Os Iranianos na América Latina

Na volta que começou desde domingo passado, o chefe da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif, visitou seis nações latino-americanas, reacendeu debates sobre a presença do Irã na América Latina.

Também sobre as relações que tiveram a República Islâmica do Irã durante quase quatro décadas que tem passado da Revolução Islâmica de 1979.

O simples fato da presença do Irã nesta região do mundo e as posições assumidas pelos atores regionais e internacionais sobre esta presença merecem uma análise não pode ignorar um olhar para as relações entre o Irã e a América Latina em tempos anteriores para vitória da Revolução islâmica do Irã.

Antes do triunfo da Revolução Islâmica de 1979

Antes do estabelecimento do atual sistema político no Irã, a América Latina não formava parte das prioridades da política externa do país, totalmente focada em manter relações com o governo dos EUA que transformou o país no maior aliado dos Yankies  no Oriente Médio e de alguma forma em seu "Gendarme" na região.  Assim, durante as últimas décadas da revolução islâmica, os laços com a América Latina foram limitados às relações comerciais puramente protocolares ou em alguns casos, a importação de alimentos para alguns países da região. Na verdade, o primeiro contato diplomático entre o Irã e a América Latina teve lugar em o início do século XX, com a viagem que fez, particularmente em 1902, o então embaixador iraniano em Washington para países latino-americanos onde assinaram o Tratado de Amizade e Comércio com o México, Brasil, Argentina, Uruguai e Chile. Com a instalação da ditadura do Xá Mohammad Reza Pahlavi no Irã com o apoio dos norte-americanos, as relações com a América Latina avançaram, inclusive a abertura das embaixadas em alguns deles, mas tendo em conta a afinidade política entre os governos do Irã, EUA e latino-americanos, neste momento, as relações entre o Irã e a região são definidas no clima da era da Guerra Fria, ou seja; oposição à União Soviética e do comunismo. Na verdade o Irã, que tinha estabelecido relações diplomáticas com Cuba em 1974, cortou após dois anos as relações com Havana já que a autoridade de Cuba havia reunido em Moscou com partidos que se opuseram ao Xá do Irã. Nesse período, as relações com a Venezuela também destacavam porque os dois países chegaram a fundar, com o apoio da Arábia Saudita, Kuwait e o Iraque, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) em 1960 e até Caracas recebeu o então Xá do Irã em uma visita oficial.

Depois do triunfo da Revolução;

Com a vitória da revolução islâmica no Irã e a mudança total das políticas do país, com foco na luta contra a abusiva influência dos gringosem todo o território nacional, houve alguns altos e baixos nas relações com a América Latina. Países como o México, cujo governo naquela época estava sob a influência dos norte-americanos unilateralmente rompeu as suas relações com o Irã, apoiando Washington e a Teerã fez o mesmo com o governo de Pinochet no Chile em protesto às matanças daquele ditador. No entanto, a afinidade política entre o Irã revolucionário e Cuba em seus ideais de anti-imperialismo levou à restauração das relações diplomáticas entre Teerã e Havana.

Desde os primeiros dias de sua fundação, o novo sistema político do Irã sentia, tendo em vista os problemas que estavam causando-lhe por Washington, a necessidade de desenvolver relações amistosas com todas as regiões e nações do mundo e a América Latina desde então ocupava uma posição destacada na política externa do Irã. Em busca dessas relações amigáveis, justas e mutuamente benéficas procedeu-se à abertura das Embaixadas no Uruguai, Cuba, Nicarágua e Colômbia e, de facto, foi um salto nas importações do Irã de países como o Brasil, Argentina e Uruguai.

Relações com a Venezuela; a nova era das relações.

Irã tinha relações com os países latino-americanos desde o início do século passado e as se manteve após o triunfo da Revolução Islâmica em 1979. Mas o que verdadeiramente chama a atenção do mundo sobre a presença do Irã na América Latina começou com a chegada ao poder o presidente Hugo Chávez na Venezuela. Logicamente analisar bem, as relações entre Irã e Venezuela pode contribuir para uma melhor compreensão da situação atual das relações entre o Irã e América Latina.

Em 1949, a Venezuela iniciou uma série de atividades e iniciativas diplomáticas, aproximando-se aos países produtores de petróleo, ou seja, Iraque, Kuwait, Irã e Arábia Saudita, para criar em conjunto à OPEP, um fato que se torna em realidade em setembro 1960, com a participação inicial destes 5 países. Desde aquele momento no marco das atividades da nova organização, Venezuela desenvolve a sua relação com esses países para aproveitar os benefícios que trariam as decisões unânimes dos países produtores de petróleo, no momento da fixação das quotas de produção a serem oferecidos ao mercado global em busca de obter melhores preços para o petróleo bruto.

O estabelecimento de relações diplomáticas entre Venezuela e Irã, como fundadores da OPEP, se deve à criação do organismo internacional, fez terminando, alguns anos mais tarde, na abertura de missões diplomáticas de ambos os países em Caracas e Teerã.

Estas relações foram marcadas, nas últimas três décadas do século XX, pela necessidade de coordenação no momento da adoção de políticas relacionadas com o funcionamento da OPEP. Uma visita de então deposto Xá do Irã à Venezuela e um dos ex-presidente Carlos Andres Perez ao Irã, um antes e outra depois da vitória da Revolução Islâmica, conformam as únicas visitas de chefes de Estado que se trocaram entre os dois países no período citado.

A chegada ao poder em 1999, de Chávez na Venezuela e os slogans que ele iria gritar em pro de causas "anti-imperialistas" deu origem a uma presença marcante no país para à nação iraniana com visões muito além da coordenação económica simples dentro da OPEP. A primeira visita feita em 2001 do presidente Chávez ao Irã, e mais tarde para outros países da região, em busca de uma saída para a situação confusa da OPEP e conversas que ele realizou com o seu homólogo iraniano, bem como a três visitas do presidente reformista do então do Irã, durante a cimeira da OPEP, G15 e bilaterais, consolidaram a base política das relações que poucos anos mais tarde chegaram a atingir o seu pico com a assinatura de centenas de documentos de cooperação e a realização de dezenas de projetos conjuntos industriais e económicas, relações que se tornaram classificados como "estratégica" entre os dois países, fez verificável simplesmente a recordar a mais de vinte visitas trocadas entre Irã e Venezuela, desde 2001 até à data, ao nível dos presidentes da República.

O novo capítulo nas relações com nações latino-americanas

Mais tarde, as boas relações entre Teerã e Caracas caracterizaram com a realização de projetos industriais, agrícolas e comerciais entre os dois países, e o surgimento de líderes aliados às ideias independistas, mesmo anti-imperialistas nos países como Bolívia, Nicarágua e Equador que deram subir a um novo capítulo das relações entre o Irã e os países latino-americanos. As visitas feitas pelo ex-presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad à Bolívia, Equador e Nicarágua são consideradas, exceto os últimos, frutos diretos da relação entre Caracas e Teerã. No mesmo contexto, tentou tomar projetos comuns entre Irã e Venezuela para esses países, bem como, de fato, foram exportados alguns equipes construídos no âmbito dessas relações a Bolívia e Nicarágua.

A reação da Administração dos EUA

A reação dos EUA logo chegou. A administração norte-americana exercia tanto durante governo de George W. Bush como durante o atual mandato do presidente Barack Obama, muita pressão a estes países para que deixassem o aprofundamento das relações com o Irã, mas o que não foi explicado por que tal posição já que os projetos desenvolvidos Irã e Venezuela não representava uma ameaça a ninguém e só procurava o bem-estar dos povos. A instalação de uma fábrica de tratores, a construção de uma fábrica de cimento, instalação de fábricas de processamento de laticínios e alimentos, bem como a construção de dezenas de milhares de casas são alguns referencias sobre as relações económicas que se desenvolveram entre a Caracas e Teerã na última década e tentaram levá-los para outros países, tendo em conta as suas necessidades. Equador, Bolívia e Nicarágua têm sido sempre interessados em ter o apoio do Irã para desenvolver setores como energia, agricultura e mineração e para isto ter contado com a disposição de Teerã que inclusive tinham oferecido à transferência de tecnologia em todos os seus projetos. Além disso, o Irã continua a importar alimentos de diferentes países da América Latina e tendo em vista a sua boa localização geográfica podia se tornar um centro de distribuição de alimentos e de produtos provenientes de países latino-americanos no Oriente Médio. Cabe destacar que o Irã tem 80 milhões de pessoas e a população dos países que o rodeiam -e muitas vezes procuram satisfazer suas necessidades no mercado iraniano- atinge cerca de 400 milhões de pessoas.

Tendo em vista o exposto mencionado e as vantagens que ofereceram sempre as soberanas relações entre as nações latino-americanas e Irã cabe perguntar por que estão preocupados com esta situação os EUA. A única coisa que pode explicar esse "medo" dos norte-americanos é a vontade de que o êxito de um Irã soberano e independente -que tem desenvolvido todos os setores da sua economia desde a dissolução do império- não chegasse ao visto em alguns países que durante últimos séculos sofreriam seus retirados investimentos sem que isto haja este terminado em benefício do povo. A demonização do Irã, as acusações contra atividades tecnológicas do país ou mesmo reconhecer, vergonhosamente e sem fundamento, Irã e Venezuela de buscar objetivos militares por trás suas relações económicas formam parte desta intencionada atividade mediática e política do governo dos EUA.

A visão do atual governo iraniano para a América Latina

E, por ultimo, tem que entrar um pouco na posição do atual governo do Irã sobre as relações com a América Latina. O atual governo iraniano chegou ao poder após as eleições do ano 2013, com a promessa de resolver a questão nuclear e ao levantamento do embargo injusto imposto ao país pelos EUA e seus aliados. Na verdade, as sanções e embargos sendo impostas ao país sob o pretexto do programa nuclear dificultavam o desenvolvimento harmonioso das relações contratuais com outros países. Com a conclusão do acordo nuclear em julho de 2015 e sua implementação em janeiro de 2016, o atual governo tem reconstruído e aprofundado as relações amistosas com todos os países do mundo; daí a recente vista do iraniano ministro dos Negócios Estrangeiros à África e sua atual visita a vários países da América Latina. É interessante notar que, apesar de que a linha política do atual governo, no que diz respeito à administração do país, diferente das anteriores, mas os princípios como a política externa e promover relações com todas as nações do mundo com base no respeito mútuo e interesses gerais estão entrincheirados na estrutura do sistema político do país. Assim, enquanto a visita do chanceler iraniano a América Latina poderia ter feito até mesmo um pouco mais cedo, sem dúvida, o governo iraniano entende a importância desta região, respeita todas as suas nações e pretende estabelecer relações mutuamente benéficas com eles. Relacionamentos que não tenham deixado de fora qualquer país, a prova dele é a visita do ministro adjunto do Exterior iraniano anteriormente feito aos países semelhantes como México e Colômbia e a visita atual do mesmo ministro dos Negócios Estrangeiros do Irã ao Chile.

Escrito por: Mohammad Mohammadi Ghasem

in

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
X