O que há por trás da crise no Mercosul

SÃO PAULO - Um balanço sobre os prejuízos causados à Nação pelo ciclo de 13 anos, três meses e 24 dias de lulopetismo ainda está para ser feito e só será completado, provavelmente, quando as suas principais figuras já estiverem apenas nos livros de História, mas, desde já, não custa assinalar algumas das decisões erráticas que marcaram seus três governos e meio. Uma delas foi o apoio à entrada da Venezuela no Mercosul em 2012, decisão eminentemente política, pois o Brasil à época já havia assinado um acordo com os venezuelanos que garantia  as mesmas tarifas do bloco, o que pouco afetaria a relação comercial entre os dois países.

 Milton Lourenço (*)

Em outras palavras: por trás de todo o atual imbroglio sobre o direito ou não de a Venuezela assumir a presidência do Mercosul, está a decisão tomada em 2012 de tornar o bloco um fórum político e ideológico, a pretexto de funcionar como uma barreira "ao imperialismo norte-americano". Os estrategistas do governo de Washington, obviamente, não perderam o sono com essa bravata, até porque aquele país não teve nenhum prejuízo com essa mudança de orientação no Mercosul. O prejuízo, isso sim, caiu agora nas mãos de Brasil e Argentina.

Se o Mercosul tivesse continuado a funcionar apenas como bloco comercial, exatamente como havia sido idealizado à época de sua criação em 1991, hoje, não haveria tanta celeuma. E o relacionamento econômico entre Brasil e Venezuela não teria sido tão violentamente afetado: de janeiro a julho, as exportações brasileiras para aquele país já caíram 63% e, até o final do ano, deverão cair mais ainda, já que, hoje, em razão da crise econômica e política por que passa a Venezuela, os empresários brasileiros não querem arriscar vender seus produtos para lá porque não sabem se vão receber.

Tudo isso é de se lamentar, pois até 2015, na América do Sul, a Venezuela constituía o segundo principal destino das exportações brasileiras, ficando atrás apenas da Argentina. Neste ano, em função de sua crise interna, a Venezuela, dentro do Mercosul, já está atrás do Paraguai e do Uruguai como destino das exportações brasileiras. E como mercado importador de produtos do agronegócio brasileiro perdeu o posto principal para o Chile. Também como mercado importador de produtos manufaturados a Venezuela perdeu importância, depois de ter sido em 2012 o segundo principal destino das exportações brasileiras nesse segmento.

Como se sabe, por trás das questiúnculas políticas e formais, está a necessidade que Brasil e Argentina têm de negociar sozinhos acordos com outros blocos e tratados internacionais. De fato, em função do Mercosul, mas não só por isso, o Brasil hoje tem apenas três acordos negociados e, mesmo assim, com nações de economia pouco expressiva. Há, portanto, uma necessidade premente de que opte por uma estratégia que contemple maior número de acordos comerciais, mediante a redução de tarifas aduaneiras, concessão de facilidades tarifárias e abertura de mercados, visando a sua inserção competitiva no planeta, por meio da ampliação das exportações, notadamente de produtos manufaturados.

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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: [email protected]. Site:www.fiorde.com.br

 

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