Os 90 anos da Crise de 1929

Os 90 anos da Crise de 1929

  

Paulo Galvão Júnior

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1.      INTRODUÇÃO

No presente artigo de economia foram analisados os antecedentes, as principais causas e consequências decorrentes da Crise de 1929 nos Estados Unidos da América (EUA), que levou a maior economia do sistema capitalista a fase cíclica mais negativa, a depressão econômica.

 A economia norte-americana saiu da prosperidade econômica para a depressão econômica na década de 1920. A Crise de 1929 nos EUA se propagou pelo mundo na década de 1930, assim o capitalismo muda da noite para o dia de liberalismo econômico para o keynesianismo, no ano de 1933, ou seja, ocorre a intervenção do Estado na economia para estimular as atividades econômicas em momentos de crise.

 O objetivo principal deste artigo foi analisar os impactos econômicos, sociais e políticos da Crise de 1929 nos EUA, como também, no mundo, além de contribuir para melhor compreensão dos estudantes dos ensinos médio e superior da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) sobre a maior crise do capitalismo de todos os tempos.

 A Crise de 1929 na Bolsa de Valores de Nova York completou 90 anos em 24 de outubro de 2019. Este artigo foi elaborado para ser utilizado nas comemorações alusivas ao 90° aniversário da Grande Depressão (Great Depression). De forma simples, o artigo realiza análises reflexivas do ciclo econômico com base no pensamento keynesiano, numa abordagem pelo lado da demanda agregada (aggregate demand) da devastadora Crise de 1929 e é composto por dez seções distintas.

 A primeira seção apresenta uma breve introdução. A segunda seção trata dos antecedentes da Crise de 1929. A terceira seção aborda as principais causas da Crise de 1929. A quarta seção analisa as principais consequências da Crise de 1929. A quinta seção retrata a crise mundial no Brasil. A sexta seção verifica as quatro fases do ciclo econômico numa economia capitalista. A sétima seção analisa os principais indicadores econômicos dos EUA entre 1929 e 1933. A oitava seção retrata a recuperação econômica dos EUA com o New Deal (Novo Acordo). A nona seção analisa o Estado de Bem-Estar Social (Welfare State). E a última e décima seção traz as considerações finais.

 2.      ANTECEDENTES

 Nesta seção o artigo trata sobre os principais acontecimentos políticos e econômicos que desencadearam a Crise de 1929 nos EUA. Com o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) os países da Europa Ocidental estavam sofrendo com as elevadas taxas de desemprego. Os EUA no pós Grande Guerra já era a maior potência econômica mundial e contribuiu muito com a reconstrução da Europa Ocidental.

 A participação dos EUA na produção mundial era de 85% em automóveis, 75% em produtos fotográficos, 66% em petróleo, 60% em cobre e alumínio, 53% em carvão e 40% em aço e ferro no ano de 1920.

 O alto volume de exportações dos EUA de bens industrializados como aço, armas, carros e calçados e de produtos agrícolas como trigo, algodão e milho para o resto do mundo foram fundamentais para promover a prosperidade americana, a melhor fase do ciclo econômico.

 De maior devedor do planeta, com aproximadamente US$ 3 bilhões, antes da Primeira Guerra Mundial, para o maior credor internacional, com aproximadamente US$ 12 bilhões, oriundo de empréstimos de milhões de dólares americanos para os países comprarem os produtos Made in USA (Feito nos EUA).

 Por outro lado, American Way of Life (Modo de Vida Americano) provoca consumo em massa, compras a prazo de bens de consumo duráveis como carros, rádios, geladeiras, fogões, liquidificadores, gramofones, câmeras de filmagem e TVs, além de compras à vista de bens de consumo não duráveis como refrigerantes, chocolates, chicletes, sanduíches, pizzas e café. Os americanos e as americanas frequentam em massa os cinemas, os cassinos, os salões de beleza, os restaurantes, os teatros, as festas para dançar Charleston e os bailes de jazz, os conhecidos "anos loucos" ou "anos felizes".

 O Partido Republicano permaneceu no poder por 12 anos consecutivos com os presidentes Warren Harding (1921-1923), Calvin Coolidge (1923-1929) e Herbert Hoover (1929-1933) durante a década de 1920. "Embriagado pela prosperidade, o presidente Herbert Hoover disse: Com a ajuda de Deus, logo iremos alcançar o dia em que a pobreza será banida da nação" (CAMPOS; MIRANDA, 2005, p.464).

 O moralismo com a Lei Seca a partir de 1919, proibindo a fabricação, a venda e o transporte de bebidas alcoólicas, mas permitindo o seu consumo, pois entendiam que o vício era muito prejudicial à produção e a produtividade de um trabalhador americano, porém fortaleceu o contrabando de bebidas alcoólicas como whisky e o crime organizado nas grandes cidades.

 Nos EUA vigorava o liberalismo econômico, a não intervenção do Estado na economia, fortemente influenciado pelo pensamento econômico do economista escocês Adam Smith (1723-1790). Em pleno capitalismo financeiro, o dólar norte-americano torna-se a moeda mais importante da economia internacional, resultado do período da prosperidade econômica nos Estados Unidos da América (United States of America - USA), além da recessão europeia por manter o padrão-ouro e os juros básicos altos.

  3. CAUSAS

 Nessa seção o artigo aborda as quatro principais causas da Crise de 1929 nos EUA, na época com 121 milhões de habitantes: (i) Superprodução; (ii) Subconsumo; (iii) Especulação financeira; e (iv) Expansão do crédito bancário.

  3.1 Superprodução

 A diminuição das exportações americanas é devido à recuperação econômica dos países da Europa Ocidental como o Reino Unido, a França, a Holanda e a Itália, a partir de 1921.

 Quando a oferta é maior do que a demanda por produtos percebe-se a superprodução (overproduction). A superprodução industrial provocou estoques e prejuízos econômicos desde 1925. Nos EUA, a média, era de um carro para cada 6 pessoas. Ocorreram demissões e contenção de despesas, devido o alto estoque de bens industrializados como automóveis e comidas enlatadas.

 Ocorre também uma superprodução agrícola, principalmente, de trigo, logo, o produtor no campo não encontra comprador interno ou externo. Ressalta-se que nos EUA, em 1920, as propriedades rurais tinham 25 milhões de cavalos, 246 mil tratores, quatro mil colheitadeiras de grãos, além de 139 mil caminhões.

 A superprodução de petróleo e de carro (linha de montagem do Ford Modelo T desde 1914) prejudicou os negócios dos homens mais ricos dos EUA, John D. Rockefeller e Henry Ford.

  3.2 Subconsumo

 Quando ocorre o excedente de produção de bens, ou seja, o que não é consumido, surge então o subconsumo (underconsumption). Por exemplo, o excedente de produção de carros das marcas Ford, Chrysler e General Motors nos EUA gerou o subconsumo em 1929.

 Pode-se verificar que ainda ocorre uma forte diminuição do consumo de bens e serviços na economia americana provocada pelos seguintes fatores: (i) Saturação do mercado interno com a diminuição da campanha publicitária; (ii) Forte retração do mercado interno; (iii) A queda do poder aquisitivo não acompanhava a produção de bens industrializados; (iv) Exploração de operários e ausência de leis trabalhistas; e (v) Elevada concentração de renda (10% mais ricos detinham 90% da Renda Nacional).

 Acabou o lema "buy now, pay later" (compre agora, pague depois) da prosperidade, sem limites, em uma escala nunca vista na sociedade americana. Milhões com roupas novas compraram títulos de liberdade (liberty bonds), ações (stocks) carros (cars) ou chapéus (hats), mas, com a crise econômica aumentou o contingente de americanos sem dinheiro, sem consumo de bens e serviços.

 Vários economistas consideram que a depressão econômica não foi só oriunda da superprodução, mas, também provocada pelo subconsumo, ou seja, o consumo inferior às necessidades. Com política de queda salarial nos EUA só aumentou o subconsumo.

 3.3 Especulação Financeira

 A prosperidade financeira mais fictícia do que o lucro real da empresa, não acompanhava o crescimento que se verificava nos preços das ações, sejam elas ações ordinárias (ON) ou ações preferenciais (PN), provocando altos investimentos na Bolsa de Valores de Nova York (New York Stock Exchange - NYSE), fundada em 1792, na famosa Wall Street, número 11, com a compra exagerada de ações das empresas como United States Steel Corporation, General Motors, Ford, Chrysler, Standard Oil Company, Singer, Kodak, P&G e Coca-Cola.

 Uma ação é a menor parcela do capital social de uma empresa de sociedade anônima. O valor da ação subia cada vez mais no pregão da NYSE. "No início de 1928, o valor de uma ação da Radio Corporation of America (RCA) custava 85 dólares; em setembro de 1929, seu valor havia subido para 505 dólares" (CAMPOS; MIRANDA, 2005, p.465), ou seja, um crescimento absoluto de US$ 420 e um aumento relativo de 494,11%.

 Em 24 de outubro de 1929 foi uma quinta-feira negra (black thursday) e ocorreu a grande queda (the great crash) da NYSE, em Wall Street. O Índice Dow Jones teve forte queda, 12,8 milhões de ações disponibilizadas com preço em forte queda, sem compradores, um grande desastre financeiro. A desvalorização das ações ordinárias e ações preferenciais foram de 10 bilhões de dólares no único e drástico pregão.

 A quinta-feira de 24 de Outubro é o primeiro dia que a história se identifica com o pânico de 1929. (...) Nesse dia, 12.894.650 ações mudaram de dono, muitas delas a preços que destruíram os sonhos e as esperanças dos que as possuíam. [...] Cerca das onze horas, o mercado tinha degenerado numa confusão doida e desenfreada para vender [...]. Às onze e meia era verdadeiramente o pânico. [...] Ajuntamentos formaram-se em volta de sucursais das firmas de corretores na cidade e por todo o país. [...] Os suicídios sucediam-se e onze especuladores bem conhecidos tinham já morrido (Galbraith, 2009).

 Em 29 de outubro de 1929 foi uma terça-feira negra (black tuesday) e aconteceu a grande quebra (the great crack) da NYSE e uma nova queda do Índice Dow Jones. As ações despencaram em mais de 40% de seu valor. Um alto volume de ações à venda e os preços despencaram no pregão.

 O novo pânico em Wall Street, 16,4 milhões de ações foram postas à venda no pregão, a preços bem baixos, mas não foram compradas, e levaram os acionistas à bancarrota no país mais rico do planeta, com uma perda de US$ 14 bilhões.

 No colapso financeiro de outubro de 1929, milhões de acionistas perderam, literalmente da noite para o dia, grandes somas em dólares. Muitos perderam tudo que tinham. Muitos investidores cometeram atos de suicídio nos altos prédios de Nova York, a maior cidade dos EUA e uma das maiores cidades do mundo.

 Essa queda, em seguida, essa quebra na Bolsa de Valores de Nova York - o centro financeiro mundial - piorou drasticamente a taxa de desemprego, causando a deflação e a forte redução nas vendas de bens e serviços, que por sua vez obrigaram ao encerramento de inúmeras empresas comerciais e industriais por todo o país, elevando o contingente de desempregados nos EUA.

 Nas ruas das cidades americanas, os filhos dos desempregados estavam com cartazes "Why can't you give my dad a job?" (Por que não dá um emprego ao meu pai?) ou os próprios desempregados vendendo maçãs (apples) por cinco cents cada.

  3.4 Expansão do Crédito Bancário

 Os bancos americanos como JP Morgan Bank ofereciam muito crédito, a juros baixos, para estimular as produções agrícola e industrial e ao mesmo tempo elevar o consumo das famílias, além da especulação financeira, já que entre 1924 e 1929, o Dow Jones Industrial Average (DJIA) alcançou mais de 300%.

 A expansão do crédito bancário muito fácil deflagrou um colapso financeiro nos EUA e nos países capitalistas como o Canadá. Depois dos EUA, o Canadá, o segundo maior país do mundo, foi o país mais atingindo duramente durante a Grande Depressão.

 O fácil acesso ao crédito nos bancos, com nenhuma regulamentação governamental, incentivou mais empréstimos, com uma taxa de juros baixa do FED (Federal Reserve System), o banco central americano e fundado em 1913. "Em 1929 existiam 25 mil bancos no país, em 1933 estavam reduzidos a menos de 15 mil" (CAMPOS; MIRANDA, 2005, p.466), portanto, mais de nove mil bancos faliram nos EUA entre 1929 e 1933.

 Em seu best-seller Dicionário de economia do século XXI, para o economista Sandroni (2008, p.204) a crise econômica significa:

 Perturbação na vida econômica, atribuída pela economia clássica a um desequilíbrio entre produção e consumo, localizado em setores isolados da produção. (...) Na economia capitalista, embora também possam ocorrer perturbações derivadas da escassez, as crises econômicas características do sistema são as de superprodução. (...) A mais série crise econômica mundial foi a de 1929-33, chamada Grande Depressão.

 As ações das empresas sofreram uma queda vertiginosa na NYSE, perdendo quase todo o seu valor inicial. As empresas foram forçadas a reduzir a produção e demitir os seus funcionários. A corrida bancária dos clientes por dinheiro nos bancos provou o caos econômico, financeiro e social nos EUA, era a Grande Depressão. Totalmente diferente dos "anos felizes" durante os anos de 1919-29.

 Em seu valioso Dicionário de economia do século XXI, o economista paulista Paulo Sandroni (2008, p.237) define a depressão econômica como a "Fase do ciclo econômico em que a produção entre em declínio acentuado, gerando queda nos lucros, perda do poder aquisitivo da população e desemprego".

 4. CONSEQUÊNCIAS

 Em tempos difíceis, a partir da Crise de 1929, entre as principais consequências, a mais drástica nos EUA, foi que o desemprego involuntário chegou a mais de 15 milhões de pessoas em 1933. De acordo com o economista norte-americano Rifkin (1995, p.26):

 Em outubro de 1929, um pouco menos de um milhão de pessoas estavam desempregadas. Em dezembro de 1931, eram mais de dez milhões de americanos sem trabalho. Seis meses depois, em junho de 1932, o número de desempregados havia crescido para 13 milhões. O desemprego atingiu seu ponto máximo, com mais de 15 milhões de desempregados, no auge da depressão, em março de 1933.

 As falências generalizadas, mais de 85 mil empresas e nove mil bancos nos EUA, além dos salários perderam 60% de seu poder de compra, revelando a catástrofe econômica mais devastadora na economia americana.

 A cotação das ações das empresas americanas caiu, em média, de 85% entre 1929 e 1932. Nove milhões de cadernetas de poupança foram perdidas com a falência dos bancos nos EUA, um grande exemplo, foi o Bank of United States (Banco dos Estados Unidos), fundado em junho de 1913 e falido em dezembro de 1930. Milhões de americanos ficaram pobres e passaram fome nas ruas do país mais rico do mundo.

 

A crise do liberalismo econômico nos EUA e na Europa Ocidental, além da crise das democracias parlamentares na Europa Ocidental, ambas provocam a ascensão de regimes totalitários, o fascismo na Itália com Benito Mussolini (Duce) em 1922, o nazismo na Alemanha com Adolf Hitler (Führer) em 1933, além do salazarismo com António Salazar em Portugal, em 1932 e do franquismo com Francisco Franco (Generalíssimo) na Espanha, em 1939.

 

A exceção foi a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) na Europa Oriental com o líder Stalin. Na União Soviética vigorava a economia socialista desde a Revolução de 1917, liderada por Lênin, além do isolamento internacional e dos Planos Quinquenais no governo totalitário de Stalin.

 

De acordo com Keynes (1983, p.253) no capítulo 24, na Teoria Geral de 1936, "Os principais defeitos da sociedade econômica em que vivemos são a sua incapacidade para proporcionar o pleno emprego e a sua arbitrária e desigual distribuição da riqueza e das rendas".

 

O capitalismo gera desigualdade social e a intensificação da desigualdade econômica é fruto da péssima distribuição de renda. O capitalismo provoca desigualdade socioeconômica e os níveis de desigualdade são alarmantes no mundo. Os milhões de desempregados no planeta aumentam a desigualdade (mensurado pelo Índice de Gini) e o número de pessoas famintas em vários países.

 

Como bem destacar Rossetti (2002, p.791):

 

A macroeconomia keynesiana não propõe que o governo assuma a propriedade dos meios de produção. A prescrição é uma vigorosa política fiscal, fundamentada em investimentos públicos, para elevar a procura agregada a níveis compatíveis com os da oferta agregada potencial.

 

A política fiscal expansionista de Keynes, o Governo baixa impostos e aumenta os gastos públicos na economia de mercado, provocando o crescimento da demanda agregada (DA) a curto prazo. A demanda agregada representa a quantidade de bens e serviços que as famílias, as empresas e o governo de um país e o resto do mundo desejam e podem consumir para cada nível determinado de preço. Posteriormente, Keynes (1983, p.258) enfatizou:

 

Os regimes autoritários contemporâneos parecem resolver o problema do desemprego à custa da eficiência e da liberdade. É certo que o mundo não tolerará por muito mais tempo o desemprego que, à parte curtos intervalos de excitação, é uma consequência - e na minha opinião uma consequência inevitável - do capitalismo individualista do nosso tempo. Mas pode ser possível curar o mal por meio de uma análise correta do problema, preservando ao mesmo tempo a eficiência e a liberdade.

 

A Crise de 1929 foi o terremoto econômico mais impactante do século XX. Nos EUA muitas pessoas perderam seus empregos, muitas pessoas perderam dinheiro; muitas famílias ficaram endividadas, perderam suas casas, passaram fome, enfim, famílias de homeless (sem-teto) em péssimas condições de vida.

 

Com a Crise de 1929, nos EUA vigorou também o protecionismo alfandegário com a implantação do Ato da Tarifa Smoot-Hawley em 17 de junho de 1930, que aumentou os impostos de cerca de 20 mil produtos no país.

 

A Crise de 1929 nos EUA estendeu-se, primeiro, aos países vizinhos, o Canadá e o México, depois à Europa, e em seguida, o resto do mundo, era a mundialização da crise do capitalismo.

  

5. A CRISE MUNDIAL NO BRASIL

 

A Crise de 1929 foi um hecatombe econômico nos EUA se espalhou pelo mundo, chegou e afetou duramente o Brasil também, onde a economia ainda era baseada na cafeicultura. O café (coffee) representava 71% das exportações brasileiras e os grandes compradores eram os EUA e, em segundo lugar, a Europa.

 

Após a queda da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, o governo estudou diversas medidas a serem tomadas para evitar que os produtores de café ficassem vulneráveis. A Crise de 1929 provocou o declínio do ciclo do café, o fim da República Velha e o início da Revolução de 1930, liderada pelo gaúcho Getúlio Vargas, ex-ministro da Fazenda do presidente Washington Luís.

 

Segundo os historiadores Campos e Miranda (2005, p.469), "A crise de 1929 ocorreu em meio à campanha eleitoral. Apesar disso e do desgaste do governo, Júlio Prestes foi eleito presidente com quase 60% dos votos". A chapa derrotada era formada por Getúlio Vargas e João Pessoa. Mas, posteriormente, o presidente do estado da Paraíba, na época, João Pessoa foi assassinado em 26 de julho de 1930, em Recife, no estado vizinho de Pernambuco. Os líderes dos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba se uniram para mudar os rumos do Brasil.

 

Ressalta-se que explodiu a Revolução de 1930 em 03 de outubro em, seguida, o presidente Washington Luís foi deposto no Rio de Janeiro em 24 de outubro, e o presidente eleito Júlio Prestes impedido de assumir o cargo e ambos foram exilados para os EUA e posteriormente, para a Europa. Com o presidente Getúlio Vargas em 03 de novembro de 1930, o Estado começava a ter papel fundamental na economia brasileira, predominando o pensamento desenvolvimentista-nacionalista.

 

O presidente Getúlio Vargas acabou com a política do café com leite, liderada pelos barões do café paulista e pelos pecuaristas mineiros e, sobretudo, mandou queimar 4,7 milhões de toneladas de café para diminuir a oferta no mercado internacional e aumentar o preço internacional da saca de café, devido à superprodução de café. Os barões do café tornaram-se os novos donos de fábricas no País, sobretudo, na região Sudeste.

 

O presidente da então República dos Estados Unidos do Brasil, Getúlio Vargas, ele criou o Conselho Nacional do Café (CNC) em 1931. Dois anos depois, em 1933, esse órgão estatal passou a ser chamado de Departamento Nacional do Café (DNC). O governo Vargas queimou 80 milhões de sacas de café próximo ao Porto de Santos e comprou outras milhões de sacas de café para serem distribuídas nas repartições públicas localizadas no Rio de Janeiro, segunda capital do Brasil.

 

A taxa de crescimento do PIB brasileiro foi de 1929 (1,1%), 1930 (-2,1%), 1931 (-3,3%), 1932 (4,3%) e 1933 (8,9%) durante a Grande Depressão dos anos 30, em média, de 1,8% ao ano.

 

Segundo o professor de Economia na Universidade de Utah, Hunt (2005, p.383), "A Grande Depressão dos anos 30 foi um fenômeno mundial, que afetou todas as grandes economias capitalistas" como a Inglaterra e a França, todavia, ela afetou também outras economias capitalistas como o Brasil e a Argentina. Reforçando o pensamento econômico de Hunt (2005, p.384), "Em uma economia capitalista, as decisões de produção baseiam-se, principalmente, nos lucros - e não nas necessidades das pessoas". Na Áustria e na Alemanha os bancos faliram e levaram milhões ao desemprego.

 

O economista inglês Keynes (1983, p.20) estudou o desemprego nos EUA durante a Grande Depressão nos anos 30:

 

Ademais, o argumento de que o desemprego que caracteriza um período de depressão se deva à recusa da mão de obra em aceitar uma diminuição dos salários nominais não está claramente respaldado pelos fatos. Não é muito plausível afirmar que o desemprego nos EUA em 1932 tenha resultado de uma obstinada resistência do trabalhador em aceitar uma diminuição dos salários nominais, ou de uma insistência obstinada de conseguir um salário real superior ao que permitia a produtividade do sistema econômico.

 

É necessário tem em mente que o sistema econômico estudado e defendido por Keynes foi o sistema capitalista. Keynes escreveu um livro revolucionário em 1936 que nos ajudar a compreender o ciclo econômico no capitalismo.

  

6. CICLO ECONÔMICO

 

A percepção da Crise de 1929 tem um papel muito importante no estudo do ciclo econômico. A Crise de 1929 foi a maior catástrofe econômica dos EUA e gerou milhões de desempregados e de pobres, que diariamente enfrentaram filas quilométricas para tomarem sopa quente e gratuita e comerem pão quente e doado pelo Governo com sede administrativa em Washington, D.C. (District of Columbia - Distrito de Colúmbia), ao lado de outdoors com as frases: "World's highest standard of living" (Os melhores padrões de vida do mundo) e "There's no way like American Way" (Não existe modo de viver como o americano).

 

O capitalismo caracteriza-se por fases cíclicas distintas. Segundo o saudoso professor de Macroeconomia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o economista José Alfredo Leite (2000, p.638), "Wesley C. Mitchell explicou que o ciclo econômico se manifestava na forma de ondas de períodos regulares, que apresentavam quatro fases importantes denominadas prosperidade, recessão, depressão e recuperação".

 

Não há dois ciclos econômicos iguais, logo, variam tanto na periodicidade, na amplitude quanto na severidade e na difusão. A duração não é previsível, embora seja possível prever suas fases. A depressão econômica mais dura ocorreu na década de 1930, conhecida como a Grande Depressão, um período de altas taxas de desemprego entre 1929 e 1933.

 

Se a contração econômica é especialmente intensa na economia, então, estamos diante de uma depressão (depression). A Grande Depressão ocorreu por causa da superprodução capitalista e do subconsumo, além da não intervenção do Estado na economia americana, pois o pensamento econômico predominante era o liberalismo econômico do governo.

 

A Ciência Econômica utiliza os termos expansão econômica (prosperidade e recuperação) e retração econômica (recessão e depressão). Existe um ciclo de alternância de expansão (boom) e de retração (bust). Existem ondas de duração, amplitude, severidade e difusão irregulares e difíceis de prever pelos economistas, com raras exceções como o economista Nouriel Roubini conhecido como Dr. Apocalipse, após prever a Crise de 2008, em 15 de setembro, conhecida nos EUA como a Grande Recessão, após 79 anos da Crise de 1929.

 

Segundo Hobsbawm (1995, p.105), na sua obra prima denominada Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991, "Mesmo a pior depressão cíclica mais cedo ou mais tarde tem de acabar". Portanto, toda crise econômica é cíclica. Toda crise econômica é um fenômeno natural no sistema capitalista, há momentos de retração econômica da atividade econômica, a pior retração econômica denomina-se de depressão econômica.

 

Com a depressão econômica no país cresce o desemprego. É muito difícil conseguir uma vaga de emprego, logo, aumenta à pobreza, um dos principais problemas do mundo, assim piorando as concentrações de renda e de riqueza na nação.

 

Da época de depressão para o período de prosperidade, a teoria keynesiana defenderá mais gastos governamentais, menos impostos e baixos juros para a economia se recuperar da fase recessiva. O crescimento robusto da economia acontecerá com o aumento da circulação de dinheiro entre os agentes econômicos.

 

7. OS PRINCIPAIS INDICADORES ECONÔMICOS DOS EUA

 

Mesmo com os avanços tecnológicos nos EUA e no mundo, na época, entre 1919 e 1929, a televisão (1923), o cinema sonoro (1926), a penicilina (1928) e o fax (1929), a economia global abriu um grande abismo cada vez maior entre os mais ricos e os mais pobres. Como, hoje, posso mensurar um sofrimento tão grande, um pranto tão longo, depois de 90 anos?

 

No período entre guerras, de modo geral, os principais indicadores econômicos dos EUA, a maior economia do mundo, entre 1929 e 1933, que podemos mensurar nos diais atuais são o PIB nominal, a taxa de desemprego, a taxa de inflação e o comércio internacional.

 

Quadro 1. Os Principais Indicadores Econômicos dos EUA durante a Grande Depressão, 1929-1933

ANO

PIB

NOMINAL

TAXA DE DESEMPREGO

TAXA DE INFLAÇÃO

COMÉRCIO

INTERNACIONAL

1929

US$ 103,6 bilhões

3,2%

-1,1%

US$ 65 bilhões

1930

US$ 91,2 bilhões

8,9%

-2,6%

US$ 55 bilhões

1931

US$ 76,5 bilhões

16,3%

-10,1%

US$ 39 bilhões

1932

US$ 58,7 bilhões

24,1%

-9,3%

US$ 27 bilhões

1933

US$ 56,4 bilhões

25,2%

-2,2%

US$ 24 bilhões

Fonte: Elaborado pelo autor.

  

A depressão é um longo período de acentuada queda do PIB nominal, por três ou mais anos consecutivos de uma economia. O PIB dos EUA caiu de US$ 103,6 bilhões em 1929 para US$ 56,4 bilhões em 1933, ou seja, uma queda de US$ 47,2 bilhões, em outras palavras, o PIB norte-americano contraiu 45,56%.

 

O desemprego é ociosidade involuntária daquela pessoa que está disposta a trabalhar e não encontra quem o empregue em um dos três setores da economia. A taxa de desemprego nos EUA aumentou de 3,2% em 1929 para 25,2% em 1933, ou seja, um crescimento de 22%.

 

A deflação, um declínio persistente e generalizado no nível geral de preços de uma economia, ocorreu forte nos EUA, pois era um indicador de depressão econômica, no qual se observa atentamente uma acentuada deflação de -1,1% em 1929 para -10,1% em 1931. Quando os preços caem muito, as empresas cortam custos de produção, principalmente demitem trabalhadores. Estes desempregados não podem comprar bens nem serviços, então os estoques continuam a crescer e os preços caem ainda mais.

 

A mais grave crise do capitalismo mergulhou os EUA numa depressão, e a crise ganhou uma dimensão global com a forte redução do crédito mundial e com a alta nas tarifas alfandegárias, provocando uma retração no comércio internacional de US$ 65 bilhões em 1929 para US$ 24 bilhões em 1933, ou seja, uma queda de US$ 41 bilhões no intercâmbio de bens e serviços entre os EUA e o resto do mundo.

  

8. RECUPERAÇÃO ECONÔMICA DOS EUA

 

Toda depressão econômica tem início, auge e declínio. Com a eleição de Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), do Partido Democrata, em 1932, para presidente dos EUA, o quarto maior país do mundo, com mais de 9,3 milhões de quilômetros quadrados, então surgiu à esperança de dias melhores na economia.

 

De acordo com os professores de História Campos e Miranda (2005, p.467);

 

Durante a campanha eleitoral, Roosevelt havia se comprometido a estabelecer um "Novo Ajuste" (New Deal) para o povo americano. Em seu discurso de posse declarou: "A única coisa a temer é o próprio medo".

 

A recuperação econômica começou em 1933, quando Roosevelt implantou o New Deal (Novo Acordo), totalmente inspirado nas teorias revolucionárias do economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946). Keynes pregava uma política fiscal expansionista para acelerar a demanda agregada. É preciso destacar que os conselhos econômicos de Keynes para Roosevelt vieram por uma carta aberta publicada no jornal The New York Times de 31 de maio de 1933, após a posse do 32º presidente dos EUA em 04 de março de 1933.

 

A Crise de 1929 provocará o fim da mão invisível do mercado, de Adam Smith, de 1776, e surgirá a "mão visível do Estado", de John Maynard Keynes, de 1936. Em outras palavras, o economista Keynes por defender o papel do Estado forte como um indutor econômico, tornou-se o economista mais influente no cenário mundial.

 

O presidente Roosevelt mandou fechar os bancos em crise e reformular o sistema bancário nos EUA. De modo geral, muitas das propostas do professor de Economia da Universidade de Cambridge, Keynes, foram adotadas no New Deal entre 1933 e 1936, entre elas destacam-se: (i) O Estado regulamenta a economia americana começando pelos bancos privados e inicia o intervencionismo implantando a NRA (National Recovery Administration - Administração da Recuperação Nacional); (ii) Criação de agências governamentais para administrar obras públicas: estradas, barragens, pontes, viadutos, hidrelétricas, habitações populares, escolas, hospitais, bibliotecas, etc.; (iii) Concessão, por parte do Estado, de empréstimos para reforma, construção e compra de imóveis residenciais; de empréstimos a instituições financeiras em dificuldades; e de empréstimos a fazendeiros cujas terras haviam sido hipotecadas; (iv) Redução da jornada de trabalho para oito horas para diminuir o desemprego involuntário; (v) Ampliação do salário mínimo para incrementar o poder aquisitivo do trabalhador e para ampliar o mercado consumidor interno; (vi) Aumento dos benefícios da Previdência Social; (viii) Criação do seguro-desemprego; e (ix) Ampliação da autonomia sindical e de sua capacidade de negociação por melhores salários.

 

A década da prosperidade (1919-1929) acabou com a Crise de 1929 em 24 de outubro. O efeito multiplicador da crise nos EUA gerou uma crise cíclica do capitalismo, gerando falência e desemprego. A crise estrutural do capitalismo foi o fim do liberalismo econômico dos clássicos e dos neoclássicos e o início do keynesianismo.

 

O New Deal pode ser dividido em dois períodos. O Primeiro New Deal ocorreu entre 1933 e 1934, com um grande foco em ajudar os bancos, as empresas, a indústria e a agricultura para sobreviver financeiramente e para impulsionar a economia norte-americana. Já o Segundo New Deal ocorreu entre 1935 e 1936, concentrou-se mais em ajudar o povo americano, através do programa de alívio intitulado Works Progress Administration - WPA (Administração de Progresso de Obras), ou seja, a maior agência estatal nos EUA no New Deal, empregando milhões de desempregados americanos para realizar projetos de obras públicas em todo o país.

 

Os três Rs do New Deal serão impostos por Roosevelt: Relief, Recovery and Reform (Alívio, Recuperação e Reforma) para recuperar a economia dos EUA. O presidente Roosevelt cria a NRA, uma agência de Administração de Recuperação Nacional para ajudar os milhões de desempregados a conseguirem uma nova colocação nas frentes de trabalho, para que pudessem receber pelo trabalho prestado. O New Deal gerou mais de oito milhões de empregos nos 50 estados americanos.

 

Sair da crise econômica e obter pleno emprego requer um aumento da demanda agregada. Os gastos governamentais de Roosevelt no New Deal foram fundamentais para recuperar significativamente a economia americana, por exemplo, a conclusão da Repressa Hoover (Hoover Dam) em 1936, no rio Colorado, Roosevelt gastou enorme soma de dólares, assim conseguiu pôr a locomotiva da economia de volta aos trilhos, da recuperação em direção à prosperidade.

 

A demanda agregada de Keynes, formada por cinco variáveis macroeconômicas, pela demanda de bens de consumo (C) das famílias, pela demanda de bens de investimento (I) das empresas, pela demanda do governo, através dos gastos públicos (G) e pela demanda dos mercados internacionais, através das exportações (X) menos importações (M). O resto do mundo é o setor externo numa economia aberta. A fórmula da demanda agregada numa economia aberta é DA=C+I+G+(X-M).

 

O desemprego e a inflação são os dois principais problemas das economias capitalistas. Desemprego se produz pela insuficiência na demanda agregada, isto é, uma inundação de bens sem consumidores. Inflação se produz pelo excesso na demanda agregada, ou seja, a escassez de bens com elevado número de consumidores.

 

Keynes identifica que o desemprego se traduz por insuficiência na demanda agregada. Para aumentar a demanda agregada e combater o desemprego é necessário estimular o consumo das famílias baixando os impostos, estimular o investimento das empresas baixando a taxa de juros, estimular os gastos púbicos com obras públicas, além de estimular as exportações por desvalorização cambial, o que corresponde a um aumento na taxa de câmbio, com o dólar americano subindo.

 

9. O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL

 

É interessante notar que ocorreu uma forte intervenção do Estado na economia norte-americana. O Estado deve intervir forte, deve interferir na economia de mercado e garantir serviços sociais básicos. Portanto, era o abandono do pensamento do liberalismo econômico, oriundo do economista e filósofo escocês Adam Smith no século XVIII. Era o fim do laissez-faire e o início do Welfare State.

 

Há 83 anos, Keynes pregava o Estado regulador e investidor para a manutenção do pleno emprego no curto prazo e para ampliação do Estado do Bem-Estar (Welfare State). Em magnum opus intitulada The General Theory of Employment, Interest and Money (A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda), o Professor Keynes (1983, p.259) escreveu esse trecho famoso:

 

(...) as ideias dos economistas e dos filósofos políticos, estejam elas certas ou erradas, têm mais importância do que geralmente se percebe. De fato, o mundo é governado por pouco mais que isso. Os homens objetivos que se julgam livres de qualquer influência intelectual, são, em geral, escravos de algum economista defunto. Os insensatos, que ocupam posições de autoridade, que ouvem vozes do ar, destilam seus arrebatamentos inspirados em algum escriba acadêmico de certos anos atrás.

 

O surgimento do Estado de Bem-Estar Social para garantir o padrão de vida da população e evitar novas críticas ao sistema capitalista, mas não pregava a estatização das terras, das indústrias e das empresas privadas americanas, mas um forte aumento na demanda agregada dos EUA.

 

Claro que se deve sempre reconhecer que o economista inglês John Maynard Keynes é o Pai da Macroeconomia moderna, o maior economista do século XX e foi um dos economistas mais influentes dos séculos XX e XXI. A obra prima de Keynes intitulada A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda foi publicada pela primeira vez em 14 de fevereiro de 1936, 160 anos depois de The Wealth of Nations (A Riqueza das Nações) de Adam Smith (1723-1790), o Pai da Economia moderna.

 

Com Keynes é o fim do automático e livre funcionamento da economia capitalista, assim tudo começou e mudou quando ele expôs:

 

Denominei este livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, dando especial ênfase ao termo geral. O objetivo deste título é contrastar a natureza de meus argumentos e conclusões com os da teoria clássica, na qual me formei, que domina o pensamento econômico, tanto prático quanto teórico, dos meios acadêmicos e dirigentes desta geração, tal como vem acontecendo nos últimos cem anos (Keynes, 1983, p.15).

 

Para Keynes, uma das vozes mais críticas ao liberalismo econômico, é particularmente relevante entender como a crise acontece e, sobretudo, porque foi uma verdadeira catástrofe econômica, a Crise de 1929. Em 1931, 2.294 bancos faliram nos EUA. Keynes dizia que, quando uma crise começa, o Estado deve responder a ela, impedindo-a, e não simplesmente deixar o sistema econômico ruir, não existe um sistema automático. Esse é o ponto fundamental no pensamento revolucionário de Keynes, em outras palavras, é preciso à intervenção do Estado na economia.

 

Keynes não previu o Crash da Bolsa de Valores de Nova York nem tão pouco a Grande Depressão. Mas, na biblioteca da Universidade de Cambridge, Keynes estudou muito, estudou com afinco os economistas clássicos e neoclássicos, além do cenário econômico e percebeu que a economia capitalista pode afundar, e em seguida, não flutua de volta automaticamente.

 

Então, brilhantemente, Keynes sugeriu enormes gastos públicos na economia capitalista em depressão para se recuperar. Keynes rejeitava enfaticamente o socialismo. Em outras palavras, Keynes era a favor da forte intervenção do Estado na economia de mercado, com a queda da taxa de juros, o corte nos impostos e o aumento dos gastos governamentais, para alimentar o espírito animal (animal spirits) dos empresários. Keynes descreveu as emoções que influenciam o comportamento humano e podem ser medidas em termos de confiança do empresário, além do consumidor.

 

A falta de confiança do consumidor afeta especialmente o consumo e a falta de confiança do empresário afeta especialmente o investimento. Portanto, precisamos despertar o nosso espírito animal, termo usado por Keynes que está relacionado a confiança, ou seja, como um impulso espontâneo para a ação, ao invés da inação.

 

O economista britânico Keynes ressaltou o papel do Governo na política fiscal expansionista para mitigar os efeitos perversos do ciclo econômico e das falhas de mercado. Keynes criticou o desemprego voluntário, o laissez-faire e a Lei de Say dos economistas clássicos e neoclássicos. É errado defender que "a oferta cria sua própria demanda", para Keynes "a demanda motiva a oferta". Conforme Maia (2008, p.210), "Segundo Paul Krugman, foi a economia keynesiana que permitiu ao capitalismo, como sistema, sobreviver à Grande Depressão". A grande depressão americana foi muito avassaladora e abalou o sistema capitalista, ressaltando que na época não havia uma regulamentação estatal sobre a venda e a compra de ações das empresas americanas.

 

De acordo com o economista norte-americano Rifkin (1995, p.31), no livro O Fim dos Empregos:

 

A Lei de Recuperação da Indústria Nacional (NIRA), de 1933, fazia o país assumir o compromisso de empregar milhões de trabalhadores num programa de expansão de obras públicas. Apresentando o novo programa ao povo americano, Roosevelt deixou claro que "nosso principal objetivo é criar empregos tão rapidamente quando pudermos".

 

Com a diminuição da procura de bens e serviços, ocorreu à falência das empresas e os empresários demitem os trabalhadores, porque venderam menos bens e serviços aos consumidores, gerando desemprego involuntário, consequentemente, com menos confiança os empresários não investiram na economia, para comprar matérias-primas e máquinas, portanto, os empregos não foram gerados, provocando a diminuição do poder de compra das famílias, logo, sem dinheiro no bolso os consumidores não demandam bens nem serviços, enfim, gerou um círculo vicioso da crise, provocando a pobreza e a fome. Portanto, é preciso políticas públicas voltadas ao Estado de Bem-Estar Social.

 

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Ao concluir este artigo, algumas considerações puderam ser extraídas das análises das principais causas e consequências da Crise de 1929, que começou na Bolsa de Valores de Nova York, na Wall Street, situada em Manhattan, nos EUA: (i) Taxa de desemprego foi, em média, de 15,5% da população economicamente ativa (PEA); (ii) Queda do PIB de US$ 104 bilhões em 1929 para US$ 56 bilhões em 1933; (iii) A produção industrial caiu 54% e de automóveis diminuiu 50%; (iv) Elevados estoques agrícolas e industriais em todo o país; (v) Número muito alto de suicídios, devido a perca de muito dinheiro no mercado de ações (stock market); e (vi) 50% da população vivia abaixo da linha da pobreza, e a maioria, eram mulheres e crianças sobrevivendo nas hoovervilles (leia-se favelas).

 

É importante enfatizar que a maior crise do capitalismo começou em 24 de outubro de 1929, nos EUA, o centro econômico do mundo, afetando os países vizinhos, o Canadá e o México, e atravessou o Oceano Atlântico, contaminando os países europeus como a Inglaterra, a França, a Alemanha, a Itália, exceto, a URSS, que manteve seu crescimento econômico. A Crise de 1929 abalou profundamente a economia mundial e o Brasil sofreu diretamente os seus perversos efeitos.

 

A superação da Grande Depressão dos anos 30 se dará com o surgimento do New Deal, o maior legado do presidente Franklin Delano Roosevelt, que governou os EUA, a maior potência industrial do planeta, entre 1933 e 1945, e posteriormente, com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

 

Com 90 anos, a Crise de 1929 é a crise econômica global (global economic crisis) mais estudada de todos os tempos e mais debatida nas escolas e faculdades, localizadas nos EUA, Canadá, Brasil, Argentina, México, Espanha, Portugal, Índia, Nova Zelândia, entre outros países nos cinco continentes.

 

Em suma, foram seis dias em outubro de 1929 que mudaram os rumos do capitalismo há nove décadas. No aniversário de 90 anos da Crise de 1929, este artigo incentiva uma reflexão crítica sobre a Grande Depressão dos anos 30 e, sobretudo, ressaltar as antigas e novas lições econômicas, porque a guerra comercial entre os EUA e a China, as duas maiores economias do mundo na atualidade, provavelmente poderá provocar uma recessão global no ano de 2020.

  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

CAMPOS, Flavio de; MIRANDA, Renan Garcia. A escrita da História. 1ª. ed. São Paulo: Escala Educacional, 2005.

GALBRAITH, John Kenneth. The Great Crash 1929. New York: Mariner Books, 2009.

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX, 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

HUNT, E. K. História do Pensamento Econômico: uma perspectiva crítica. 2ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

KEYNES, John Maynard. A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. Os Economistas. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

LEITE, José Alfredo Américo. Macroeconomia: teoria, modelos e instrumentos de política econômica. 2ª. ed. rev. e ampliada. São Paulo: Atlas, 2000.

MAIA, Jayme de Mariz. Economia Internacional e Comércio Exterior. 12ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.

RIFKIN, Jeremy. O Fim dos Empregos. São Paulo: Makron Books, 1995.

ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 19ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2002.

SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia do século XXI. São Paulo: Record, 2008.

 

Paulo Galvão Júnior é economista brasileiro, professor de Economia e de Economia Brasileira do IESP Centro Universitário (Cabedelo-PB), autor de 13 eBooks de Economia, autor e coautor de 204 artigos de Economia, e eleito o Economista do Ano 2019 na Paraíba pelo CORECON-PB.

Foto: Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=34091716

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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