Venezuela é hoje o ponto máximo da confrontação anti-imperialista

Venezuela é hoje o ponto máximo da confrontação anti-imperialista

Carlos Aznárez

17 Fevereiro 2018

Não se trata de dramatizar, exagerar ou esboçar conspirações apocalípticas, porém cada uma das peças que o Império está movendo no tabuleiro Latino-americano aponta a estabelecer um cenário de intervenção militar contra a Venezuela bolivariana.

Poderá ser terceirizada ou de forma direta com as falsas desculpas do "humanitarismo", porém a situação adquire cada vez mais gravidade se se leva em conta que toda esta armadura belicista poderia estar orientada a impedir que o Povo chavista volte a proporcionar uma contundente surra eleitoral ao poder oligárquico em abril.

Há múltiplos elementos que coadjuvariam a armar uma iminente cobertura intervencionista, a partir da tomada de decisão do governo estadunidense de apressar a queda do governo ultra legítimo de Nicolás Maduro.

Primeiro, há uns meses o porta-voz foi o vice-presidente Mike Pence, quem percorreu o continente visitando presidentes "amigos" para lhes ordenar apertarem os parafusos do bloco econômico.

Não foi como ele esperava, porém deixou a semente que há poucos dias o chanceler Rex Tillerson intentou voltar a semear.

Desta vez a proposta de aumentar a beligerância contra o "ditador" Maduro foi amplamente comprada por dois esteios da equipe neoliberal mais agressiva.

Tanto Macri [basta apenas observar a foto da cara de enamorado com que olha para Tillerson], como o cachorrinho fraldeiro Santos subiram no porta-aviões made in USA e prometeram ser dos primeiros na investida que Washington decida.

Depois há um acumulado de gestos indicativos do perigo pairando. A saber: as declarações do subsecretário de Estado para a América Latina e o Caribe, Francisco Palmieri, oferecendo ajuda a Colômbia e Brasil devido "à gigantesca e contínua migração venezuelana para ambos territórios".

Palmieri utiliza ali o viés intervencionista "humanitário", o mesmo em que vem insistindo o cadete da CIA, Luis Almagro, ou seu cúmplice peruano Kuzinsky, um dos impulsores dessa máfia presidencial autodenominada Grupo de Lima.

Nessa mesma sintonia Macri deu luz verde para que os estudantes venezuelanos "que venham a Argentina fugindo do caos ditatorial não sofram mais dissabores", e, portanto, diferentemente daqueles que provêm de outros países, se lhes legalizará de imediato sua situação educativa.

A manobra, como se vê, é demonstrar que "a ditadura venezuelana" não dá mais para suportar. Algo muito similar ao que durante anos os EUA intentaram com Cuba e há muito pouco com a "ditadura síria", que se resume na frase: "te torno a vida impossível, obrigo tua gente a emigrar, os recebo com braços abertos e depois te invado humanitariamente".

Para completar, Militarmente também há dados inquietantes: a presença do Comandante do Comando Sul em Colômbia, o movimento de tropas na fronteira amazônica de Brasil e Colômbia, outra vez com a desculpa migratória venezuelana.

O ponto central de confluência destes preparativos é a base móvel brasileira de Tabatinga, que fora inaugurada em novembro passado com os exercícios militares conjuntos de EUA, Brasil, Colômbia e Peru, nos quais foram praticadas simulações de invasão "a um país sob domínio comunista". Como nas velhas épocas.

Na seguidilha intervencionista, depois chegou a vez do embaixador ianque em Bogotá, Kevin Whitaker, quem afirmou que a Venezuela necessita de "uma saída democrática, institucional e rápida".

Em seguida, Santos e Uribe, cada um por seu lado, aplaudiram a oferta e, enquanto o mandatário colombiano assegurava que não reconhecerá as eleições de abril, o paramilitar Uribe jogava mais gasolina ao fogo instando a apressar uma intervenção militar "com o concurso colombiano".

Tudo isto no marco da reocupação territorial de grupos paramilitares colombianos em Cúcuta, em Catatumbo e outros pontos próximos da Venezuela.

Nem o que dizer da recente presença de soldados ianques na zona de Tumaco [a mesma onde no ano passado foram assassinados pelo ESMAD vários campesinos] e a intensa atividade de entrada e saída de homens e equipamentos das nove bases USA em Colômbia.

Com toda precisão o ex-militar e agora analista geoestratégico William Izarra fala que a "Operação Tenazes" segue se fechando e menciona como territórios que poderiam ser utilizados para uma intervenção em grande escala, à parte da Colômbia, a Guiana e as ilhas-colônias holandesas de Aruba, Bonaire e Curaçau, todos eles lugares onde os militares norte-americanos passeiam como se estivessem em casa.

Assim as coisas, e com Trump ladrando, o mais lógico é que no plano interno se cerrem fileiras. Frente à esperada retirada da oposição da mesa de negociações de Dominicana, cumprindo uma ordem de seus amos imperiais, e o aumento da escalada de bloqueio e guerra econômica imposta por Washington, seus acólitos latino-americanos e a União Europeia, se impõe que o Povo venezuelano se prepare para repetir a proeza vitoriosa de 31 de julho passado.

Sem uma só dúvida, todos e todas convencidos de que em abril chega a segunda parte da mãe de todas as batalhas e que, diferentemente da encarada pelos EUA para massacrar ao povo iraquiano em 1991, esta será para ratificar uma vez mais que a Revolução é necessária não só para assegurar a Paz na Venezuela como também para atiçar o fogo da rebeldia continental e mundial.

Não, esta não será mais uma eleição de todas as que o chavismo ganhou, senão que, respaldando unitariamente a Maduro, se pode aplicar um soberano pontapé no traseiro daqueles que estão intentando que nossos Povos, todos eles, regressem à Idade Média.

Agora bem, se por obra da impunidade da qual se vangloriam Trump, Rajoy, Macri e Santos se animarem a promover planos e decidirem lançar direta ou indiretamente uma escalada miliar, antes ou depois das eleições, no plano local venezuelano não cabem dúvidas de que, como assinalara Diosdado Cabello, sobre uma invasão disfarçada de ajuda humanitária:

"É provável que vocês entrem, porém vamos ver como vão sair".

E no cenário continental haverá chegado a hora de "fazer arder a pradaria" [*]. Não são tempos de grandes discursos e prometer Solidariedades por rotina já que na Venezuela se joga por décadas a sorte de Nuestra América e do Socialismo.

Se se é fiel ao legado insurgente de Hugo Chávez, haverá que demonstrá-lo, com as ideias, com o coração e jogando o corpo como fez o comandante Eterno.

 
Nota: 
(*) A frase "Uma só chispa pode incendiar a pradaria" é um Provérbio chinês, que foi usado por Mao Tsé-tung, a 5 de janeiro de 1930, numa carta escrita para criticar certas ideias pessimistas que existiam naquele tempo dentro do Partido Comunista Chinês e que textualmente diz:

"...Veremos que inevitavelmente e muito em breve surgirá o auge da Revolução dirigida contra os imperialistas, os caudilhos militares e os terra-tenentes. Toda China está cheia de lenha seca, que arderá logo numa grande labareda. O provérbio "Uma só chispa pode incendiar a pradaria" é uma descrição apropriada de como se desenvolverá a situação atual. Basta lançar um olhar para as greves operárias, as insurreições campesinas, os motins de soldados e as greves estudantis para se dar conta de que essa "única chispa", sem dúvida alguma, não tardará em "incendiar a pradaria"...".

Tradução > Joaquim Lisboa Neto

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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