Brasil-EUA: mais negócios

SÃO PAULO -  Os Estados Unidos constituíram, durante muitos anos, o principal mercado para os produtos brasileiros, até que foram suplantados  nos últimos tempos pela China. A diferença é que, enquanto o Brasil exporta para os Estados Unidos produtos manufaturados de elevado conteúdo tecnológico, como aviões, além de ferro-liga, petróleo em bruto, café em grão e pastas químicas, para o mercado chinês seguem apenas produtos básicos, especialmente minério de ferro e soja.

Milton Lourenço (*)

Mesmo assim, as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos continuam em alta, já que as trocas entre as duas nações chegam perto de US$ 60 bilhões por ano, ainda que pudessem estar hoje num patamar ainda maior. É de lembrar que os Estados Unidos são os maiores investidores externos no Brasil - cerca de US$ 12 bilhões em 2012 e US$ 9 bilhões em 2013.

Mais: o Brasil é o oitavo maior parceiro comercial dos Estados Unidos, tendo gerado, nos últimos três anos, raros superávits comerciais para aquele país. Afinal, sendo o maior mercado do planeta, o natural é que os Estados Unidos comprem mais do que vendam para os seus parceiros. Se isso não se dá, algo de errado há. Até porque o Brasil como economia está longe de se comparar com a nação norte-americana.

Em 2013, houve um crescimento de 76% nas exportações brasileiras para a maior economia do mundo, mas essa tendência não foi suficiente para frear o déficit comercial. Se na primeira metade de 2009 o Brasil importou US$ 2,49 bilhões mais do que exportou, nos primeiros seis meses de 2014 o saldo negativo subiu para US$ 4,73 bilhões, com a exportação dos EUA crescendo 80%. O déficit brasileiro com os Estados Unidos só não foi maior porque houve um crescimento na venda de petróleo em bruto, que depois retorna para aqui em forma de gasolina e diesel. Ora, esta é uma típica relação subalterna que já deveria ter sido superada.

Seja como for, esses números poderiam ter sido mais robustos. Basta ver que, em 2012, o comércio com os Estados Unidos representava 23,8% do total do que o Brasil exportava. Se tivesse sido mantido esse percentual, hoje a corrente de comércio entre os dois países estaria em torno de US$ 100 bilhões. O pior ano, nos últimos tempos, foi o de 2013, quando as exportações do Brasil para o mercado norte-americano caíram para o nível em que estavam em 2006, US$ 24,3 bilhões.

Com o chamado custo Brasil tirando a competitividade do produto nacional, está cada vez mais difícil vender não só para os Estados Unidos como para a União Europeia. De modo geral, o produto manufaturado brasileiro vem perdendo espaço para competidores chineses, inclusive na América Latina, o que inclui os parceiros do Mercosul, apesar das vantagens logísticas.

É verdade que o trabalho da agência oficial Apex-Brasil abriu espaço em mercados não-tradicionais, como o Oriente Médio, África, Oceania e Ásia Central, mas esse esforço foi insuficiente para reverter uma tendência de estagnação ou mesmo de queda nas exportações de manufaturados. Para piorar, houve um incremento nas políticas protecionistas dos países ricos. Os Estados Unidos, por exemplo, para sair da crise iniciada em 2008, trataram de aumentar suas exportações.

Enfrentar (e mudar) esse quadro desfavorável será o principal desafio do próximo governo na área de comércio exterior.

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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: [email protected]. Site: www.fiorde.com.br.

 

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