Comércio exterior cresce, apesar de tudo

SÃO PAULO - Apesar da crise de confiança transmitida pelos resultados até agora obtidos pelas investigações da operação Lava-jato, há indicativos de que o País está na iminência de passar por um novo processo de retomada no crescimento de sua economia. É claro que, se toda essa macrocorrupção estabelecida pelos desmandos ocorridos durante os 13 anos e meio de lulopetismo, a exemplo de tantos ocorridos em outras épocas, estivesse ainda debaixo dos panos, os indicadores conjunturais seriam melhores. Mas, um dia, fatalmente, o Brasil teria de ser passado a limpo. E, se a Lava-jato continuar a colocar mais corruptos na prisão, com certeza, a longo prazo, o País sairá ganhando.

Milton Lourenço (*)

            Um desses indicativos favoráveis é o crescimento de 11,24% registrado pelas exportações de produtos brasileiros para os países árabes no período de janeiro a maio, comparado com os primeiros cinco meses de 2016. Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) compilados pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, as receitas com os embarques para a região totalizaram US$ 4,84 bilhões no período.

            É de se ressaltar que a Arábia Saudita foi o principal comprador da região, respondendo por US$ 1,19 bilhão do faturamento com as exportações, 15,5% a mais do que em janeiro a maio doe 2016. Depois, vêm os Emirados Árabes Unidos, com US$ 850,4 milhões e crescimento de 11,2%, e a Argélia, com US$ 524,23 milhões e alta de 26,9%.

            Outro indicativo da tendência de recuperação do comércio exterior brasileiro são as exportações de calçados, que em maio chegaram a mais de 9,5 milhões de pares e US$ 103 milhões, números superiores tanto em volume (13,6%) quanto em receita (44%) na relação com igual mês de 2016. Entre janeiro a maio, os calçadistas embarcaram 49 milhões de pares, gerando uma receita de US$ 441,4 milhões, valor 20% superior ao registrado no mesmo período de 2016. Em volume, o aumento foi de 1,1%.

            Já as exportações de máquinas e equipamentos registraram crescimento de 12,3% em maio comparativamente com o mês de abril e totalizaram US$ 705 milhões. No acumulado do ano, as exportações apresentaram um crescimento de 1,1, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

            Portanto, mesmo em época de crise, não se pode deixar de reconhecer que o comércio exterior começa a reagir, depois de sofrer as conseqüências de uma política externa que, a partir de 2003, colocou o País à margem do mundo. Nesse longo período, o governo brasileiro trabalhou nos bastidores para o fracasso da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca), sob o argumento risível de que o organismo só iria atender aos interesses dos EUA, e sequer conseguiu consolidar o Mercosul. Tampouco assinou qualquer acordo de livre-comércio relevante.

            Depois de tanto tempo perdido, em que muitos recursos foram malbaratados, investimentos malogrados e empregos destruídos, parece que o País começa a ensaiar uma reação. Embora em termos de corrente comercial o Brasil continue perdendo espaço no cenário mundial, o que se espera é que esses primeiros sinais não sejam reflexos isolados.

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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: [email protected]. Site: www.fiorde.com.br

 

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