécie de depuração política que resultará em um número menor de partidos e que, por conseguinte, terão mais representatividade. Isso faz parte da reforma política em curso, e é um avanço do processo democrático, evitando a existência dos partidos de aluguel, que barganhavam benesses em troca de favores. Creio que o meu partido vai suplantar essa cláusula, e teremos futuras negociações com aqueles que ficaram de fora, para trabalhar em forma de federações de partidos ou alianças, com o objetivo de aprimorar o nosso sistema político.

4- Quais são as prioridades para o Brasil?

Defendo que a prioridade seja a Segurança Pública, com ações efetivas que minimizem essa verdadeira guerra civil que vivemos. Há muito tempo se mata mais por dia no Brasil do que no conflito no Oriente Médio. É uma situação vexatória que passa pela falta de oportunidade de perspectiva de vida de mais de 50% da população que vive abaixo da linha da pobreza. Não podemos fechar os olhos para essa situação e tratá-la com o desdém que tratamos hoje. Não temos no Brasil um plano efetivo para dar educação, saúde, moradia e todo o tipo de assistência para o cidadão comum. Com isso, alimentamos e proporcionamos um aumento da criminalidade. O crime organizado e o narcotráfico se embrenharam em nossa sociedade e o combate a esses marginais não tem recebido a devida atenção por parte das autoridades. Diante da arremetida dos criminosos, a população se vê desprovida, com medo, acuada, submetendo-se aos desmandos dessa nova classe que desafia as polícias, as instituições e o estado de direito. Trata-se de um trabalho de longo prazo para que se possa extirpar esse mal, esse câncer que se instalou no dia-a-dia do brasileiro, e que deve ter início imediatamente, sob risco de haver uma inversão de valores, onde as pessoas de bem serão aqueles que detêm o poder do mal.

5- Como descreveria as relações do Brasil com a Federação Russa?

A análise que faço é de um mercado bastante promissor para ambos os países. Temos alguns acordos na área de alta tecnologia com a Rússia, envolvendo geração de energia, setor aeroespacial, e de defesa civil, como o desenvolvimento de satélites binacionais. As relações econômico-comerciais estão em aberto, com possibilidades de crescimento imensuráveis. Tem a questão do petróleo, da prospecção e extração, com a aproximação da Petrobrás com a empresa russa do setor. Também o setor de telecomunicação. E nós aqui temos um sem número de produtos agropecuários, temos um celeiro, um supermercado pronto para exportar. Acredito que estamos no caminho certo. As negociações caminham e ambos os lados têm interesses nessa relação. Creio que essa parceria ainda renderá muitos frutos e estaremos cada vez mais próximos da Federação Russa.

6- Qual é o futuro para a esquerda no Brasil e no Mundo?

Sou da opinião que as questões ideológicas, de ser de esquerda ou de direita, estão fadadas a um consenso. Hoje, as esquerdas têm aproveitado muito dos bons exemplos da direita. E as direitas também têm feito o mesmo. Sem dúvida pensar no social é hoje uma necessidade mundial. Não é possível que continuemos a querer esconder as mazelas, a fome, a mortandade, a desnutrição, a desumanidade, a pobreza existente em muitos países. Da mesma forma, não podemos fazer proselitismo de autoridades que assumem discurso populista, apenas para conseguir salvaguardas pessoais e defender projetos hereditários e tirânicos. O mundo precisa voltar os olhos para o bem-estar do ser humano em suas necessidades básicas. Ao buscarmos solução para esses problemas emergenciais, como a fome na África e aqui no Brasil, estamos dando um grande passo em direção a um futuro melhor para todos.

PRAVDA.Ru

Entrevista conduzida por

ARMANDO COSTA ROCHA

BRASIL

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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