Correção de rumo

Milton Lourenço (*)

SÃO PAULO – Aquilo de que se desconfiava, afinal, está confirmado pelos números divulgados pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi): só nos três primeiros meses deste ano os fabricantes de produtos mais sofisticados, como eletrônicos, remédios, químicos, carros e máquinas, acumularam um déficit recorde de US$ 13,6 bilhões. E que só não se refletiu de maneira intensa na balança comercial porque as commodities garantiram um saldo pequeno.

Em outras palavras: se não houver uma correção de rumo nos próximos meses pelo atual governo ou pelo que assumirá em janeiro de 2011, o parque industrial brasileiro corre o sério risco de desaparecer. E o Brasil de se transformar novamente em reles fornecedor de matéria-prima para os países industrializados, vítima de um processo que se pode chamar de neocolonização.

Segundo os números do Iedi, o déficit do primeiro trimestre de 2010 da indústria de média e alta tecnologia é 42% mais alto que o do primeiro trimestre de 2009, ou seja, é de US$ 13,6 bilhões, superior ao de todo o ano de 2006, que foi de US$ 12,7 bilhões. E observem que a conta não inclui processos industriais, como alimentos, combustíveis ou celulose; caso contrário, os números seriam ainda mais alarmantes.

Com o câmbio valorizado e o real mais forte, as indústrias brasileiras estão substituindo os insumos nacionais por importados. É o caso de fabricantes de automóveis, eletrônicos e cosméticos que, se ainda insistem em colocar no mercado produtos made in Brazil, cada vez mais recorrem a insumos importados. E o fazem porque a opção compensa.

Sem contar que o brasileiro ainda tem entronizado no seu subconsciente que o que é importado é melhor. E isso se reflete no comportamento que se nota neste momento da economia nacional: com o aumento da renda e certa facilidade de crédito, muitas famílias estão realizando o sonho do carro importado. E não só do carro, mas do equipamento eletrônico e até do cosmético.

Nada contra as importações; pelo contrário, tudo isso faz parte do jogo. E um país que se quer mostrar a caminho do desenvolvimento não pode cercear a liberdade daqueles que querem realizar o sonho do produto importado. E muito menos fechar o seu mercado porque a retaliação é certa. Mas o que não se pode admitir é que as autoridades deixem o parque industrial nacional ir ao sucateamento e mesmo ao desaparecimento sem esboçar nenhuma reação. Como se quisessem que o Brasil virasse uma neocolônia.

De fato, se tivessem a preocupação de evitar o declínio da indústria nacional, já teriam se mirado no exemplo da China, que oferece ao seu fabricante carga tributária baixa, previsibilidade de câmbio e, mais importante, incentivos para que haja investimento em tecnologia que, a rigor, é o fator que garante competitividade ao produto.

Infelizmente, não foi isso o que se viu nos últimos anos. Pelo contrário. O número de servidores públicos subiu de 598.500 em 2002 para 670.800 em 2008, no rastro do aumento do número de ministérios e secretarias. Isso significa que o governo precisa aumentar cada vez mais a carga tributária das pessoas físicas e das empresas para fazer frente às enormes despesas que cria com pessoal – na maioria, apaniguados de políticos e sem qualquer competência técnica.

A orgia com os recursos públicos é tanta que, hoje, o Palácio do Planalto tem mais servidores que a Casa Branca, sede da maior nação do mundo – são 3.400 em Brasília contra 1.800 em Washington. É preciso dizer mais?

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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: [email protected] Site: www.fiorde.com.br

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