O Brasil na crise econômica

Comentando as gigantescas perdas no mercado de câmbio sofridas pela Sadia (da família de seu ex-ministro Luiz Fernando Furlan) e Aracruz Celulose, grandes exportadoras, o presidente Lula se equivocou ao dizer que elas especularam contra o real. Na verdade, as duas empresas – e talvez outras mais – apostaram na queda do dólar, e não da moeda brasileira. Venderam dólar futuro acreditando na sua baixa, e se deram mal.

Lula tem alguma razão, porém, quando diz que as perdas devem ser creditadas à especulação, e não à crise financeira mundial. Houve imprudência na tentativa de ganhar algo a mais nas operações – normais – de “hedge”, ou proteção contra flutuações cambiais, embora tenha sido a crise, sim, o fator que fez a moeda americana valorizar-se.

A aventura finaceira da Sadia e da Aracruz, que lhes causou prejuízos de RS 760 milhões e R$ 1,95 bilhão respectivamente, no entanto, diz respeito somente a seus acionistas.

Mais que imprecar contra aventureiros do mercado, que, aliás, entraram nesta fria porque acreditaram na força do real – e do País -, cabe ao governo manter a independência de fato do Banco Central e recomendar a seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, uma proverbial frugalidade em declarações acerca da economia.

A crise será de longa duração e não foi causada exlusivamente por bancos de investimento americanos. Na Inglaterra e Espanha, por exemplo, o mercado imobiliário apresentava sinais de saturação há quase um ano. Jornais ingleses informaram que bancos recomendavam aos postulantes a linhas de crédito hipotecárias que informassem, nas propostas, renda maior do que realmente auferiam.

A União Européia estuda, com grandes divergências, a adoção de um pacote de 300 bilhões de euros para salvar instituições em dificuldades. Terá de jogar dinheiro no mercado em meio à inflação crescente. No Japão, a situação não é de causar inveja. O Estado da Califórnia, por conta da escassez de crédito na praça, pediu ao Tesouro um aporte de US$ 7 bilhões, para o pagamento de despesas ordinárias. Por aí se vê o tamanho da encrenca.

O governo age corretamente ao prover linhas de crédito para empresas brasileiras, mas convém pensar na contenção de gastos públicos, mais difícil agora, com aumentos de salário escalonados para o funcionalismo público acima da inflação, que surpreenderam até membros do governo, os quais consideraram-nos exagerados. Afinal, o próprio Ministério do Planejamento propusera uma lei, em 2007, para limitar o aumento dos gastos de pessoal a 1,5% ao ano acima da inflação.

A projeção de gastos com pessoal nos próximos três anos é de 23,1% acima da inflação estimada, embora o limite proposto fosse de 4,6%. O entanto, se a arrecadação de impostos parar de crescer ou cair, será difícil fazer face a estas despesas já contratadas sem sacrificar a prestação dos serviços públicos, o que equivaleria a transferir aos mais necessitados o ônus da crise mundial.

Vale lembrar que há sessenta anos o Brasil exportava 2% do total mundial; hoje, com todo o esforço feito até aqui, exporta pouco mais de 1,1%.

Se as exportações para os EUA, Europa e Japão caírem, o Brasil estará em situação menos confortável para enfrentar a crise.

Embora se possa afirmar que a situação do País situação por ora é tranqüila, o atual estado de serenidade seria muito mais duradouro se houvéssemos feito as reformas tributária e política. Algo que um governante com a estrondosa popularidade de Lula não poderia ter deixado escapar.

Luiz Leitão da Cunha

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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