Brasil: O PT em face do desafio da autocrítica

Segundo Gilberto Maringoni - professor da Universidade Federal do ABC - anotou em texto de sua autoria: "O PT [Partido dos Trabalhadores], pela própria voz da presidente Gleisi (Hoffmann, senadora e presidente do partido), afirmou não querer fazer autocrítica, para não 'fortalecer o discurso dos adversários'." (Cf. MARINGONI, Gilberto & MEDEIROS, Juliano (organizadores). Cinco Mil Dias: o Brasil na era do Lulismo, Boitempo Editorial, 2017).

Iraci del Nero da Costa *

Creio, no entanto, não estarmos em face de uma mera volição da aludida dirigente mas, sim, de um verdadeira impossibilidade. Se não, vejamos.     

Como universalmente sabido, ao partido político que cometer erros graves compete, a fim de justificar-se e ganhar novamente a confiança do eleitorado, realizar uma autocrítica cuidadosa, precisa e completa. Não obstante, por vezes torna-se impraticável tal comportamento. Exemplo claro de tal ocorrência dá-se quando as faltas ultrapassam o âmbito da política ou da ideologia; a presença de crimes de corrupção, entre outros, empresta materialidade ao exemplo acima aventado.

A falta de princípios éticos e ideológicos de parcela expressiva da liderança petista, certamente anterior à sua ascensão ao poder central do Brasil, permitiu a predominância, em sua conduta, de um pragmatismo grosseiro, de concessões irrefreadas aos demais partidos e a vários empreendimentos econômicos privados bem como o desenvolvimento de uma maneira corrupta de agir.

Estamos, pois, a nos defrontar com ações criminosas, fato este que impossibilita a efetivação de uma atitude autocrítica uma vez que não se coloca em pauta a busca de equívocos políticos e/ou ideológicos pois o crime, como apontado, sobrepõe-se a estes dois fatores. Resta aos que não pactuam com deslizes criminosos afastarem-se, desligando-se, de um organismo que já não pode apresentar-se como partido político legítimo, pois viu-se reduzido a um grupo cujos mentores maiores tornaram-se delinquentes.

Destarte, permanecem na aludida organização os fautores dos desvios, as pessoas que com eles pactuam e um grupo o qual, por ignorância política absoluta, não consegue tomar consciência do longo correr de acontecimentos nefastos aos quais estiveram, como todos nós, abertamente expostos e os quais não podem desconhecer integralmente.

A consequência dos argumentos expendidos acima é óbvia: o PT, além de não estar apto a efetuar autocrítica, não tem condições de subsistir como partido político.

No entanto, enquanto tal avantesma contar com a presença na vida política daquele que foi seu líder máximo e que se distingue por ser altamente carismático, seremos assombrados pela aludida sigla a qual, só será afastada definitivamente quando Luiz Inácio da Silva for apartado, ainda que temporariamente, da vida política mediante uma ou outra forma: seja pela justiça, seja pelas urnas. 

Cumpre lembrar, por fim, o quão enganadas estão as pessoas que, sinceramente, cobram autocríticas do PT. Já as que o fazem maliciosamente, pretendendo fazer-nos crer na viabilidade de recuperação da agremiação partidária, são meramente desprezíveis. Ademais, nunca será tarde para se ter em conta que outros partidos brasileiros enfrentarão condições semelhantes à do PT conforme ocorrer o avanço das operações empreendidas pela Operação Lava Jato.

 

* Professor Livre-docente aposentado.

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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