Protestos e repressão: Morre o neoliberalismo na América Latina?

Protestos e repressão: Morre o neoliberalismo na América Latina?

 

Havana, 21 out (Prensa Latina) Equador, Haiti, Chile e Argentina, vivem momentos qualificados por muitos de pesadelo, ante a crescente onda de protestos reprimidos pelas forças de segurança de cada um dos governos.

 

A maioria das manifestações, às quais as autoridades locais lhes adjudicaram responsáveis externos, têm um fio condutor: o fastio do povo às receitas econômicas impostas desde a doutrina neoliberal.



No Equador, há menos de duas semanas, a população, encabeçada pelos povos originários, saiu às ruas para exigir a derrogação do Decreto 883, que eliminou o subsídio à gasolina extra e o diesel e que fazia parte de um pacote de medidas.



As manifestações estoiraram em Quito e estenderam-se a outras zonas do país, depois do anúncio do governo equatoriano do chamado pacotaço.



Diante da pressão popular, o presidente Lenín Moreno impôs o estado de exceção e recolheu-se à cidade de Guayaquil, antes de chegar a um acordo com comunidades indígenas, principais protagonistas das protesto.



A repressão deixou mortos, feridos, detidos, e depois começou a perseguição a líderes da Revolução Cidadã.



Ainda que desde diversas partes do mundo condenou-se a arremetida da polícia e os militares, o verdadeiro é que sete pessoas perderam a vida, 1.340 foram feridas e 1.152 foram detidas.



Entretanto, ainda estão latentes outras medidas econômicas contidas no 'paquetaço' em virtude de um questionado acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que desmontam os avanços sociais atingido durante o governo de Rafael Correa (2007-2017) e latente também um novo episódio de protesto social.



Chile, este fim de semana viveu as manifestações mais fortes dos últimos 30 anos, com dois toques de recolher, militarização das ruas, tanquetas, chorros de água, balas de borrachas, gases lacrimogêneos, ao estilo da ditadura de Augusto Pinochet.



Os protestos estoiraram pelo incremento da tarifa do bilhete do trem subterrâneo e o sistema de ônibus Transantiago que significava um aumento do 30 por cento no primeiro, mais de um dólar, e 10 por cento para o segundo.



Apesar do toque de recolher, centos de milhares de chilenos mantiveram-se nas ruas, retomaram seu tradicional cacerolaço que se diria se escutou de Iquique a Santiago e de Biobío a Valparaíso.



A deputada do Partido Comunista de Chile Karol Cariola assegurou que o que começou com escolares evadindo o metro, se transformou em uma situação de violência inédita no país graças à incompetência do governo de Sebastián Piñera e seus ministros.



Considerou que o diálogo é possível e necessário, mas sem militares apontando ao povo.

Assim mesmo, Pablo Sepúlveda Além, neto do presidente Salvador Além (1970-1973), assegurou que Chile acordou e que os protestos destes dias são uma rebelião contra o roubo, o abuso e o saque ao povo.



'Entendamos que o inimigo é o sistema neoliberal e quem o sustentam', assegurou o jovem através de sua conta na rede social Twitter.



Sepúlveda Allende explicou que esta revolução social é a resposta a um acumulado de décadas de injustiça, de uma injustiça crônica pelo saque, pelo abuso, pela exploração à maioria do povoo trabalhador.



Chile é uma república privatizada onde tudo tem dono: o água, o mar, o cobre, o litio, expressou ao mesmo tempo em que denunciou o roubo das riquezas pelas multinacionais e os danos ao meio ambiente.



Tanto Moreno como Piñera, tiveram que derogar as medidas econômicas que atacaram o povo, no entanto líderes sociais reconhecem que se trata de uma parcial vitória em suas lutas.



O ator, escritor e diretor de teatro chileno, Alejandro Goic, expressou dirigindo ao mandatário do país que não se trata do Metro.



'É a saúde, a educação, as pensões miseráveis, o preço da luz, da moradia. É o roubo institucional do água. É o roubo nas Forças Armadas, o carerajismo (vulneración) do empresariado, o abuso', enfatizou.



Haiti com suas crises sempiterna, com seu povo vapuleado pela pobreza vive quase nas ruas em protesto. Argentina, o governo de Mauricio Macri, quadruplicou sua dívida externa e todo o peso caiu sobre a gente que vê encercer sua vida. Para o politólogo argentino Atilión Borón, o clima de época tem mudado e não só na América Latina.



Assinalou que as falsas promessas já não são mais críveis e os povos se rebelam: alguns, como em Argentina, desalojando aos porta-vozes neoliberais através do mecanismo eleitoral, e outros tentando com suas enormes mobilizações -Chile, Equador, Haiti, Honduras- pôr fim a um projeto insanavelmente injusto, desumano e predatório.



'É verdadeiro: há um fim de ciclo na região. Mas não como postulavam alguns, o do progressismo senão o do neoliberalismo, que só poderá ser sustentado, e não por muito tempo, a força de brutais repressões', assegurou Borón.



rgh/otf/bj

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Foto: By Arvutistuudio - [1], CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=34704043

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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